Márcio Coimbra na Crusoé: A jogada do dragão chinês
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Márcio Coimbra na Crusoé: A jogada do dragão chinês

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Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 05.01.2025 09:54 comentários
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Márcio Coimbra na Crusoé: A jogada do dragão chinês

O Brics se tornou um exército de peões sob uma liderança oriental que deseja rever as bases da estabilidade construída no pós-Guerra

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Márcio Coimbra na Crusoé: A jogada do dragão chinês
Xi Jinping

No xadrez, a jogada do dragão é considerada uma das aberturas mais agudas, que consiste com avalanches de peões correndo para o mate em lados opostos do tabuleiro.

Já na mesa de jogo da política internacional, o Brics se tornou um exército de peões sob uma liderança oriental que deseja rever as bases da estabilidade construída no pós-Guerra.

Esta é uma realidade que vem tomando contornos definidos na medida em que o bloco passou a ser dominado pela Rússia em parceria com a China e se tornou instrumento para o avanço de suas agendas na esfera exterior.

A constituição de um banco, largamente financiado por Pequim e a ampliação do grupo, agregando países totalitários, autocráticos e autoritários deixa claro que existe uma agenda clara em construção, uma tentativa de redesenho das estruturas de poder que passam longe dos valores defendidos pelas democracias.

Uma nova moeda?

O movimento mais recente passa pela ideia de substituição do dólar como moeda para transações dentro do bloco, algo que interessa chineses e russos por razões óbvias.

A China deseja impor sua hegemonia e padrão para transações comerciais, começando pelo Brics, e a Rússia busca alternativas para facilitar transações financeiras internacionais, diminuindo a dependência de infraestruturas controladas pelo Ocidente.

Afinal, Moscou tem enfrentado sanções nesta área como consequência da violação da soberania de um país independente, desde que optou pela invasão da Ucrânia.

Na última reunião do Brics, Lula afirmou ter chegado a hora de “avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países”.

A paternidade da ideia é brasileira, segundo Sergey Lavrov, ministro russo das Relações Exteriores: “Lula foi o iniciador, na Cúpula do Brics em Joanesburgo, em 2023, da discussão sobre sistemas de pagamento alternativos, um dos temas da presidência russa. Em resposta a essa iniciativa, formalizada na Declaração de Joanesburgo, ministros das finanças e chefes de bancos centrais trabalharam no assunto”.

Ele ainda expressou confiança de que Lula “fará questão de que esse tema seja uma das prioridades de sua presidência”.

Na mais recente reunião do bloco, em Kazan, na Rússia, houve um debate a portas fechadas sobre a criação de uma moeda comum.

Seria um resultado radical do que Putin define como “nova ordem mundial multipolar”.

No encontro, Putin exibiu uma cédula simbólica do Brics que contém as bandeiras dos cinco primeiros integrantes do bloco: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Os debates foram além, com a discussão do desenvolvimento de um sistema de pagamento internacional liderado pelo Brics.

A reação

Por certo, estamos diante de um movimento ousado, que certamente mexerá com as estáveis placas de estabilidade do sistema financeiro internacional, e apesar de muitos considerarem uma simples jogada retórica, há real intenção de realizar este movimento.

Este ensaio realizado pelo Brics reacendeu os sinais de alerta em grande parte das democracias, onde estão incluídos a Europa e os Estados Unidos.

O alerta mais intenso veio de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, que reagiu de forma incisiva: “A ideia de que os países do Brics estão tentando se afastar do dólar enquanto nós ficamos parados e assistimos acabou. Exigimos um compromisso desses países de que eles não criarão uma nova moeda do Brics, nem apoiarão nenhuma outra moeda para substituir o poderoso dólar americano ou enfrentarão tarifas de 100% e devem esperar dizer adeus à venda para a maravilhosa economia dos EUA. Eles podem ir encontrar outro ‘otário!’. Não há chance de que os Brics substituam o dólar americano no comércio internacional, e qualquer país que tente, deve acenar adeus à América”.

É uma mudança de postura radical do governo americano, que vinha acompanhando esses movimentos à distância, mas que resolveu assumir uma postura ativa, na esteira do estilo de Trump.

A China, que enfrenta sérios problemas econômicos, respondeu ao estilo de Xi Jinping, sem confirmar ou negar, deixando espaço para incertezas, dúvidas e interpretações: “O objetivo é realizar o desenvolvimento e a prosperidade comuns. A China está pronta para continuar trabalhando com os parceiros do Brics para aprofundar a cooperação prática em vários campos e contribuir mais para o crescimento sustentado e constante da economia mundial”.

A China, que já está lidando com uma grave crise imobiliária, gastos fracos do consumidor e uma crescente dependência de exportações, como reação aos primeiros movimentos de Trump, aprovou um pacote de resgate substancial, uma contramedida para estabilizar a economia, com foco no refinanciamento da dívida e no reforço de projetos de infraestrutura.

Como se não fosse o bastante, foi além, passando a oferecer tarifa zero em todos os produtos de países menos desenvolvidos a partir de dezembro de 2024.

A medida vale para países com renda per capita bruta inferior a 1.018 dólares.

Essa política deve servir a pouco mais de 30 países africanos, mantendo estas nações sob sua área de influência.

O verdadeiro jogo

O jogo da China, apoiado pela Rússia, usando o Brics como ferramenta, é substituir as bases do concerto internacional, recriando mecanismos capazes de serem conduzidos por Pequim em uma nova ordem de forças.

Substituir o dólar nas transações internacionais faz parte desse movimento, assim como sinodependência econômica, e influência exercida como resultado da Nova Rota da Seda.

O jogo multipolar vendido pelos chineses na verdade é apenas uma estratégia do movimento de surgimento e consolidação de uma nova potência hegemômica, com novas regras, modelos e dinâmicas, onde as democracias sucumbem diante de modelos autoritários e autocráticos.

Uma nova moeda…

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