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Luc Ferry e Michel Onfray contra extrema esquerda antissemita

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Catarina Rochamonte
5 minutos de leitura 29.06.2024 21:08 comentários
Mundo

Luc Ferry e Michel Onfray contra extrema esquerda antissemita

Luc Ferry e Michel Onfray apontam onde está o grande risco e assinam um manifesto intitulado “O arco republicano contra o antissemitismo”, apelando aos franceses para não votarem “nesta mentira, falaciosa e pseudo ´Nova Frente Popular´”

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Catarina Rochamonte
5 minutos de leitura 29.06.2024 21:08 comentários 5
Luc Ferry e Michel Onfray contra extrema esquerda antissemita
Reprodução

Enquanto a mídia brasileira só fala em ascensão da “extrema direita”, 30 intelectuais franceses de peso, dentre os quais os filósofos Luc Ferry e Michel Onfray apontam onde está o grande risco e assinam um manifesto intitulado “O arco republicano contra o antissemitismo”, denunciando a aliança da esquerda para as atuais eleições legislativas, apelando aos franceses para não votarem “nesta mentira, falaciosa e pseudo ´Nova Frente Popular´”. Segue o manifesto:

A hora é grave! A situação é perigosa! Uma nebulosa político-ideológica que se apropriou fraudulentamente, descaradamente, do belo nome de “Nova Frente Popular” (NFP), distorcendo assim, através dos acentos resolutamente antissemitas de alguns dos seus componentes, a gloriosa história da autêntica Frente Popular, está às portas do poder, se não nos opusermos com determinação durante as eleições legislativas de 30 de junho e 7 de julho de 2024, na França, berço do Iluminismo e sede da Declaração dos Direitos Humanos.

Este caracterizado antissemitismo manifestou-se notavelmente, por vezes com virulência, em partidos do espectro político-ideológico situados na extrema esquerda, como La France insoumise (LFI) e o Novo Partido Anticapitalista (NPA), os quais, durante o abominável pogrom de natureza genocida que os terroristas do Hamas perpetraram no dia 7 de Outubro contra os judeus de Israel, jamais condenaram abertamente este massacre sangrento, chegando mesmo a reputá-lo, para justificá-lo, como a expressão de um “movimento de resistência palestina contra a ocupação israelense”. Pior: alguns destes líderes irresponsáveis, na mesma noite deste crime ignóbil numa escala sem precedentes desde o Holocausto, regozijaram-se, descaradamente, publicamente.

Esqueceram-se, portanto, estes inimigos declarados de Israel, apoiadores de um antissionismo que apenas mascara o seu antissemitismo fundamental, por contradição, por ignorância, que o próprio fundador da histórica Frente Popular, Léon Blum, foi também uma das grandes consciências judaicas do seu tempo, deportado pelos nazis para o campo de concentração de Buchenwald, e por isso fervoroso defensor, sob a liderança do seu fiel amigo Chaim Weizmann, da criação, em 1948, do Estado de Israel (do qual este mesmo Weizmann foi precisamente, a partir de 1949, o primeiro presidente, tendo como Primeiro-Ministro a imensa figura sionista, pai tutelar desta pátria, David Ben-Gurion)?

Assim, nós, os signatários desta petição, homens e mulheres de boa vontade, intelectuais autenticamente republicanos, tanto de esquerda como de direita (se esta divisão ainda tiver alguma relevância conceitual face à urgência desta luta), profundamente apegados a estes princípios universais e valores morais que são a tolerância e o secularismo, a liberdade e a fraternidade – o humanismo, numa palavra – apelamos, para salvar a nossa querida República desta nova praga vermelho-castanha, a não votar nesta mentira, falaciosa e pseudo “Nova Frente Popular”, uma verdadeira impostura em circunstâncias tão trágicas, e mesmo à luz do sentido da História, político-ideológico.

Unicamente a nossa consciência filosófica e moral, aqui abençoada com a força inalienável de um imperativo categórico na sua mais alta e nobre expressão, dita-nos nesta hora crítica, fora de qualquer espírito partidário ou escolha maniqueísta, contra qualquer interesse particular e pelo bem geral: Jamais faremos pacto com antissemitas, nem racistas de qualquer espécie!

Nunca nos aliaremos aos pró-Hamas, cúmplices sanguinários do terrorismo islâmico, nem aos anti-Israel, a única verdadeira democracia nesta região particularmente instável do mundo, e onde demasiados países, teocracias fanáticas de outra época, praticam novamente, inclusive contra qualquer progresso real pela causa das mulheres, a sharia obscurantista.

Nunca trairemos a nossa consciência como humanistas autenticamente democráticos, nem venderemos covardemente os nossos ideais por cálculos medíocres e vis de cozinha de base eleitoral.

Deixamos esta colaboração mortífera aos profissionais indignos do compromisso mais infame.

Sim: a nossa honra, vigilante e inegociável para além das nuances das nossas palavras – incluindo a recusa de nos posicionarmos nos dois extremos do espectro ideológico – está acima de qualquer oportunismo político ou ambição.

Não permitamos, portanto, que a grande e bela história da Frente Popular, tal como a concebeu na origem o admirável Léon Blum, notório pilar da República – enquanto o pior dos fascismos ameaçava a sua própria existência – seja mal utilizada, distorcida ou desviada, de forma tão vergonhosa, escandalosa no plano político-ideológico e desonesta no plano ético-filosófico.

O futuro da nossa democracia, da nossa cultura e da nossa civilização, no âmbito do concerto das nações, está em jogo.”

OS SIGNATÁRIOS

Daniel Salvatore Schiffer: filósofo, escritor, professor de estética e filosofia da arte
Luc-Olivier d’Algange: escritor
Marc Alpozzo: filósofo
Gaëlle Atlan-Akerman: jornalista
Marie-Jo Bonnet: historiadora, feminista
Pascal Bruckner: filósofo
Hassen Chalghoumi: presidente da Conferência dos Imames da França
Élie Chouraqui: cineasta
Victoria Cohen: psicanalista
Emmanuel Dupuy: ensaísta, presidente do Instituto Foresight and Security in Europe (IPSE)
Luc Ferry: filósofo, ex-Ministro da Educação Nacional e Juventude
Renée Fregosi: filósofa, cientista política
Antoine Gallimard: presidente das Édições Gallimard
Dominique Itzkovitch: psicanalista
Alexandre Jardin, escritor
François Kasbi: escritor
Bernard Kouchner: fundador de “Médecins sans Frontières” e “Médecins du monde”, ex-Ministro da Ação Humanitária e dos Negócios Estrangeiros
Nathalie Krikorian-Dronsoy: historiadora, filósofa política
Bérénice Levet: filósofa
Éric Naulleau: escritor
Michel Onfray: filósofo, diretor da revista Front Populaire
Michael Prazan, escritor, bibliotecário
Sabine Prokhoris: filósofa, psicanalista
Robert Redeker: filósofo
Pierre-Yves Rougeyron: ensaísta, cientista político, presidente do “Círculo Aristote”
Boualem Sansal: escritor
Jean-Loup Seban: poeta, medalha de ouro do Renascimento Francês, Grande Prêmio de Poesia da Sociedade dos Poetas Franceses (SPF)
Pierre-André Taguieff: filósofo, historiador das ideias, cientista político, CNRS
Alain Vircondelet: escritor, acadêmico
Olivier Weber: escritor
Jean-Claude Zylberstein: advogado, editor, escritor

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Catarina Rochamonte

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Comentários (5)

Gustavo Nascimento

2024-06-30 15:21:53

Que texto que tradução tão brilhante quanto.. Assinaria de olhos fechados.. a força da boa pena contra cérebros nulos..


Jurandir Santana

2024-06-30 13:18:14

Deveria ser mostrado no fantástico mas a cegueira da imprensa militante não permite


Tereza Maria Sayeg

2024-06-30 10:54:48

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 Defesa de valores extremamente necessária e oportuna nos tempos que correm.


Marcelo Augusto Monteiro Ferraz

2024-06-30 01:33:48

Documento e chamamento oportuno, consistente, relevante e digno de ampla divulgação em todo o mundo!!!! 👏👏👏👏👏👏👏👏


Dorothea Knoch

2024-06-29 21:42:30

É Brasil! Que tal aprender com essa gente o que é verdadeiramente democracia!!!!!!!! Isso é testemunho leal aos princípios democráticos.


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