Líbano: risco de guerra civil após morte de Nasrallah
Assassinato do líder do Hezbollah aumenta divisões internas e provoca temor de escalada de violência no país
A morte de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, mergulhou o Líbano em uma atmosfera de incerteza e tensão crescente.
Sem seu comandante de longa data, o grupo xiita, que há décadas domina o cenário político e militar do país, enfrenta o desafio de se reorganizar em meio ao caos gerado pelo ataque israelense. Mais do que uma perda para o Hezbollah, o assassinato de Nasrallah abre espaço para um possível colapso interno e o risco de uma nova guerra civil no Líbano, segundo matéria do Financial Times.
Nasrallah era uma figura radical, mas sua habilidade em manter a coesão da organização será difícil de ser substituída. A ausência de seu comando deixa o Hezbollah vulnerável a fragmentações e à influência de facções ainda mais radicais dentro de suas fileiras. “Hassan Nasrallah personificava o Hezbollah. Sua morte abre um vácuo que pode ser preenchido por grupos mais extremistas”, disse Rym Momtaz, especialista em política libanesa do think-tank Carnegie Europe ao FT.
A possível ascensão de Hashem Safieddine, primo de Nasrallah e apontado como seu sucessor, é vista com cautela por analistas. Embora Safieddine tenha fortes laços com o Irã, patrono do Hezbollah, ele não possui o carisma e a autoridade de Nasrallah.
Além disso, com Israel intensificando seus ataques e a crise política no Líbano se agravando, sua liderança enfrentará resistência tanto de dentro do Hezbollah quanto de outras facções armadas libanesas, que podem tentar se aproveitar do vácuo de poder.
O assassinato também exacerbou as divisões sectárias no Líbano. Cristãos e sunitas, muitos dos quais criticavam o Hezbollah por seu domínio militar e político, demonstraram abertamente alívio com a morte de Nasrallah. No entanto, esse sentimento só aumenta o risco de novos confrontos com os xiitas, base de apoio do grupo, muitos dos quais estão desabrigados após bombardeios israelenses no sul de Beirute. “Não vejo por que deveríamos ajudar os xiitas agora, depois de tudo o que o Hezbollah fez com o país”, disse Therese, uma cristã da região de Keserwan.
Em meio à crescente tensão, o governo libanês, que há quase dois anos opera com um gabinete interino e sem presidente, tem se mostrado incapaz de conter o clima de instabilidade. Sem uma liderança central forte e com o Hezbollah enfraquecido, o Líbano parece cada vez mais vulnerável à violência interna, o que alimenta o medo de uma nova guerra civil, semelhante à que devastou o país entre 1975 e 1990.
“A morte de Nasrallah pode ser o estopim de uma nova onda de conflitos no Líbano, que já está à beira do colapso econômico”, alerta Momtaz.
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