Jornalista árabe critica proibição de humanizar judeus e israelenses
“O boicote é imperativo ao plano antissemita para erradicar Israel”, diz Hussain Abdul-Hussain, que também confronta a emissora Al-Jazeera
Nascido em Beirute, capital do Líbano, e criado em Bagdá, capital do Iraque, o jornalista Hussain Abdul-Hussain, pesquisador da Fundação de Defesa das Democracias (FDD), criticou no X, na quinta-feira, 30, a narrativa palestina sobre Israel e a proibição de humanizar israelenses e judeus “aos nossos olhos árabes”.
Depois, ele criticou também os comentários hostis à publicação e a cobertura da guerra na Faixa de Gaza feita pela emissora Al-Jazeera.
Junto à primeira crítica, ele publicou três fotos nas quais aparece jovem, vestindo o tradicional lenço quadrado e dobrado, usado em volta da cabeça pelos homens no Oriente Médio.
“Mal consigo me lembrar de um dia dos meus anos de estudante na Universidade Americana de Beirute em que fiquei sem um Kufiyyah [o nome do lenço que, em árabe, significa ‘proveniente da cidade de Kufa’, no Iraque].
Eu tinha um forte sentimento de retidão, de que estava tomando o lado dos oprimidos contra os mais poderosos, de que a narrativa que eu conhecia sobre a Palestina era hermética e infalível. Mas depois, com mais leituras e experiência de vida, amadureci e comecei a ver as coisas com mais clareza: a Palestina era uma mentira, uma desculpa para o fracasso interno.
A narrativa palestina foi feita por tiranos e charlatões e comprada por massas infelizes e analfabetas. Uma das primeiras coisas que me abriram os olhos foi a proximidade física que tive com Israel, a partir de maio de 2000.
Dirigi até o Portão de Fátima em Kfarkila [vila libanesa ao sul], bem na fronteira do Líbano com Israel e a poucos passos de Metula [cidade israelense ao norte]. Observei as cidades israelenses pouco povoadas vivendo suas vidas diárias, pessoas como nós que não pareciam ocupadas conspirando para realizar ‘o sonho judaico’ de escravizar os árabes e concretizar a instrução ‘sua terra, Israel, vai do Eufrates ao Nilo’, uma frase de um documento falso da inteligência da Rússia czarista que muitos árabes pensam ser dos ‘Protocolos dos Sábios de Sião’ [texto antissemita que descreve um alegado projeto de conspiração por parte dos judeus e maçons pela ‘dominação mundial’, tendo influenciado o nazismo e permanecido em circulação atualmente, sobretudo na internet].
Na fronteira, pude receber transmissões em hebraico no rádio do meu carro (despertando minha curiosidade em aprender hebraico). Às vezes, eu conversava com as tropas israelenses para praticar meu hebraico (os agentes do Hezbollah que guardavam a fronteira em trajes civis me davam uma dura por fazer isso, sempre que eles me pegavam).
É por isso que o boicote é imperativo ao plano antissemita para erradicar Israel: quanto mais humanizados os israelenses e os judeus se tornam aos nossos olhos árabes, mais plausível se torna a paz.
Partes da minha história contei em artigos. Outras partes ainda estão por vir. Mas até que eu descreva com mais detalhes como acho que os sentimentos árabes podem mudar do antagonismo em relação a Israel para a apreciação e a urgência pela paz, deixarei vocês com as postagens acima e um apelo imediato e incondicional pela paz entre todos os árabes e Israel.”
Apesar de vários comentários elogiosos, destacando o exemplo de Hussain na jornada que outras pessoas também deveriam fazer, ele acrescentou nesta sexta-feira, 31, a seguinte análise sobre reações hostis à sua publicação:
“Uma torrente de comentários de usuários árabes e bots em minha postagem abaixo tinha um tema comum: que eu só poderia ter mudado minha opinião sobre Israel por ter me vendido, recebido suborno etc.
O tom antissemita é claro: os judeus compram os seus apoiadores, caso contrário são uma população odiada (ou amaldiçoada na linguagem religiosa).
A ideia também é idiota: que todos os árabes nascidos muçulmanos tenham sempre a mesma opinião sobre a Palestina, é simplesmente irrealista.
Não ocorre aos trolls árabes e muçulmanos que os árabes e/ou muçulmanos podem ser uma tribo, mas não podem ser uma só opinião.
Até que, em vez de causar vergonha àqueles dos quais discordam, compreendam a liberdade, a liberdade de expressão e a necessidade de razão, a Palestina continuará a ser o que é agora: um ímã para populismo, islamismo, tirania, corrupção e mentiras.”
Em publicação à parte, feita minutos depois, Hussain criticou a Al-Jazeera – emissora de TV do Catar já chamada por um especialista em mídia árabe de “megafone do Hamas” – pela hipocrisia na cobertura de Israel, em especial das divergências entre israelenses.
“A Al-Jazeera informa sobre protestos em Israel, sobre pesquisas populares, sobre pesquisas dentro das Forças de Defesa de Israel, sobre divergências políticas e debates. Então a Al-Jazeera conclui que Israel não é uma democracia.
Entretanto, não há um único relatório sobre qualquer debate, sondagens, política, desacordo no Catar ou no lado palestino.
Todos os palestinos estão felizes por Sinwar e o Hamas os terem levado a esta guerra com Israel? Os habitantes de Gaza acham que o Hamas deveria render-se ou continuar a guerra? Nada.
E a Al-Jazeera do Catar quer vender a ideia de que o modelo ocidental (EUA, Israel) deve ser substituído pelo modelo do ‘Sul Global’ da autocracia do Catar e do islamismo do Hamas.”
Hussain ainda expôs prints de comentários feitos na rede social por um colaborador da emissora.
“Lembra-se desse cara, Fayez Al-Dwairi, o general jordaniano aposentado que trabalhava como ‘especialista militar’ da Al-Jazeera? Ele havia feito uma pausa e agora voltou à tela, explicando hoje como Israel levou uma surra em Jabalya, Gaza, e por isso se retirou.
Dwairi também tem estado ocupado postando no X, não postagens contra sionistas ou israelenses, mas contra judeus e seus rabinos.
Postagem 1: Dwairi elogia o 7 de outubro como o primeiro passo no caminho para a libertação total da Palestina, diz que os israelenses estão retomando seus passaportes originais na pressa de deixar o país.
Postagem 2: Dwairi diz ‘abençoe as armas’ da ‘resistência’ por toda a matança e destruição que está infligindo às forças israelenses.
Postagem 3: Sua famosa postagem sobre o ‘ódio dentro do peito dos judeus contra a raça humana’.
Todo este discurso antissemita de ódio está se tornado possível graças ao nosso principal aliado não pertencente à Otan, o Catar.”
Como O Antagonista vem mostrando, o país hospeda líderes do Hamas, como Ismail Haniyeh, que, com frequência, concede entrevista chapa-branca à Al-Jazeera.
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