Invasão ucraniana expõe vulnerabilidades da Rússia e surpreende aliados
Operação sigilosa desafia fronteiras russas, mas coloca Ucrânia em posição arriscada
Em um movimento audacioso, tropas ucranianas cruzaram as fronteiras da Rússia no início deste mês, lançando uma ofensiva que pegou Moscou e os aliados ocidentais de surpresa.
A operação, que conseguiu avançar mais de 11 quilômetros em território russo, pode alterar significativamente a dinâmica da guerra, colocando o governo de Vladimir Putin em uma situação defensiva inédita. Entretanto, o ataque também coloca a Ucrânia em uma posição vulnerável, potencialmente enfraquecendo suas próprias linhas de defesa nas regiões orientais do país.
A ofensiva teve início em 6 de agosto, com tropas ucranianas rompendo as linhas de defesa russas na região de Kursk. Em poucos dias, as forças ucranianas capturaram dezenas de soldados russos e assumiram o controle de 28 cidades e vilarejos, segundo informações de autoridades locais russas. A operação foi conduzida em total sigilo, surpreendendo inclusive os Estados Unidos, que não foram informados com antecedência.
O exército ucraniano utilizou veículos blindados e armamentos fornecidos por países ocidentais, como Estados Unidos e Alemanha, desafiando as restrições impostas por Washington quanto ao uso de armas ocidentais em solo russo.
De acordo com reportagem do The New York Times, publicada nesta terça-feira,13, a ofensiva foi planejada para forçar a Rússia a redistribuir suas tropas e aliviar a pressão sobre o leste da Ucrânia, onde os russos vinham obtendo avanços significativos. Apesar do sucesso inicial, a operação representa um grande risco para a Ucrânia, uma vez que a manutenção do território ocupado dentro da Rússia pode ser insustentável a longo prazo.
Se as forças russas conseguirem repelir o avanço ucraniano e ao mesmo tempo intensificarem seus ataques no leste ucraniano, Kiev poderá sofrer sérias consequências, com o risco de perder ainda mais terreno.
A matéria ainda destaca que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mencionou pela primeira vez a operação em seu discurso na última segunda-feira (12), afirmando que “a guerra que a Rússia levou a outros agora está voltando para casa”. No entanto, a ofensiva também desafia a estabilidade interna da Ucrânia, com a possibilidade de que uma eventual falha possa enfraquecer a moral das tropas e a confiança dos aliados.
Além disso, o impacto político dentro da Rússia é significativo. O ataque desafiou a segurança de um regime que, desde o início da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, vinha se apresentando como uma fortaleza impenetrável. O avanço ucraniano na região de Kursk é comparado ao choque causado pela marcha dos mercenários de Yevgeny Prigozhin sobre Moscou em 2023, revelando as falhas na estrutura de segurança construída por Putin.
Nas redes sociais, soldados ucranianos exibiram vídeos das operações, demonstrando entusiasmo ao hastear bandeiras ucranianas em solo russo e capturar postos avançados inimigos. Entretanto, as cenas de comemoração contrastam com a cautela expressa por militares e analistas, que alertam para os “desafios difíceis” que ainda estão por vir.
Nos bastidores, analistas militares afirmam que a operação ucraniana foi bem-sucedida em grande parte devido à extrema segurança operacional e às táticas de engano empregadas. “Esta é uma boa demonstração de como uma operação moderna bem-sucedida requer medidas extremas de segurança operacional e engano”, afirmou Pasi Paroinen, analista da Black Bird Group, citado pelo NYT.
A resposta russa foi rápida, com as forças do Kremlin intensificando bombardeios na região de fronteira e em territórios controlados pela Ucrânia, na tentativa de conter o avanço. Além disso, o governo russo anunciou a evacuação de mais de 132 mil pessoas das áreas afetadas, o que demonstra a gravidade da situação.
A ofensiva ucraniana em território russo marca uma nova fase na guerra, trazendo incertezas tanto para o futuro do conflito quanto para a própria sobrevivência política de Zelensky. Embora o ataque tenha sido um golpe simbólico e estratégico contra Moscou, a capacidade da Ucrânia de sustentar essa ofensiva e resistir a uma possível contraofensiva russa continua sendo uma questão crucial.
Segundo fontes do governo norte-americano, citadas na reportagem do The New York Times, a operação ucraniana foi bem-sucedida até o momento, mas as dúvidas persistem sobre a viabilidade de manter o território conquistado. “Criaram-se novas vulnerabilidades ao longo da linha de frente, onde as forças ucranianas já estão esticadas”, afirmaram os oficiais.
Lisa Haseldine, colunista do The Spectator, afirmou que Putin estaria “desesperado” com a invasão ucraniana em solo russo. O Kremlin intensificou sua estratégia de desinformação, com o serviço de inteligência estrangeira da Rússia (SVR) acusando o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de adotar “medidas insanas” que poderiam escalar o conflito para além das fronteiras ucranianas. O SVR também insinuou que os Estados Unidos estariam insatisfeitos com Zelensky, considerando substituí-lo por uma figura mais alinhada aos interesses ocidentais.
Alexander Dugin, ideólogo de Putin, em artigo publicado no Λrktos Journal, afirmou que “a guerra decide o que existe e o que não existe”, defendendo que a Rússia deve vencer seus conflitos para assegurar sua própria existência. Ele questiona até mesmo a legitimidade da Ucrânia como nação e vê a vitória em conflitos como essencial para a “existência verdadeira” da Rússia no cenário global.
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