Ilha cercada de mortes (4)
A quarta e última parte da reportagem feita por mim (Mario) para a revista Veja, em 2013:Do ponto de vista numérico, a imigração ilegal é um fenômeno desigual para os países da União Europeia e outras nações ricas do continente, e nem sempre a percepção condiz com o fato. Os franceses estimam que 25% da população seja de imigrantes, mas essa fatia é de 9%, parecida com a da Itália. No Reino Unido é de 12%. Na Alemanha, 13%. A Suíça tem um contingente de estrangeiros de 27%, a mais alta. Nem todos os imigrantes em cada país são oriundos da África, Ásia ou América Latina. Uma grande quantidade é proveniente de nações da própria UE..."O fim do mundo é belo, não?"
A quarta e última parte da reportagem feita por mim (Mario) para a revista Veja, em 2013: Do ponto de vista numérico, a imigração ilegal é um fenômeno desigual para os países da União Europeia e outras nações ricas do continente, e nem sempre a percepção condiz com o fato. Os franceses estimam que 25% da população seja de imigrantes, mas essa fatia é de 9%, parecida com a da Itália. No Reino Unido é de 12%. Na Alemanha, 13%. A Suíça tem um contingente de estrangeiros de 27%, a mais alta. Nem todos os imigrantes em cada país são oriundos da África, Ásia ou América Latina. Uma grande quantidade é proveniente de nações da própria UE. Mas o mal-estar nem por isso é mitigado pelas semelhanças étnicas ou culturais. O primeiro-ministro britânico David Cameron avisou que os cidadãos da UE terão mais dificuldade de obter benefícios sociais no Reino Unido, porque não é justo para o contribuinte britânico arcar com despesas com estrangeiros que não dão a sua devida retribuição em trabalho. Da perspectiva histórica, a imigração se torna uma questão quando a economia vai mal. Os estrangeiros passam a ser vistos como usurpadores de empregos e aproveitadores de conquistas sociais. Não é bem assim. A maioria dos expatriados ilegais sua a camisa para ganhar a baguete de cada dia e, na Europa, executa tarefas que os nativos julgam indignas para si próprios. Há problemas, decerto. Como o dos ciganos, acostumados a sobreviver de expedientes da pequena delinquência, e o dos muçulmanos fundamentalistas, que rejeitam a assimilação à sociedade ocidental e criam guetos. A solução para isso, contudo, está longe de ser a xenofobia, como pretende fazer crer a extrema direita que se uniu para ganhar as eleições europeias no ano que vem. Frear a imigração ilegal é imperioso, para regular o mercado de trabalho e evitar a entrada de marginais, mas não com muros, e sim com ajuda ao desenvolvimento dos países exportadores de gente. Tentar integrar os muçulmanos reticentes a uma sociedade laica por meio de boas escolas para os seus filhos é melhor do que isolá-los. Com uma taxa de natalidade baixíssima, a verdade é que, ora mais, ora menos, a Europa continuará precisando de imigrantes se quiser manter a sua economia em expansão. Os que tentam pular muros ou se lançam ao mar são os mais fortes entre os seus compatriotas. É injusto, portanto, tratá-los como fracos e não lhes dar chance. Os lampedusanos, à sua maneira instintiva, sabem disso e, quando ouvidos, afirmam querer que a sua ilha se transforme num corredor de esperança, e não em campo de concentração. É a voz do bom-senso, vindo de um ponto no fim do mundo. Enquanto passeávamos à beira-mar, a bordo de um dos dois ônibus de Lampedusa, o motorista Vincenzo não se conteve diante do panorama: “O fim do mundo é belo, não?”. Sim, Vincenzo, é belo e pode ser um recomeço. “O fim do mundo é belo, não?” |
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