Humanos x Robôs e o futuro do trabalho
Taylor Nicole Rogers, jornalista do Financial Times, analisa como a resistência à automação nos EUA reflete uma crise mundial sobre o futuro do trabalho
A jornalista Taylor Nicole Rogers publicou nesta terça, 8, artigo no Financial Times abordando um tema que transcende fronteiras: a crescente resistência à automação que ameaça milhões de empregos em todo o mundo.
O foco da reportagem é a greve de 25 mil estivadores americanos, que paralisaram portos estratégicos no ano passado e conseguiram um aumento salarial inédito de 62% ao longo de seis anos. Contudo, o verdadeiro embate é contra guindastes semiautomatizados. “Aceitamos tecnologias que melhoram a segurança e a eficiência, mas apenas com humanos no controle”, declarou Harold Daggett, presidente da Associação Internacional dos Estivadores (ILA).
A apreensão sobre o impacto da automação ecoa em diversos setores globais. Segundo a Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO), 70% dos trabalhadores representados pela entidade temem ser substituídos por máquinas.
Este temor é compartilhado em países desenvolvidos e em desenvolvimento, onde robôs começam a ocupar funções em fábricas, supermercados e restaurantes. “Se colocarem máquinas, como as pessoas vão sobreviver?”, questionou Francisco Rufino, cozinheiro em um cassino em Las Vegas, espantado ao ver robôs preparando coquetéis e fritando alimentos.
Desde 2019, o investimento mundial em robótica ultrapassou US$ 15 bilhões, com países como China, Japão e Alemanha liderando a corrida. A expansão da inteligência artificial e de máquinas capazes de realizar tarefas humanas está moldando uma nova era no mercado de trabalho.
Empresas como Tesla e Amazon apostam em fábricas automatizadas, enquanto governos, sindicatos e economistas discutem como equilibrar produtividade e preservação de empregos. A resistência não é exclusividade americana: sindicatos na Europa e na Ásia também vêm negociando cláusulas para limitar o impacto das tecnologias nos postos de trabalho.
No setor portuário, a história da automação é uma lição global. A introdução de contêineres nos anos 1950 eliminou dezenas de milhares de empregos em portos ao redor do mundo, transformando a logística marítima. Hoje, guindastes semiautomatizados, operados remotamente, prometem eficiência, mas demandam menos operadores.
Jean-Paul Rodrigue, especialista em comércio marítimo, estima que até 40% dos empregos em portos possam ser eliminados nos próximos anos. Na Europa, onde terminais automatizados estão mais avançados, trabalhadores enfrentam desafios semelhantes, com sindicatos buscando proteger empregos e garantir compensações para demissões.
O debate sobre automação é complexo e polarizado. Enquanto alguns especialistas, como Bill Rodgers, do Banco da Reserva Federal de St. Louis, argumentam que as tecnologias historicamente criam novas ocupações, outros, como Daron Acemoglu, do MIT, alertam para um aumento da desigualdade. “Os empregos mais ameaçados estão em áreas que exigem menos escolaridade, dificultando a transição para novas funções”, afirma Acemoglu.
Para Daggett, líder da ILA, a questão não é apenas econômica, mas existencial. “Automação substitui empregos e destrói funções que lutamos para proteger. É uma luta pela sobrevivência.” Essa batalha, embora centrada nos EUA, é um reflexo de um dilema universal que afeta trabalhadores, empresas e governos em todo o mundo. O equilíbrio entre progresso tecnológico e justiça social é um desafio que todas as nações precisarão enfrentar.
Quem é Taylor Nicole Rogers
Taylor Nicole Rogers é uma jornalista americana do Financial Times, especializada em economia, tecnologia e questões sociais. Sua abordagem analítica e profunda destaca as tensões entre mudanças tecnológicas e seus impactos no mercado de trabalho, tornando-a uma referência no tema.
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