Guardian abandona X e recebe críticas
Ao evitar um espaço de discurso livre e não moderado, o Guardian se distancia de sua função de promover o contraditório e enriquecer o debate público
O The Guardian, tradicional jornal britânico, anunciou que deixará de publicar em suas contas oficiais na plataforma X (ex-Twitter), justificando a saída pelo aumento de conteúdos que considera “tóxicos”, incluindo discursos conspiratórios e racistas.
A decisão, atribuída à influência de Elon Musk sobre o ambiente da plataforma, reacende o debate sobre como veículos de mídia devem lidar com redes sociais amplas e com liberdade de expressão. Para críticos, a medida é um passo para a criação de mais bolhas informativas, onde o Guardian se afasta de opiniões divergentes.
Para o analista britânico Brendan O´Niell, “a liberdade de expressão dá poder real ao indivíduo. Ela nos liberta não apenas para expressar nossas próprias visões – o que é incrivelmente importante – mas também para ouvir as visões de todos os outros e usar nossos músculos mentais e morais para decidir por nós mesmos se o que eles estão dizendo está certo ou errado”.
O jornal afirmou que o X se tornou incompatível com sua linha editorial, que preza por um ambiente seguro para debates. A medida, contudo, levanta críticas de quem defende que a imprensa tem a responsabilidade de atuar em ambientes abertos e diversificados, oferecendo informações confiáveis em meio ao amplo espectro de opiniões.
Ao se afastar, o jornal pode reforçar uma barreira entre suas visões e as de um público mais amplo, limitando o acesso a seu conteúdo a uma audiência mais restrita. “A censura serve apenas a um propósito: proteger ortodoxias, salvaguardar o status quo, preservar o poder”, diz O´Neill.
Desafios para o jornalismo em ambientes não moderados
A saída do Guardian coloca em evidência os desafios enfrentados por veículos de comunicação ao lidar com plataformas que adotam posturas de moderação mais flexíveis.
Ao evitar um espaço de discurso livre e não moderado, o Guardian se distancia de sua função de promover o contraditório e enriquecer o debate público.
Para esses críticos, a imprensa deveria se manter presente em espaços de ampla diversidade ideológica, reforçando seu papel como fonte de informação confiável e contribuindo para o diálogo com uma audiência diversificada.
Para alguns analistas, o papel da mídia, especialmente em tempos de alta polarização, é promover o debate pluralista em todos os ambientes, evitando que espaços digitais fiquem restritos a nichos fechados e pouco permeáveis ao contraditório.
A saída do Guardian do X traz uma reflexão sobre o papel da imprensa em tempos de redes sociais amplamente acessíveis e com pouca moderação. Ao optar por se distanciar de um ambiente considerado “tóxico”, o jornal progressista evita os desafios de um espaço onde a liberdade de expressão é menos controlada, mas corre o risco de limitar o alcance e a diversidade do debate público.
“Assim que você cede um centímetro na liberdade de expressão, eles tomarão um quilômetro”, conclui O´Neil.
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