Fala de Macron sobre tropas ocidentais na Ucrânia gera reações
Ao não excluir os países europeus do envio de tropas terrestres para a Ucrânia, Emannuel Macron quebrou um tabu e agora precisa lidar com as reações políticas à sua fala
Ao considerar o “envio de tropas ocidentais para a Ucrânia” na segunda-feira, perante 21 chefes de Estado, o Presidente instou a Europa a enfrentar o inimigo russo.
Ao não excluir os países europeus do envio de “tropas terrestres” para a Ucrânia “para que a Rússia não possa vencer esta guerra”, quebrando assim um tabu, Emmanuel Macron fez soar o alarme face à ameaça existencial que Moscou representa para o velho continente.
Certamente, “não há consenso hoje para enviá-los de forma oficial, assumida e endossada”, temperou o Chefe de Estado, no final da “Conferência de apoio à Ucrânia” que reuniu 27 Estados, incluindo 21 chefes de governo, em Paris, “mas dinamicamente, nada deveria ser excluído.”
A mensagem é clara: a Europa, mesmo que os Estados Unidos fraquejem no caso da reeleição de Donald Trump, não se deterá diante de Vladimir Putin porque “a segurança e a estabilidade estão em jogo.” Para Emmanuel Macron trata-se, portanto, de uma verdadeira “mudança de época”, a famosa “Zeitenwende” proclamada em 2022 pelo chanceler alemão Olaf Scholz, à qual temos assistido.
Reação de Moscou e Kiev
Moscou reagiu às falas de Emmanuel Macron acerca de um possível envio de tropas ocidentais para o terreno na Ucrânia. “Não é absolutamente do interesse destes países” enviar soldados para a Ucrânia, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Segundo ele, o simples fato de evocar esta possibilidade constitui “um novo elemento muito importante” no conflito.
O porta-voz do Kremlin afirmou ainda que seria inevitável um conflito direto contra a Otan caso a aliança militar enviasse tropas para lutar nos fronts ucranianos.
Já a presidência ucraniana saudou os comentários de Emmanuel Macron sobre o envio de tropas ocidentais para a Ucrânia: “É um bom sinal”, disse o conselheiro presidencial ucraniano Mykhaïlo Podoliak, reconhecendo que esta opção era nesta fase “apenas uma proposta para discussão”, mas que “a declaração do presidente francês leva claramente a discussão para outro nível”.
Posição dos Estados Unidos
Joe Biden apelou na terça-feira aos responsáveis do Congresso dos EUA para aprovarem uma nova ajuda à Ucrânia, alertando para o custo “terrível” de não libertar os fundos.
“No que diz respeito à Ucrânia, penso que a necessidade é urgente”, declarou o presidente norte-americano na Sala Oval da Casa Branca, onde recebeu na terça-feira responsáveis da Câmara dos Representantes e do Senado, sublinhando que “as consequências da a inação diária na Ucrânia é terrível.”
A Casa Branca alertou, porém, que soldados americanos não serão enviados à Ucrânia para repelir o exército russo, em referência à fala do presidente francês, Emmanuel Macron, levantada na segunda-feira, 26, sobre a possibilidade de enviar tropas ocidentais.
Reação dos líderes europeus
Vários governos europeus vieram a público na terça-feira, 27, descartar a possibilidade aventada por Macron acerca do envio de soldados para o território ucraniano.
Itália, Suécia, Polônia e outros países descartaram essa possibilidade. A Alemanha repetiu a mesma mensagem, por meio do ministro da Defesa, do vice-primeiro-ministro e também por meio de postagem do próprio chanceler Olaf Scholtz que escreveu em suas redes sócias após o encontro com Macron:
“Concordamos ontem, em Paris, que todos têm que fazer mais pela Ucrânia. Ela precisa de armas, munições e defesa aérea. É nisso que estamos trabalhando. E, é claro, não haverá tropas terrestres dos Estados europeus ou da Otan. Isso é verdade”.
Extrema direita e extrema esquerda contra Macron
Na França, a direita radical, representada por Marine Le Pen (Rassemblent Nationale – RN) e a esquerda radical, representada por Jean-Luc Mélenchon (La France Insoumise – FI) exploraram politicamente e confrontaram a fala de Macron sobre não descartar o envio de tropas terrestres à Ucrânia.
O líder da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, foi o primeiro a protestar na noite de segunda-feira, 26, contra o discurso de Emmanuel Macron, durante o qual foi considerado o envio de tropas ocidentais para a Ucrânia. Jean-Luc Mélenchon apressou-se a denunciar no X que se tratava de uma “loucura”: “O envio de tropas para a Ucrânia tornar-nos-ia beligerantes”, disse o primeiro o ex candidato presidencial.
Convidado a comentar o caso em um programa da TV francesa, nessa quarta-feira, 28 de fevereiro, Mélenchon disse estar “consternado” com a declaração presidencial. “A política externa da França é composta de deslizes descontrolados e anúncios fantasiosos”, disse, afetando indignação.
O líder do LFI também descartou a análise de Emmanuel Macron, segundo a qual “a derrota da Rússia é essencial para a segurança e estabilidade na Europa”. “Não somos ucranianos nem russos. Não é verdade, ao contrário da escalada verbal, que hoje estamos ameaçados, toda a Europa”, argumentou Jean-Luc Mélenchon, insistindo na necessidade de “uma conferência de paz com propostas de segurança mútua para os dois países”.
Marine Le Pen, por sua vez, aproveitou o momento de perguntas ao Governo, na terça-feira, 27 de fevereiro, para questionar o primeiro-ministro, Gabriel Attal, sobre o assunto em pauta e recebeu um ataque como resposta: “Se você tivesse sido eleita, Madame Le Pen, não estaríamos fornecendo armas aos ucranianos para se defenderem, mas estaríamos fornecendo armas à Rússia para esmagar os ucranianos.”, reagiu enfaticamente Attal.
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