Estudos apontam relação entre tablets e raiva em crianças
Estudo associa uso de tablets em crianças pequenas a explosões de raiva e frustração. Entenda os riscos do uso excessivo de tecnologia e veja dicas para limitar o tempo de tela.
Praticamente todos os pais de crianças pequenas já experimentaram explosões de raiva e frustração de seus filhos, seja na hora de acordar, dormir ou comer um sanduíche sem a casca. De acordo com um novo estudo, publicado na segunda-feira (12), há uma possível razão para a frequência desses surtos: o uso de tablets.
O estudo, publicado na revista JAMA Pediatrics, aponta que o uso de tablets por crianças de 3,5 anos foi associado a um maior número de expressões de raiva e frustração um ano depois. Além disso, crianças que eram mais propensas a raiva e frustração aos 4,5 anos tinham mais chances de ter maior uso de tablets um ano depois (aos 5,5 anos).
Associação Entre Uso de Tablets e Raiva em Crianças
O uso de tablets na primeira infância “pode contribuir para um ciclo” de problemas na regulação emocional, segundo os autores do estudo. Para entender mais sobre o assunto, a CNN conversou com a especialista em bem-estar, Leana Wen.
Leana Wen é médica de emergência e professora associada adjunta da Universidade George Washington. Ela também serviu como comissária de saúde de Baltimore e é mãe de duas crianças pequenas. A especialista explica que a maioria dos pais já experimentou uma crise de birra dos filhos pequenos depois que tiramos o tablet deles.
O Que Esse Estudo Descobriu?
Este estudo foi uma pesquisa com 315 pais de crianças em idade pré-escolar da Nova Escócia, Canadá. Os mesmos pais participaram do estudo quando seus filhos tinham 3,5 anos (em 2020), 4,5 anos (2021) e 5,5 anos (2022). Eles relataram o uso de tablets por seus filhos e, em seguida, avaliaram as expressões de raiva das crianças usando um questionário padrão chamado Children’s Behavior Questionnaire.
Os pesquisadores encontraram uma associação entre o uso de tablets aos 3,5 anos e um aumento na raiva e frustração aos 4,5 anos. Esta associação era bidirecional. Isso significa que crianças com maior uso de tablets também apresentavam mais raiva e frustração com o passar dos anos.
Como os Tablets Impactam o Comportamento das Crianças?
Outro ponto importante a considerar é o contexto pandêmico em que o estudo foi realizado. Durante os anos de pico da pandemia de Covid-19, as rotinas das crianças foram intensamente impactadas, causando mais estresse e frustração. Mesmo com esse fator externo, a relação entre o uso de tablets e a expressão de raiva e frustração se manteve significativa.
Leana Wen não se surpreende com os resultados do estudo. Ela menciona que outras pesquisas já chegaram a conclusões semelhantes. As crianças precisam aprender a lidar com suas emoções negativas como parte de seu desenvolvimento, auxiliadas por pais, cuidadores e professores.
- Uso excessivo de tecnologia pode impedir o aprendizado de gestão emocional.
- Crianças que dependem de tablets para acalmar-se não desenvolvem habilidades emocionais necessárias.
- Estudos mostram que a tecnologia usada como maneira de acalmar crianças pode ter efeitos reversos.
Os Pais Devem Evitar Completamente os Tablets?
Não necessariamente. Certos aplicativos educacionais podem ser benéficos para o aprendizado, e várias escolas incorporam tablets em seus currículos. O importante é que tablets, smartphones e outros eletrônicos não devem ser usados como “chupetas” eletrônicas para acalmar crianças chateadas.
Os dispositivos não devem substituir a interação face a face com outras crianças e adultos. As crianças aprendem melhor através do engajamento social ativo. O uso excessivo de telas pode levar à substituição dessas interações essenciais para o desenvolvimento saudável.
Como Limitar o Tempo de Tela das Crianças?
Leana Wen recomenda algumas estratégias para os pais:
- Atrasar a introdução de smartphones e redes sociais o máximo possível, coordenando com outros pais para reduzir a pressão dos colegas.
- Evitar o uso de tablets como solução para birras, optando por métodos tradicionais de acalmar e educar as crianças.
- Conversar com filhos mais velhos sobre os impactos das redes sociais e incentivá-los a reduzir o tempo de uso.
- Estabelecer limites claros, como não usar dispositivos à noite ou durante as refeições, e os pais também devem tentar seguir essas regras.
Wen também reconhece a dificuldade de seguir essas recomendações devido às circunstâncias do dia a dia e o apelo da tecnologia. Por isso, é importante que esses momentos sejam exceções e não a regra.
Em resumo, o uso moderado e consciente de tecnologia pode permitir que as crianças aproveitem seus benefícios sem comprometer seu desenvolvimento emocional e social.
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