“É preciso ter clareza do que significa virar um aliado da Otan”
Diretor do Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança (Cetris), Salvador Raza avalia como positiva a indicação do Brasil, pelos EUA, como aliado extra-Otan. "Acho uma grande sacada. A entrada nesse grupo de países é um reconhecimento de seriedade, é entrar no primeiro mundo pela porta da frente."...
Diretor do Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança (Cetris), Salvador Raza avalia como positiva a indicação do Brasil, pelos EUA, como aliado extra-Otan.
“Acho uma grande sacada. A entrada nesse grupo de países é um reconhecimento de seriedade, é entrar no primeiro mundo pela porta da frente”, disse, em entrevista a O Antagonista.
A questão, segundo ele, é saber aproveitar a oportunidade. “É preciso ter clareza do que significa, sabendo negociar as condições, do ponto de vista estratégico e político.”
Ex-funcionário do Departamento de Defesa do governo Donald Trump, Raza, que tem pós-doutorado em estudos de defesa na National Defense University, em Washington, ressalta que o alinhamento do Brasil com as políticas da Otan precisa ter escopo definido e restrito.
“Fiz mestrado na Otan. Quando você assume o compromisso de alinhamento com todas as políticas da Otan, corre o risco de colocar em risco o interesse nacional. Decisões de bloco, cujo ambiente estratégico é completamente diferente do nosso, podem ter aspectos potencialmente negativos.”
“O que o Brasil precisa e quer neste momento? Nossa indústria de defesa ficou obsoleta, não temos tecnologia nem capacidade parar gerar competência para conflitos mais sofisticados. Então esse tipo de aliança dever servir para o desenvolvimento de um novo projeto de força e construção de capacidades institucionais de defesa, alinhadas dentro de nossas cadeias produtivas e no ambiente estratégico que o Brasil tem influência.”
Para o consultor, o governo Bolsonaro tem feito gestos táticos importantes na política externa, mas ainda há dúvidas sobre qual sua estratégia global.
“Vi alguns assessores do presidente falando em defesa do Ocidente, de valores da civilização ocidental. Essa lógica de pensar o mundo como uma estrutura multipolar fixa é ultrapassada e não satisfaz, não explica mais a realidade da segurança e da política internacional. Qualquer conclusão, a partir desses parâmetros, será maniqueísta e equivocada. Hoje, os estrategistas trabalham com o que chamamos de ‘arquitetura multidimensional variável’, pois as relações são dinâmicas. O Brasil pode ser aliado dos EUA em certas áreas e concorrente em outras. O mesmo se aplica à relação com a China ou com os países da Europa.”
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