A diretora do Serviço Secreto dos Estados Unidos, Kimberly Cheatle (foto), admitiu ao Congresso americano nesta segunda-feira, 22, que a agência falhou diante da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump, mas não explicou como o atirador Thomas Crooks conseguiu escalar um prédio e atirar contra o candidato republicano antes de ser neutralizado.

Em depoimento, ela afirmou que o atentado a Trump foi “a falha operacional mais significativa do Serviço Secreto em décadas”.

“A missão solene do Serviço Secreto é proteger os líderes da nossa nação. No dia 13 de julho, nós falhamos. Como diretora do Serviço Secreto dos Estados Unidos, assumo total responsabilidade por qualquer falha de segurança da nossa agência. Estamos colaborando integralmente com as investigações em curso. Precisamos entender o que aconteceu e moverei o Céu e a Terra para garantir que um incidente como o de 13 de julho não se repita”, afirmou Cheatle.

“Ela deveria renunciar”

O presidente da Câmara, deputado republicano Mike Johnson, comentou no X:

“A diretora do Serviço Secreto, Kimberly Cheatle, afirma que assume ‘total responsabilidade’ pelo fracasso em proteger o presidente Donald Trump. Se ela realmente aceita a responsabilidade pelas falhas significativas de segurança, ela deveria renunciar.”

Apesar de assumir “total responsabilidade” pela falha de segurança do Serviço Secreto, ela negou que irá renunciar.

“Acho que sou a melhor pessoa para liderar o Serviço Secreto neste momento.”

Cheatle tenta enrolar a Câmara dos Representantes

Na oitiva, o republicano Andy Biggs questionou se o atirador agiu sozinho, mas Cheatle não respondeu:

– Sua agência tem uma missão de não falhar e, no sábado, 13 de julho, sua agência falhou espetacularmente. Essa falha resultou na morte de Corey Comperatore e em ferimentos graves em outros dois participantes do comício, David Dutch e James Copenhaver, além dos ferimentos sofridos pelo presidente Trump. É inacreditável que um jovem de 20 anos, que já estava no radar do Serviço Secreto e da polícia local, antes de o presidente Trump subir ao palco, tenha conseguido escalar o telhado de um prédio com um rifle e disparar várias vezes antes de ser neutralizado. O Sr. Crooks estava agindo sozinho?

– Mais uma vez, eu teria que encaminhar a questão para a investigação do FBI.

– Ele era apenas um atirador solitário?

– Eu teria que encaminhar para a investigação do FBI sobre o motivo.

“Isso é conversa fiada”

A republicana Nancy Mace prossegue interrogando Kimberly Cheatle:

– Essa tragédia era evitável? Sim ou não?

– Sim.

– O Serviço Secreto tem sido transparente com este comitê?

– Sim.

– Você diria que o fato de termos precisado emitir uma intimação para que você comparecesse hoje demonstra transparência? Sim ou não?

– Sempre estive disposta a vir e conversar com o comitê…

– Sim ou não? Você não quis responder a pergunta. Tivemos que emitir uma intimação para que você comparecesse hoje. Isso, aliás, não é transparência. Você afirmou anteriormente que o Serviço Secreto não é político, está correto?

– Sim.

– Certo, você diria que vazar sua declaração de abertura para o Punchbowl News, o Playbook do portal Politico e o Washington Post várias horas antes de enviá-la a este comitê é uma atitude política? Sim ou não?

– Não faço ideia de como minha declaração vazou.

– Bem, isso é conversa fiada. Então, Sr. presidente, eu gostaria de pedir consentimento unânime para incluir nos registros os artigos do Punchbowl News, do Playbook do Politico e do Washington Post, todos publicados às 5h24, 6h12 e 6h34, cerca de três a quatro horas antes de este comitê receber sua declaração.

“Você está cheia de merda hoje”

O presidente do comitê diz “sem objeções à ordem”. Nancy Mace continua:

– Certo. O Serviço Secreto está “cooperando plenamente” com o nosso comitê?

– Sim.

– Certo, você diz que está cooperando plenamente com este comitê. Em 15 de julho, este comitê enviou a você uma lista de informações que demandamos. O Serviço Secreto forneceu a este comitê uma lista completa de todo o pessoal de segurança que estava lá naquele dia? Vocês fizeram isso? Vocês forneceram uma lista ao comitê de supervisão? Sim ou não?

– Terei que verificar e retornar a você sobre isso.

– Isso é um não. Vocês forneceram todas as gravações de áudio e vídeo em sua posse a este comitê, como solicitamos em 15 de julho? Sim ou não?

– Eu teria que verificar e retornar a você sobre isso.

– Isso é um não. Você está cheia de merda hoje. Você está sendo completamente desonesta.

Outro membro do comitê pede “decoro”:

”Sr. presidente, Sr. presidente, eu quero… Sr. Presidente… Precisamos manter o decoro neste comitê, não importa o quão irritados fiquemos.”

“Você está sendo desonesta ou mentindo“

Nancy Mace prossegue, indiferente:

– Vocês forneceram todos os memorandos que solicitamos em 15 de julho a este comitê? Você forneceu todos os memorandos do Serviço Secreto?

– Terei que verificar e retornar com essa informação.

– Isso é um não. Você está sendo desonesta ou mentindo. Olha, você está sendo desonesta aqui com este comitê. Essas são perguntas importantes que o povo americano quer ver respondidas e você está apenas se esquivando e falando sobre isso em termos gerais. Tivemos que intimá-la a estar aqui e você nem sequer responde às perguntas. Pedimos repetidamente que você respondesse as nossas perguntas. Isso não é difícil. Essas não são perguntas complicadas. Você nos forneceu todas as comunicações do Serviço Secreto relacionadas àquele dia e àquele comício? Você forneceu a este comitê? Solicitamos essas informações em 15 de julho. Você forneceu alguma dessas informações que este comitê pediu ao Serviço Secreto? Alguma delas?

– Terei que verificar e retornar com essa informação.

– Você chegou a ler esta carta que lhe enviamos? Você ao menos leu isso?

– Sim.

– Certo, e você disse que não sabe, que não tem ideia. A resposta é não. Não recebemos um único documento, informação ou dado, de você ou de sua agência, relacionados ao comício, que solicitamos.

Para o republicano Pat Fallon, a diretora do Serviço Secreto americano, Kimberly Cheatle, deveria “ser demitida na hora e voltar a vigiar pacotes de Doritos”.

Telhado

Raja Krishnamoorthi, do Partido Democrata, exibiu o vídeo em que participantes do comício apontam para o atirador Thomas Crooks, que pode ser identificado subindo no telhado de onde dispararia tiros contra Trump.

– Senhora, isso não parece um comportamento suspeito, isso me parece um comportamento ameaçador e o comício tampouco foi interrompido naquele momento, correto?

– Posso lhe dizer, como afirmei anteriormente, senhor, que no momento em que a equipe… uh… ao redor do presidente tomou conhecimento de uma ameaça real… 

– Isso é uma ameaça! Ali mesmo, o cara está no telhado e todo mundo está gritando para ele…

– Sim.

– …e chamando a atenção do policial para ele. O comício não foi interrompido naquele momento, correto?

– Ainda estamos analisando as comunicações e quando as comunicações foram transmitidas.

– Bem, posso apontar para esta comunicação que é dois minutos antes de os tiros começarem a soar. Diretora Cheatle, sim ou não: houve algum momento em que o Serviço Secreto realmente considerou interromper o comício?

– O Serviço Secreto teria interrompido o comício se soubesse…

– Então a resposta é não?

– …de uma ameaça real…

– Então a resposta é não, correto?

– Posso falar com você em termos gerais.

– Não, não, eu não quero generalidades, eu quero pontos específicos. A resposta é não. Você não considerou pausar o comício, correto?

– As pessoas encarregadas de proteger o presidente naquele dia nunca trariam o ex-presidente para fora, se houvesse uma ameaça que tivesse sido identificada.

– Bem, eles fizeram isso, porque agora identificamos três pontos, nos vinte minutos antes do tiroteio, em que a ameaça surgiu. Deixe-me apontar para outra coisa, que é o edifício em que o atirador estava posicionado, visto aqui. Este prédio é chamado de edifício AGR. Tenho certeza de que você está familiarizada com ele. Não fica a mais de cento e cinquenta metros do palco onde Donald Trump estava. No entanto, o perímetro de segurança foi desenhado de tal forma que o prédio da AGR foi colocado do lado de fora dele. Diretora Cheatle, de acordo com o Washington Post, o rifle AR-15 robusto usado no tiroteio tinha um alcance de quatrocentos a seiscentos metros e, portanto, o prédio da AGR estava claramente dentro do alcance de rifle em relação ao palco, correto?

– Sim.

– A NBC News informou que, nos dias anteriores ao comício, o Serviço Secreto havia identificado o prédio como uma vulnerabilidade que exigia atenção especial, correto?

– Isso é o que a NBC está relatando?

– Sim.

– Ainda estou investigando um caso ativo… 

– Eu sei, mas já se passaram nove dias. Quer dizer, você deveria saber disso, não é? E, no entanto, apesar do fato de que o prédio AGR estava ao alcance de tiro do palco e foi sinalizado como uma vulnerabilidade, este edifício foi colocado fora do perímetro de segurança do Serviço Secreto. E eu respeitosamente sugiro que o Serviço Secreto deve expandir o perímetro de segurança para levar em conta os tipos de armas que podem ser usadas fora do perímetro para colocar em risco as pessoas protegidas dentro do perímetro.