Brasileiros enfrentam dificuldades ao voltar da Europa
Brasileiros que imigram para a Europa enfrentam dificuldades ao voltar para o Brasil e têm acesso a programas de retorno voluntário assistido.
Formado em Marketing, Silas tinha um sonho: estabelecer-se na Europa e enviar dinheiro ao Brasil, aproveitando a valorização do euro. Seu objetivo era ajudar suas duas irmãs e pagar as prestações de um apartamento na planta que havia comprado em São Paulo. Entretanto, esse sonho acabou se tornando um pesadelo.
Após alguns meses em Portugal, Silas decidiu retornar ao Brasil endividado. “Meu sonho virou um pesadelo. Logo me deparei com a falta de moradia, aluguéis exorbitantes, e pediam 3 mil euros (mais de R$ 18 mil) de caução que eu não tinha”, diz ele. Sem recursos, morou em um albergue e, posteriormente, conseguiu um quarto por indicação de amigos.
Dificuldades de Imigrantes Brasileiros em Portugal
No Algarve, Silas trabalhou como supervisor em uma loja em Portimão. Com um salário de 850 euros (cerca de R$ 5,2 mil) e sem visto de trabalho, enfrentou uma jornada exaustiva. O valor não era suficiente para se manter e pagar as contas no Brasil. “Eu estava desesperado, já estava me alimentando de sopa no centro de acolhimento”, conta ele.
Silas retornou ao Brasil em dezembro do mesmo ano através do programa Retorno Voluntário, destinado a imigrantes que desejam voltar ao seu país de origem. Programas semelhantes estão disponíveis em outros países com o apoio da Agência da ONU para as Migrações (OIM).
O Que é o Programa de Retorno Voluntário?
O Programa de Retorno Voluntário oferece passagens aéreas, emissão de documentos e recursos financeiros para reintegração no país de origem. Além disso, presta assistência psicossocial às famílias. “O sonho que vivi lá eu não desejo para ninguém. Não guardo mágoas, mas foi frustrante”, afirma Silas.
Além de Portugal, outros países como Bélgica, Espanha e Irlanda também possuem parcerias com a OIM. Estes programas ajudam imigrantes a voltar ao seu país com um auxílio financeiro, oferecendo uma oportunidade de recomeço.
Histórias de Retorno e Recomeço
Lucas Ferreira, um barbeiro de 37 anos de Guararapes, São Paulo, também utilizou o programa de retorno voluntário para voltar ao Brasil após viver quatro anos em Portugal. Emigrando em 2018 para a vila da Moita, na área metropolitana de Lisboa, ele enfrentou condições desfavoráveis de trabalho.
Durante a pandemia, a situação de Lucas piorou quando a barbearia onde trabalhava fechou. “Passei por coisas que nunca havia passado no Brasil. Voltar foi um alívio”, relembra emocionado. Após voltar ao Brasil em março de 2022, ele abriu sua própria barbearia com a ajuda financeira da OIM.
Por Que os Brasileiros Buscam Retornar ao Brasil?
A busca por ajuda para retornar ao Brasil é crescente entre brasileiros na Europa. Em 2023, a Agência da ONU para as Migrações apoiou o retorno de 1.661 brasileiros de 34 países. Isso representa mais que o triplo dos atendidos em 2016.
Os principais motivos para o retorno incluem desemprego, dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, desafios na regularização e situação econômica precária. Segundo a OIM, 42% dos retornados investiram o auxílio recebido em empreendimentos próprios, mostrando um desejo de recomeçar.
Os Principais Destinos de Retorno
Os Estados que mais receberam migrantes de volta entre 2016 e 2023 foram:
- Goiás (33%)
- Minas Gerais (15%)
- São Paulo (15%)
- Distrito Federal (4%)
- Paraná (4%)
Quem Lidera os Pedidos de Retorno Voluntário?
Em Portugal, Irlanda e Bélgica, os brasileiros são os que mais solicitam o retorno voluntário. Em Portugal, representam 80% dos pedidos. Na Irlanda, 44% dos pedidos feitos em 2023 foram de brasileiros, e na Bélgica, 43% dos pedidos também vieram do Brasil.
Nos últimos anos, países como Reino Unido, Espanha e Alemanha também registraram pedidos significativos de brasileiros no programa de retorno. Na Espanha, 86 dos 1.019 pedidos feitos em 2023 foram de brasileiros.
Nova Perspectiva Sobre o Retorno
Para muitos, retornar ao país de origem não é mais visto como um fracasso, mas como uma etapa de adaptação em um mundo dinâmico. “Quem retorna ao Brasil traz consigo uma bagagem cultural valiosa”, afirma o professor Leonardo Cavalcanti, da Universidade de Brasília (UnB).
A experiência adquirida no exterior pode representar um diferencial positivo no mercado de trabalho brasileiro. “O país deve reconhecer e aproveitar a contribuição dessas pessoas para o desenvolvimento nacional”, conclui o professor.
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