Blinken questiona legitimidade das eleições na Venezuela
Secretário de Estado dos EUA levanta preocupações sobre a transparência dos resultados eleitorais venezuelanos
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, expressou fortes preocupações sobre a legitimidade das eleições presidenciais realizadas na Venezuela neste domingo, 28. Em um pronunciamento, Blinken elogiou a participação do povo venezuelano, destacando sua coragem e compromisso com a democracia, mesmo diante de repressões e adversidades.
“Quero falar rapidamente sobre as eleições que acabaram de acontecer na Venezuela. Aplaudimos o povo venezuelano pela sua participação nas eleições presidenciais de 28 de julho. Elogiamos a sua coragem e compromisso com a democracia diante da repressão e da adversidade,” disse Blinken.
No entanto, Blinken questionou a transparência do processo eleitoral e sugeriu que o resultado anunciado pela Comissão Eleitoral Venezuelana pode não refletir a vontade do povo. “Temos sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano. É fundamental que cada voto seja contado de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais imediatamente compartilhem informações com a oposição e observadores independentes sem demora, e que publiquem a tabulação detalhada dos votos.”
O Secretário de Estado também destacou que a comunidade internacional está atenta aos acontecimentos na Venezuela e está preparada para responder conforme necessário. A declaração de Blinken reflete uma crescente pressão internacional para que o governo venezuelano garanta a integridade do processo eleitoral e respeite os princípios democráticos.
A reação de Blinken ocorre em meio a uma série de denúncias de irregularidades e repressão durante o período eleitoral na Venezuela. Observadores independentes e grupos de direitos humanos relataram vários incidentes de intimidação e violência contra eleitores e candidatos da oposição.
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Ditadura de Maduro dá vitória a Maduro
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarou a vitória do ditador Nicolás Maduro (foto) nas eleições presidenciais deste domingo, 28 de julho, por 51,2% dos votos, com 80% das urnas apuradas.
Segundo o conselho, que é aparelhado pelo chavismo, o candidato da oposição, Edmundo González, teria obtido apenas 44,2% dos votos.
A apuração dos resultados foi marcada por indícios de irregularidades.
O CNE paralisou a divulgação da contagem de votos em “numerosas” seções, denunciou a oposição ao longo da noite.
“Conselho Nacional Eleitoral paralisou a transmissão em numerosos centros e está impedindo que nossos fiscais obtenham a ata, expulsando-os dos locais de votação”, disse a presidente do partido de oposição Encuentro Ciudadano, Delsa Solórzano, à emissora de televisão NTN24.
Uma pesquisa de boca de urna do instituto Edison com 6 mil eleitores colocava Edmundo González na dianteira, com 65%, e Maduro em segundo, com 31%.
A repressão a opositores também ocorre nas seções eleitorais e nas ruas.
Imagens divulgadas pela NTN24 mostram integrantes da Guarda Nacional Bolivariana e de diferentes grupos paramilitares ligados ao chavismo intimidando fiscais da oposição.
Durante a tarde, o número 2 do chavismo, Diosdado Cabello, que é vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV, convocou os chavistas para irem aos centros eleitorais, onde membros da oposição aguardavam a divulgação dos resultados locais.
No estado de Táchira, perto da Colômbia, motoqueiros chavistas armados — os “motorizados” — atiraram na direção de membros da oposição que estavam do lado de fora dos centros, aguardando os primeiros resultados. Uma pessoa morreu.
Mais de três horas depois do horário de fechamento dos centros de votação, nenhum resultado tinha sido divulgado.
“Não há desculpa técnica para que o país não tenha ainda os resultados“, afirmou David Smolansky, integrante da campanha de María Corina Machado (foto), para o canal NTN24.
Depois do fechamento dos centros, às 18 horas, testemunhas credenciadas da oposição tentaram entrar nos lugares para acompanhar a contagem dos votos, mas foram impedidas.
Outras foram expulsas pelos policiais ou por militares. Muitas não conseguiram ter acesso às atas com os dados.
Em outros centros, a transmissão das informações das atas não foi feita, paralisando a contagem total.
A dirigente da Plataforma Unitária da oposição Delsa Solórzano afirmou que pessoas da campanha de Edmundo González só conseguiram entrar na sede do Conselho Nacional Eleitoral, CNE, em Caracas, pouco antes do início da contagem.
“Banho de sangue”
Em 17 de julho, Maduro já havia dito que a Venezuela poderia enfrentar um “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso ele não fosse reconduzido ao cargo.
“Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”, disse em ato público em Parroquia de la Vega.
Com uma campanha de repressão a adversários do governo e a suas candidaturas desde o ano passado, a ditadura de Maduro, no poder desde 2013, impediu María Corina Machado, o principal nome da oposição, de concorrer.
O candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, e María Corina, enfrentaram bloqueio de estradas para chegar aos comícios. A equipe também teve carros vandalizados por chavistas. Um imóvel em que eles estavam hospedados foi assaltado.
As eleições foram marcadas por ao menos 125 detenções por razões políticas, sendo 102 ligadas a Corina Machado. Seis pessoas da direção do partido da líder oposicionista refugiaram-se na Embaixada da Argentina, em Caracas. Outros 46 venezuelanos foram presos por prestar serviços ou vender produtos para a oposição durante os comícios da oposição pelo país ou em eventos públicos.
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