Autoridades judaicas francesas dizem não ao LFI e ao RN
"Escolhemos os valores universais e humanistas que estão no cerne do Judaísmo, bem como o nosso pacto republicano. Em consciência, acreditamos que isso não pode ser feito hoje nem com o RN nem com a LFI", diz o manifesto judeu
“O ódio e o antissemitismo usados como alavanca eleitoral desfazem algo da nossa esperança coletiva”, disse nessa sexta-feira, 5 de julho, Haïm Korsia, rabino-chefe da França. “A violência, o anátema tomou conta” da campanha legislativa, lamentou.
Haïm Korsia criticou os dois extremos do espectro político, Rassemblement Nationale (RN) e La France Insoumise (LFI):
“Nunca leva a um debate de ideias, que é o coração da nossa democracia na França. Nada de bom pode acontecer com pessoas que usam o antissemitismo como fórmula eleitoral, como motor eleitoral para jogar com os instintos mais básicos de alguns”, denunciou.
O rabino-chefe de França lamentou que o antissemitismo seja “uma espécie de ponto focal” nesta campanha legislativa. “Gostaria que falássemos sobre poder de compra, esperança republicana, fraternidade, que cuidemos dos fracos, dos que ficam para trás. Quem fala sobre isso?”, questiona.
Dizer não ao RN e ao LFI
Uma coluna coletiva publicada quinta-feira, 4 de julho, no Le Figaro, assinada por várias personalidades, incluindo o historiador Georges Bensoussan, o filósofo Pierre-André Taguieff e o acadêmico Pascal Perrineau, apela a uma “barreira” à coligação de esquerda formada por ocasião das eleições legislativas.
Os signatários apontam particularmente para o LFI que, segundo eles, faz do ódio antijudaico uma estratégia eleitoral.
Este manifesto, porém, não foi assinado pelo Rabino Chefe da França que, junto ao Consistório Judaico preferiu assinar o manifesto “No domingo, permaneçamos fiéis aos valores da República”, no qual a crítica incide não apenas sobre o LFI, mas também sobre o RN. A seguir, o manifesto:
“Neste domingo, 7 de julho, a França decidirá o seu futuro durante o 2º turno das eleições legislativas. Nas urnas, todos nós, cidadãos, escreveremos o seu destino.
Fiéis à história das nossas instituições e ao espírito do Judaísmo, não concordamos em associar-nos com aqueles que tendem a excluir ou estigmatizar os nossos vizinhos, bem como com aqueles que incendeiam a nossa sociedade ao propagar o ódio e o antissemitismo, disfarçado de anti-sionismo.
Não, o populismo ou o nacionalismo nunca na história foram um baluarte contra o antissemitismo nem trouxeram paz e serenidade. Não, o antissemitismo não é “residual” nem “contextual” como alguns ousaram afirmar.
Para dar ao país a possibilidade de ação pública e redescobrir a esperança de perspectivas salvadoras, escolhemos os valores universais e humanistas que estão no cerne do Judaísmo, bem como o nosso pacto republicano. Em consciência, acreditamos que isso não pode ser feito hoje nem com o RN nem com a LFI.
Qualquer que seja o resultado da votação, o aumento dos atos violentos contra os judeus, particularmente desde 7 de Outubro, terá de ser tido em conta e as políticas públicas reforçadas para obter resultados mais concretos na luta contra o antissemitismo e para que os judeus recuperem a serenidade a que têm pleno direito. A segurança dos Judeus e, em geral, de todos os cidadãos, bem como a plena preservação da liberdade de culto oferecida pelo secularismo, devem ser batalhas essenciais da República.
Para que a França, terra do Iluminismo e berço dos direitos humanos, permaneça fiel à sua nobre tradição e possa sempre defender o direito e a liberdade,
Para que a França possa viver feliz e próspera,
Para que todos possamos continuar a viver em fraternidade e solidariedade,
No domingo, façamos a nossa escolha de forma consciente e responsável, para iluminar o nosso futuro.
Yonathan Arfi, Presidente do Crif, Ariel Goldmann, Presidente da FSJU, Elie Korchia, Presidente do Consistório Central, Haïm Korsia, Grande Rabino da França.”
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