Alemanha planeja guerra com a Rússia?
Alemanha diz que a afirmação do Kremlin de que está planejando uma guerra com a Rússia é “absurda”. Acusação foi feita após serviços russos capturarem conversa do exército alemão
O embaixador da Alemanha em Moscou foi convocado ao Ministério das Relações Exteriores da Rússia na segunda-feira, 4 de março, para explicar a discussão vazada entre militares de alto escalão sobre o envio de armas para a Ucrânia.
Alexander Graf Lamsdorff chegou ao Ministério das Relações Exteriores sem responder aos pedidos de comentários dos jornalistas, segundo relatos de agências de notícias russas.
O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, acusou a Rússia de travar “uma guerra de informação” contra a Alemanha, ao interceptar e depois divulgar uma reunião sensível entre oficiais militares de alto nível das forças armadas alemãs, Bundeswehr.
A Rússia então acusou a Alemanha, apoiada pelos seus aliados, de planejar uma guerra total contra a Rússia.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que as discussões vazadas mostraram que o apetite pela guerra na Europa “ainda permanece muito alto” e que o objetivo era garantir “a derrota estratégica da Rússia no campo de batalha”.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev comentou que: “A Alemanha está planejando uma guerra com a Rússia”.
Pistorius considerou as reações “completamente absurdas”, acusando Moscou de querer semear desconfiança e discórdia na Alemanha.
Na conferência telefônica, quatro oficiais, incluindo o chefe da força aérea alemã, Ingo Gerhartz, preparam-se para uma discussão com o ministro da Defesa Pistorius sobre o possível envio de mísseis Taurus para a Ucrânia, chegando à conclusão de que uma entrega rápida e a utilização dos mísseis no futuro imediato só seriam possíveis se soldados alemães estivessem envolvidos.
Soldados alemães e guerra na Ucrânia
O treinamento do Taurus para soldados ucranianos, a fim de evitar colocar soldados alemães em solo ucraniano, era uma possibilidade, mas levaria meses de preparação. Os oficiais também discutiram a possibilidade de usar os mísseis para destruir a ponte construída pela Rússia que liga a península da Crimeia, ilegalmente anexada, à Rússia.
Na semana passada, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, descartou o envio de mísseis Taurus porque disse que a operação envolveria o envio de tropas alemãs para a Ucrânia. Ele disse: “Os soldados alemães não podem, em nenhum momento e em nenhum lugar, estar ligados aos alvos que este sistema (Taurus) atinge. Nem mesmo na Alemanha.”
Enquanto o governo alemão lida com as consequências do vazamento, com perguntas sobre a segurança de suas comunicações internas e especulações sobre que outras discussões a Rússia conseguiu ouvir, especialistas em política de defesa disseram que a comunicação interceptada tinha claramente o objetivo de minar a estratégia da Alemanha para a Ucrânia.
Roderich Kiesewette, especialista em defesa dos democratas-cristãos da oposição, disse que a Rússia tinha vazado a reunião neste momento para especificamente: “minar a entrega do Taurus alemão”. Ele sugeriu que o vazamento foi realizado “para desviar a conversa pública” de outras questões, incluindo a morte de Alexei Navalny.
A nova doutrina militar alemã
Em entrevista ao canal alemão Der Tagesspiegel, publicada em 19 de janeiro, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius alertou que Vladimir Putin poderia atacar a aliança militar da OTAN em menos de uma década.
No final do ano passado, a Alemanha renovou a sua doutrina militar e estratégica pela primeira vez desde 2011, com o objectivo de transformar a Bundeswehr (Forças Armadas unificadas da Alemanha) num exército capaz de guerra.
“A guerra regressou à Europa. A Alemanha e os seus aliados têm mais uma vez de lidar com uma ameaça militar. A ordem internacional está sob ataque na Europa e em todo o mundo. Estamos vivendo um ponto de inflexão“, diz o primeiro parágrafo da nova doutrina.
Putin quer empurrar o Ocidente para a guerra
A Alemanha não quer tornar-se parte na guerra, sublinha o Chanceler Scholz. Para Putin, porém, Berlim já tomou parte nisso há muito tempo.
“A russofobia rouba a razão” foi lido em grandes letras brancas na televisão estatal durante o horário nobre da noite de domingo. Uma foto do chefe da força aérea alemã, Ingo Gerhartz, foi mostrada e, mais tarde, a foto do chanceler Olaf Scholz foi mostrada repetidas vezes.
Dmitry Kiselyov, apresentador do principal programa “Notícias da Semana”, disse que Olaf Scholz estava fraco e teria sido traído por seu próprio exército, que planejava destruir a ponte da Crimeia com mísseis de cruzeiro Taurus pelas suas costas.
O apresentador citou em detalhes a gravação da uma reunião entre oficiais da Bundeswehr e tratou da questão como se um ataque Taurus pelos ucranianos com a ajuda dos alemães fosse iminente.
O que o apresentador não mencionou no seu programa foi que a ronda estava em preparação para um briefing para o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, durante o qual foram discutidos aspectos de um hipotético destacamento do Taurus pelo exército ucraniano. Mas, como ficou claro desde o início na conferência telefônica dos oficiais, não era isso que o Chanceler Scholz queria.
Tratava-se de uma discussão de cenário entre oficiais militares. Para o aparelho de propaganda russo, porém, seria evidência de que a Alemanha estaria provavelmente disposta a atacar alvos russos na guerra da Ucrânia.
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