“Abertamente judeu”, por Ayaan Hirsi Ali
“Não podemos fingir que não há diferença entre protestos pacíficos e aqueles que são acompanhados de uma ameaça de violência islâmica. Não podemos fingir que não há diferença entre as diferentes concepções do bem, da sociedade justa, da dignidade humana", escreve Hirsi Ali
A escritora somali-holandesa e ex-muçulmana, Ayaan Hirsi Ali comentou, em seu mais recente artigo, o caso do judeu que, elegantemente vestido, de terno e pequeno quipá, aproxima-se de um protesto pró-Palestina, em Londres, no dia 13 de abril, e é interpelado por um policial britânico com o seguinte alerta:
“Você é abertamente judeu, esta é uma marcha pró-Palestina, não estou acusando você de nada, mas estou preocupado com a reação à sua presença”
Antes de explicar o quão problemática é essa situação, a escritora faz a ressalva de que o protesto pacífico e respeitador da lei é uma liberdade cívica fundamental na sociedade ocidental. O que, segundo ela, é totalmente intolerável é “que alguém – principalmente um cidadão britânico – se sinta inseguro nas ruas de Londres porque parece ´abertamente judeu´.
O fato de um agente da polícia britânica, um agente do Estado sugerir que ser “abertamente judeu” nas ruas de uma grande cidade ocidental é perigoso, parece a Hirsi Ali algo ainda mais chocante do que os slogans antissemitas gritados na marcha pro-Palestina.
Não se trata de acusar o agente de polícia de antissemitismo pessoal ou oficial, mas de acusar a normalização de algo anormal, inquietante e perigoso. Na fala do policial, há uma admissão implícita de que as manifestações não são pacíficas, uma vez que alguém “abertamente judeu” que passasse próximo a ela não estaria a salvo.
O judeu em questão – que se chama Falter e é executivo-chefe da Campanha Contra o Antissemitismo – insiste em se aproximar do protesto argumentando: ´A Polícia Metropolitana diz que estas marchas são completamente seguras para os judeus, não há problema algum´. Ele está disposto a verificar empiricamente a validade da declaração.
O fato é que não se trata de um protesto totalmente pacífico: “muitos dos manifestantes terão preocupações perfeitamente legítimas sobre as vítimas civis em Gaza. Alguns deles, sem dúvida, também marchariam pela Ucrânia, ou deplorariam o uso da violência por regimes violentos e assassinos, de Pequim a Baku, mas, aparentemente, nem todos eles”.
Hirsi Ali afirma que a Polícia Metropolitana de Londres está ciente de que há uma presença real nestes protestos de um elemento islâmico antissemita e pergunta:
“Como é possível permitir que estes protestos semanais continuem, pelo menos na sua forma atual, se for esse o caso? Se outro protesto político semanal surgisse com uma grave ameaça de violência racista ou religiosa, seria permitido que continuasse? Parece difícil acreditar que qualquer marcha em grande escala que acompanhasse um risco regular de gritos de supremacia branca ou violência fosse durante muito tempo tolerada nas ruas da capital britânica”.
O protesto ao qual Ali se refere foi marcado, como a maioria dos protestos pró-palestina desde outubro o são, por slogans antissemitas:
“Foram relatados cartazes com o slogan “Bem-vindo a Gaza, geminada com Auschwitz”. Os manifestantes gritaram o chamado Khaybar Chant: Khaybar, Khaybar, ya yahud! Jaish Muhammad soufa yaʿoud! (“Khaybar, Khaybar, ó judeus, o exército de Maomé retornará”). O canto refere-se ao massacre de aliados judeus supostamente traiçoeiros por Maomé na Batalha de Khaybar. É uma ameaça implícita de violência islâmica contra os judeus – não se restringe aos “ocupantes” israelenses, nem pretende representar qualquer futuro palestino supostamente secular ou inclusivo. Para os islamitas, este é o subtexto de ´Do Rio ao Mar´”, explica a ex-muçulmana.
Restaurando Espaços Públicos
É incrível que uma pessoa que padeceu sob a dureza do tribalismo do Islã precise lembrar às sociedades ocidentais o seu próprio valor e o risco que correm:
“As sociedades ocidentais precisam compreender, – precisam se lembrar daquilo que todos sabíamos – que a paz, a ordem e as liberdades legítimas precisam de ser mantidas ativas publicamente. Esta manutenção precisa vir do Estado, da sociedade civil e de todos os cidadãos como indivíduos livres”, Explica Hirsi Ali, e continua:
“Não podemos fingir que não há diferença entre protestos pacíficos e aqueles que são acompanhados de uma ameaça de violência islâmica. Não podemos fingir que não há diferença entre as diferentes concepções do bem, da sociedade justa, da dignidade humana.
Não podemos ficar cegos à forma como alguns grupos islâmicos – entre eles os apoiadores do Hamas e do Al-Quds – têm uma boa compreensão de como exercer o poder na praça pública. Eles sabem como exercer pressão sobre os agentes do Estado e como projetar força política nas ruas. Este não é um fenômeno ingênuo.
O Islamismo é um mundo onde a minarete domina tudo. São as gavinhas esvoaçantes da burca cobrindo as mulheres como uma videira invasora em um jardim outrora florescente. É a reunião na praça que proclama “este é o nosso espaço agora”. É o azan lançado em voz alta contra os cristãos, judeus ou seculares em parte da cidade até que, um dia, não restem mais partes não-muçulmanas da cidade. Os cristãos de Istambul e os judeus de Bagdá descobriram isso da maneira mais difícil. Rezo para que não se dê o mesmo com os agnósticos endinheirados de Mayfair e Chelsea.
Talvez o Estado britânico possa aprender a diferenciar entre protestos legítimos (por mais equivocados que sejam) e marchas que proclamam a conquista.
O Ocidente precisa recuperar e promover ativa e publicamente algumas ideias básicas sobre a nossa paz pública partilhada. Sobre as lealdades e responsabilidades comuns dos cidadãos. A praça pública pode certamente ser tolerante com uma grande variedade de grupos políticos e religiosos, mas não pode ser neutra. A tentativa de neutralidade pública é um vácuo que grupos pouco benevolentes estão sempre prontos a preencher.
Numa sociedade livre e democrática, a política quotidiana do governo interno, das atividades estrangeiras, das finanças, etc., deve ser constantemente debatida. Isto é certo e justo. Mas, ao mesmo tempo, as democracias ocidentais devem exigir – em praça pública – lealdade e não ideias vagas de neutralidade processual e inclusão superficial. Em vez disso, precisamos articular muito melhor a importância da paz pública, da autoridade legítima dos nossos Estados, da fraternidade mútua com os nossos concidadãos, do respeito pela lei e da dignidade de todos os seres humanos.
Isto não equivale a intolerância preconceituosa. Um país pode estar seguro de si e dos seus requisitos fundamentais, e ainda assim aceitar recém-chegados ou visitantes. As pessoas normalmente deveriam ser livres de protestar contra a política externa de um governo ou de se solidarizar com aqueles que consideram serem oprimidos no estrangeiro. Mas o acordo político precisa ser mais claro e ser articulado de forma simples: rejeitando a intimidação, a violência, o extremismo antissemita e sa procura do poder por meios inconstitucionais. É a diferença entre ter um partido social-democrata de estilo europeu, cumpridor da lei, no parlamento de um país e tolerar a violência política organizada ou a espionagem estatal por parte de grupos comunistas. Os estados ocidentais por vezes se beneficiam do primeiro, mas devem ter a autoconfiança para erradicar o segundo.
Se não melhorarmos neste aspecto, a nossa esfera pública ficará cada vez mais vulnerável a aquisições hostis. O momento presente é um canário na mina de carvão. Se não melhorarmos, corremos o risco de ver mais dos nossos concidadãos severamente advertidos sobre os perigos de sermos ´abertamente judeus´”.
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