“A Europa não consegue se defender sozinha”

26.03.2025

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“A Europa não consegue se defender sozinha”

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Alexandre Borges
4 minutos de leitura 24.03.2025 10:09 comentários
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“A Europa não consegue se defender sozinha”

O economista alemão Wolfgang Münchau analisa=ou como a União Europeia ficou indefesa diante da Rússia e dos Estados Unidos — e por que será impossível mudar isso nas próximas décadas

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Alexandre Borges
4 minutos de leitura 24.03.2025 10:09 comentários 1
“A Europa não consegue se defender sozinha”
Foto: Reprodução

O economista alemão Wolfgang Münchau publicou neste domingo, 23, no UnHerd, o artigo intitulado “Why Europe can’t defend itself” (“Por que a Europa não consegue se defender sozinha”, em tradução livre).

O texto é uma crítica direta à dependência militar e tecnológica da União Europeia em relação aos Estados Unidos e à sua desunião frente às ameaças da Rússia.“Existe uma possibilidade remota de que os europeus consigam se unir para enfrentar um ou outro. Mas não os dois”, afirmou.

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Segundo ele, os países da Europa estão divididos em três blocos: os que querem conter a Rússia, como os bálticos, os que querem autonomia em relação aos EUA, como a França, e os que não querem se envolver.

Mesmo países como a França, que possui armas nucleares, “não têm capacidade para oferecer aos demais membros da UE o mesmo nível de proteção fornecido pelos EUA”. A solução encontrada pelos europeus é aumentar os gastos militares, copiando a Alemanha e flexibilizando as regras fiscais para acomodar o orçamento de defesa.

Mas o autor é taxativo: “Nenhum volume de investimento nos livrará da dependência americana num futuro próximo.” A lacuna tecnológica é grande demais e reconstruir setores industriais do zero leva décadas. “A Europa está muito longe da vanguarda da tecnologia de defesa do século 21.”

O colapso europeu em áreas estratégicas já é visível.

“A Alemanha, que construía as melhores usinas nucleares do mundo, encerrou todas elas em 2023. Hoje, tem apenas oito pesquisadores dedicados à pesquisa nuclear, contra 173 em estudos de gênero.” Segundo Münchau, isso ilustra o que acontece “quando você destrói um setor industrial: ele não pode ser simplesmente reativado”.

Enquanto isso, os EUA investiram pesado em tecnologia desde a Segunda Guerra. “Do Projeto Manhattan aos transistores, dos circuitos integrados à internet, a inovação militar americana teve impacto civil. Enquanto os EUA investiam em IA, os europeus estavam preocupados com acordos climáticos.”

O atraso é tão grave que “o Exército alemão ainda usa fax” e a Europa mal consegue desenvolver mísseis balísticos, satélites com inteligência artificial ou técnicas avançadas de guerra cibernética.

A perspectiva de alcançar a Rússia em capacidade de defesa é “risível”, segundo Münchau.

Mesmo com mais recursos, a indústria europeia teria que importá-los dos EUA – e esbarra em outro obstáculo: “Não há maioria política em Paris ou Berlim disposta a cortar gastos sociais para comprar armas americanas.” Países como Itália e Espanha já abandonaram a remilitarização.

O Reino Unido, essencial para qualquer arquitetura de segurança europeia, foi deixado de lado no novo fundo de defesa de 150 bilhões de euros, que inclui Japão e Coreia do Sul, mas ignora Londres. “Isso mostra que tudo continua como sempre“, criticou.

Outro problema estrutural apontado no artigo são as demografias europeias. Falta gente jovem disposta a servir. Há países debatendo o retorno do serviço militar obrigatório, curiosamente impulsionado por políticos de esquerda –“os mesmos que fugiram do alistamento no passado”.

Para Münchau, o cenário atual foi moldado por decisões da então chanceler Angela Merkel.

Entre elas, a mais importante foi a recusa em fortalecer as instituições da UE durante a crise do euro em 2012. Ali, diz ele, “a Europa perdeu a chance de criar uma união fiscal”. Resultado: “ficamos presos ao dólar, aos mercados financeiros americanos e à defesa americana.”

Mesmo após a invasão da Ucrânia em 2022, “a discussão sobre integração desapareceu”.

Uma proposta tímida do Parlamento Europeu em 2023 para reformar os tratados da UE já foi abandonada. Só agora, em 2025, com o retorno de Trump e a continuação da guerra, “a Europa entrou em pânico”.

Segundo Münchau, existe um clichê de que os europeus só tomam decisões diante de grandes crises. “Tiveram uma crise financeira. Tiveram uma pandemia. Tiveram Putin. E não acordaram.”

Quem é Wolfgang Münchau

Wolfgang Münchau é economista e jornalista alemão, especialista em política europeia e economia internacional.

Foi colunista do Financial Times por mais de uma década e é cofundador do Eurointelligence, plataforma de análise sobre assuntos da União Europeia.

Já colaborou com veículos como Spiegel e UnHerd, e é autor de livros sobre a crise do euro e os desafios institucionais da Europa.

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Alexandre Borges

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Comentários (1)

Marian

24.03.2025 18:55

É isso mesmo. Não consegue e errou, está errando e pagará o preço infelizmente.


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