75 anos da Otan: velhos e novos desafios
A Otan completa, nesta quinta-feira, 04 de abril de 2024, 75 anos. A aliança sobreviveu a muitos desafios, mas a sua hora mais delicada pode ainda estar por vir.
Quando a Organização do Tratado do Atlântico Norte – Otan – foi lançada em 4 de Abril de 1949, a Guerra Fria já estava em pleno andamento. No ano anterior, o tirano soviético Josef Stalin apoiou o golpe de Estado de Fevereiro na Checoslováquia e impôs um bloqueio a Berlim Ocidental para impedir a fundação da República Federal da Alemanha.
A Otan foi fundada por doze signatários sob a influência da Segunda Guerra Mundial que resultou em 36,5 milhões de mortes na Europa.
Os objetivos eram dissuadir a União Soviética através da força militar, integrar a Europa – e impedir que o nacionalismo militante se espalhasse novamente na Europa.
A síntese do objetivo inicial foi transmitida pelo primeiro Secretário-Geral da Otan, Lord Ismay: “manter os russos afastados, manter os americanos no jogo e manter os alemães abaixo”.
A Otan completa, esta quinta-feira, 04 de abril de 2024, 75 anos. E ela se encontra em um ponto delicado de sua história.
A guerra na Ucrânia, iniciada pelo presidente russo, Vladimir Putin, não está ocorrendo apenas na Europa Oriental. Ao mesmo tempo, o parceiro militar mais importante da aliança, os EUA, ameaça afastar-se. Se o ex-presidente Donald Trump regressar à Casa Branca nas eleições norte-americanas de Novembro, existe o risco de o seu lema “América em primeiro lugar” regressar. Os republicanos de Trump no Congresso dos EUA já estão bloqueando 60 bilhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia.
A reunião em curso dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Otan discutirá como a Otan poderia assumir mais responsabilidade pela coordenação do equipamento militar e do treino para a Ucrânia e ancorar isto num quadro sólido, conforme declaração do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na quarta-feira, 3, em Bruxelas, onde propôs um pacote militar conjunto no valor de 100 milhões de euros.
Primeiros desafios da OTAN
A crise atual, porém, não é a primeira fase difícil para a aliança. Em 1949, os soviéticos detonaram o seu primeiro teste nuclear e, em 1950, a Coreia do Norte comunista invadiu a Coreia do Sul, iniciando a Guerra da Coreia.
Tendo acabado de ser fundada, a Otan tinha apenas doze membros e nenhuma estrutura militar à altura. Percebeu-se que era urgente uma estrutura de comando com um quartel-general militar. O primeiro comandante europeu foi o general dos EUA e mais tarde presidente Dwight D. Eisenhower. O secretariado civil seguiu logo depois. Essa estrutura ainda existe hoje.
Em 1952, a Grécia e a Turquia aderiram à OTAN, seguidas em 1955 pela República Federal da Alemanha Ocidental. Em resposta à adesão da Alemanha, a União Soviética fundou o Pacto de Varsóvia com os estados socialistas da Europa Oriental.
O Muro de Berlim foi construído em 1961. Nessa altura, a Otan disse que decidiu pela doutrina estratégica da “retaliação massiva”: se a União Soviética atacasse, a aliança responderia com armas nucleares.
A crise dos mísseis cubanos, na qual a União Soviética e os EUA evitaram por pouco a guerra nuclear, em 1962, depois de Moscou querer estacionar mísseis nucleares na ilha comunista, ocorreu longe da Otan e da Europa – e ainda assim teve um grande impacto na aliança. Na ocasião, o Presidente dos EUA, John F. Kennedy, introduziu uma nova doutrina que renunciava à estratégia extrema – seja a paz ou a guerra nuclear total. O seu novo conceito era de “resposta flexível” e previa uma resposta militar abaixo do limiar nuclear.
Início do desarmamento
Em 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão e implantou mísseis SS20 com ogivas nucleares na Europa Oriental. A OTAN enfrentava a sua pior crise de segurança. Depois de uma dura luta, respondeu em Dezembro de 1979 com a chamada decisão dupla da Otan: queriam negociar com a União Soviética o desmantelamento dos mísseis SS20 – mas se essas negociações falhassem, queriam implantar a bomba nuclear de médio alcance Pershing II dos EUA.
A dupla decisão provocou protestos tempestuosos na Europa Ocidental. No início da década de 1980, o movimento pela paz mobilizou centenas de milhares de pessoas.
Os mísseis Pershing foram, no entanto, estacionados em 1983, também na Alemanha – porque as negociações de desarmamento entre os EUA e a URSS tinham falhado. Só quando Mikhail Gorbachev assumiu o cargo de chefe de Estado e líder do partido da URSS em 1985 é que o desarmamento ganhou impulso.
Em 1987, os EUA e a URSS assinaram o primeiro tratado sobre o desarmamento de mísseis nucleares de alcance intermédio, que é agora visto como o primeiro sinal do fim da Guerra Fria.
As guerras na desintegração da Iugoslávia destruíram subitamente a esperança de paz na Europa. Em 1995, a aliança bombardeou posições sérvias da Bósnia, que repetidamente levaram a cabo massacres de civis na Bósnia-Herzegovina. Foi o primeiro destacamento militar da Otan na Europa. Foi controverso, mas trouxe os sérvios à mesa de negociações e levou ao Acordo de Paz de Dayton.
Novos desafios
Desde o início, o elemento central da Otan foi o Artigo 5 do seu tratado, a chamada garantia de assistência, segundo a qual um ataque contra um ou mais membros será considerado um ataque contra todos eles. Esta clásula só foi declarada uma vez, após os ataques terroristas islâmicos aos EUA em 11 de Setembro de 2001.
Os parceiros da Otan ficaram do lado de Washington e a operação conjunta “Liberdade Duradoura” protegeu o espaço aéreo dos EUA do grupo terrorista Al-Qaeda. Vários parceiros da Otan participaram nos ataques a bases terroristas no Afeganistão, que, ao mesmo tempo, derrubaram o regime radical islâmico Talibã.
O 11 de Setembro mudou a Otan. Seguiram-se ataques terroristas islâmicos aos transportes públicos em Madrid e Londres em 2004 e 2005, resultando em muitas mortes. Àquela altura, acreditava-se que as maiores ameaças à segurança transatlântica já não vinham da Europa, mas sim de perigos situados fora do continente.
Aniversário da OTAN: Ameaça da Rússia
Com a invasão da Ucrânia, a Otan voltou subitamente a ser central para a segurança da Europa; os estados ao longo do seu flanco oriental veem nela uma garantia de sua existência. A Finlândia e a Suécia desistiram da sua neutralidade e aderiram à OTAN em 2023 e 2024. A “Steadfast Defender”, a maior manobra da Otan desde o fim da Guerra Fria, está atualmente em curso e simula o deslocamento de tropas para leste há meses.
A Otan sobreviveu a muitos desafios, mas a sua hora mais delicada pode ainda estar por vir. Muitos especialistas militares acreditam que se a Rússia vencer na Ucrânia, estará em posição de desafiar a Otan dentro de alguns anos. A aliança deve preparar-se para isto.
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