Os ‘apitos de cachorro’ de Filipe Martins
O termo "apito de cachorro" (dog whistle) é usado no debate político americano para se referir a mensagens que parecem inocentes ao público geral, mas têm outro significado para um público específico...
O termo “apito de cachorro” (dog whistle) é usado no debate político americano para se referir a mensagens que parecem inocentes ao público geral, mas têm outro significado para um público específico.
A definição aparece, entre outros livros, no Safire’s Political Dictionary (2008), do jornalista William Safire. O termo “apito de cachorro” é usado porque os cachorros são capazes de ouvir sons inaudíveis para os humanos.
O ‘dog whistle’ é uma das táticas favoritas da extrema direita na internet. Ele se encaixa perfeitamente na cultura dos trolls, como são chamados aqueles que publicam mensagens com o objetivo de irritar pessoas e provocar reações.
A pessoa que solta um ‘dog whistle’ sempre pode dizer que, na verdade, estava apenas fazendo algo inocente. Portanto, todos os que reagem são histéricos.
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O assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, já deu alguns apitos.
Em julho de 2018, antes de assumir o cargo, publicou no Twitter: “A Bélgica é a Babel moderna, o epicentro do globalismo, um ninho de cosmopolitas que não possuem qualquer laço nacional; não chegando nem mesmo a ser um país. Eles nos derrotaram hoje, mas em breve escalaremos um camisa 17 pra ajudar a acabar com tudo o que eles representam”. Naquele dia, o Brasil foi eliminado pela Bélgica na Copa do Mundo. Martins já deletou essa mensagem.
Em abril de 2019, Martins atualizou sua conta no Twitter com uma imagem de um ataque de cavalaria, e a frase “Do not go gentle into that good night”.
A frase abre o poema “Não vás tão docilmente nessa noite linda”, de autoria do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953).
Martins publicou a imagem da cavalaria um mês depois da chacina nas mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia, executada pelo terrorista australiano Brenton Tarrant, que matou 51 pessoas. Tarrant publicou um manifesto cujo prefácio é o poema “Não vás tão docilmente nessa noite linda”.
Também em abril de 2019, a Catedral de Notre-Dame, em Paris, pegou fogo. Martins comentou com um versículo de Lucas: “E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão”.
Ontem (24), no Senado, Filipe Martins ajustou a lapela do paletó de um jeito um tanto incomum.
O que tudo isso significa? Para quem não escuta, nada.
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