Rodolfo Borges na Crusoé: Uma saidinha para o futebol brasileiro
SAFs apontam um rumo para clubes que se perderam pelo caminho, mas, em apenas dois anos, modelo já mostrou que não faz milagre no Brasil
Pep Guardiola, tido por muitos como o maior técnico de futebol da história, foi o responsável por consagrar a “saidinha”.
A ideia consiste em construir a jogada de ataque desde o goleiro, atraindo o time adversário para dentro da própria área e abrindo espaços pelo campo.
Quando dá certo, a saidinha, ou “salir de novios” (sair como namorados), que Guardiola aprimorou a partir da observação do trabalho do argentino Ricardo La Volpe na seleção do México, é hipnotizante.
Quando dá errado, geralmente resulta em gol do adversário.
Foi a construção do jogo organizada e harmônica que levou Guardiola a encantar o mundo com seu Barcelona e a dominar a Premier League com o Manchester City.
Mas é ela também que estigmatizou Fernando Diniz, que pula de time em time por apostar obsessivamente nesse arriscado modelo de jogo.
SAF
O Brasil convive há dois anos com um modelo novo de administração esportiva. A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) surgiu como alternativa à organização associativa, em que os clubes são geridos por um presidente a partir da eleição de seus sócios.
Numa SAF, o clube passa a ter dono. No Botafogo, quem manda é o americano John Textor (foto), dono também do francês Lyon, entre outros clubes.
No Atlético-MG, é Rubens Menin, sócio majoritário da Galo Holding.
Botafogo e Atlético-MG, que amargaram anos em crise, com passagens pela Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro, fizeram a última final da Libertadores da América, vencida pelo clube carioca, que ganhou também o Brasileirão deste ano.
Investimento
Esse é o lado glamouroso das SAFs, que contam com muito dinheiro em seus primeiros anos, já que a venda dos clubes envolve o compromisso de investir em suas estruturas, por meio de um plano de negócios.
Mas nem todo mundo tem dinheiro para despejar eternamente na compra de jogadores — o Botafogo, depois de investir como nunca, já dá sinais de que deve seguir para a próxima temporada mais humilde, assim como o Atlético-MG.
O desafio está em tornar o time de futebol rentável.
Reestruturação
“A maioria das SAFs é pequena, são de divisões inferiores, séries C, D, Campeonato Paulista de segunda e terceira divisão. Para essas, tem sido bom, porque estão agregando investimento”, diz o economista César Grafietti, que se tornou referência em gestão do esporte no Brasil.
Para Grafietti, esse trabalho nos clubes menores, que chamam menos atenção do que as SAFs maiores, como a do Cruzeiro ou do Vasco, tem o potencial de reestruturar o futebol brasileiro ao injetar profissionalismo em um ambiente que claramente não soube acompanhar o avanço ocorrido na Europa, o maior mercado do mundo.
“Estamos numa fase de amadurecimento da estrutura, porque o mercado estava completamente desestruturado e quase em estado de falência geral”, diz o especialista.
Altos e baixos
O Botafogo claramente conseguiu elevar a qualidade de seu futebol e a estrutura do clube. O Atlético-MG ergueu seu estádio antes de virar SAF, mas graças ao apoio daquele que se tornaria seu dono.
O Bahia também contou com uma boa injeção de recursos do grupo City e chegou a assustar os adversários no Campeonato Brasileiro, o que não ocorria há muito tempo.
Por outro lado, o Cruzeiro trocou de dono após menos de dois anos. Ronaldo Fenômeno organizou o clube, mas a torcida exigia mais, e Pedro Lourenço adquiriu a SAF com disposição para gastar mais.
Já o Vasco procura outro dono após a parceria com a 777 Partners dar errado e o time enfrentar risco de rebaixamento mesmo após investir no elenco.
Flamengo e Palmeiras
Apesar de as SAFs terem entrado na moda e povoarem os sonhos de torcedores Brasil afora, os dois clubes a serem batidos no país atualmente ainda são Flamengo e Palmeiras, que não precisaram abandonar o modelo associativo para se arrumar.
O Palmeiras contou com um mecenas, Paulo Nobre, mas fez o dever de casa com os empréstimos que recebeu e conseguiu perpetuar uma organização que rendeu duas Libertadores e quatro Brasileiros após o clube cair para a Segunda Divisão por duas vezes.
Já o Flamengo…
Siga a leitura em Crusoé. Assine e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)