Rodolfo Borges na Crusoé: A lógica do cisne catalão
Com Guardiola em crise, a única certeza do futebol mundial é que o Real Madrid vai dar algum jeito de ganhar outra Champions
Pep Guardiola perdeu oito de seus últimos 11 jogos à frente do Manchester City. Isso nunca tinha acontecido. O treinador catalão nem sequer tinha perdido cinco jogos seguidos em toda sua carreira de treinador, iniciada em 2007.
A sequência de derrotas é chocante, mas apenas porque o mundo do futebol se acostumou com a sequência de vitórias também chocante de Guardiola.
Foi ele que comandou o Barcelona mágico de Messi, Xavi e Infesta de 2008 a 2012, quando o clube ganhou a Champion League duas vezes e três campeonatos espanhóis — foram 14 títulos no total.
Improvável
No Bayern de Munique, o aproveitamento foi de 80%, com três conquistas do Campeonato Alemão, mas nenhum título continental, o que, para o padrão estabelecido no Barcelona, manchou seu currículo.
Na Inglaterra, o título continental demorou, mas chegou na temporada 2022/2023, e acompanhado por quatro conquistas da bilionária Premier League. Guardiola parecia imbatível até a atual série de derrotas.
“O mundo é dominado pelo extremo, pelo desconhecido e pelo muito improvável”, diz Nassin Nicholas Taleb em A Lógica do Cisne Negro — o impacto do altamente improvável (Objetiva).
Deyverson
Quem assiste com alguma assiduidade a partidas de futebol está bem acostumado com essa perspectiva. Basta ver o recém-contratado Deyverson marcando gols decisivos e carregando o Atlético-MG para a final da Libertadores da América.
O mesmo atacante, que já tinha sido decisivo no título do Palmeiras contra o Flamengo em 2021, sumiu na final do torneio continental deste ano, que o Botafogo, também de maneira improvável, venceu por 3 a 1 com um jogador a menos desde os primeiros segundo de jogo.
Taleb reclama no livro, que se tornou um clássico do mundo dos investimentos, da pretensão dos especialistas de tentar prever o futuro, cujos caminhos estão submetidos ao acaso, praticamente impossível de considerar em projeções.
“O melhor livro não charlatanesco de finanças que conheço é chamado O que aprendi perdendo 1 milhão de dólares, de D. Paul e B. Moynihan. Os autores tiveram de pagar a publicação do livro com o próprio dinheiro”, diz o libanês.
“Animais que buscam explicações”
“Somos animais que buscam explicações, com uma tendência a pensar que tudo possui uma causa identificável e a agarrar a causa mais aparente como sendo a explicação”, comenta o autor de Antifrágil (Objetiva) e Arriscando a Própria Pele (Objetiva).
Ele completa: “Mas pode ser que não haja um porquê visível; pelo contrário, frequentemente não há nada, nem mesmo um espectro de explicações possíveis”.
Como o Manchester City de Guardiola conseguiu perder para o Manchester United de Rúben Amorim? Como pôde perder por 4 a 0 para o Tottenham? E até para o Brighton!
O chefe
“Eu sou o chefe, sou o técnico e não sou bom o suficiente. É simples assim. [É preciso] Encontrar uma maneira de falar com eles [ os jogadores], treiná-los, como temos que jogar e pressionar, como construir. Eu não sou bom o suficiente. Eu não estou bem, essa é a verdade”, admitiu Guardiola após a última derrota.
Esse estado de atenção, que marcou a carreira de Guardiola, deve ser fundamental para superar a crise. O problema pode até não ser ele, mas a única perspectiva de melhorar é assumir o problema e se convencer de que é possível fazer alguma coisa, sem depender do acaso — e apesar dele.
“Suspeito que os negócios mais bem-sucedidos são precisamente os que sabem como contornar a imprevisibilidade inerente e até mesmo explorá-la”, comenta Taleb. E o futebol é o esporte mais imprevisível, no qual mesmo que o time que joga melhor pode perder.
“Você é um Cisne Negro“
Depois de passar o livro inteiro dando lições e contando histórias de como constrangeu executivos e especialistas em público sem nem tentar esconder a própria presunção, Taleb termina o livro com uma mensagem carinhosa…
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