“A percepção dos investidores é que o governo abandonou o regime fiscal”
A equipe econômica de Paulo Guedes perdeu a pouco credibilidade que mantinha com a gambiarra no teto de gastos aprovada em comissão especial da Câmara para bancar um Auxílio Brasil de R$ 400. A avaliação é do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e crítico das medidas eleitoreiras de Jair Bolsonaro...
A equipe econômica de Paulo Guedes perdeu a pouco credibilidade que mantinha com a gambiarra no teto de gastos aprovada em comissão especial da Câmara para bancar um Auxílio Brasil de R$ 400. A avaliação é do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e crítico das medidas eleitoreiras de Jair Bolsonaro.
“A percepção dos investidores é que o governo abandonou o regime fiscal. Estão usando um casuísmo, que é a mudança no indexador, para elevar o teto de gastos mais a questão de deixar de pagar os precatórios. Tudo isso para expandir um programa social sem ser obrigado a cortar gastos públicos, como fundo eleitoral, emendas de relator que beneficiam a base parlamentar do presidente”, disse.
Segundo Schwartsman, a economia brasileira registrará inflação acima da meta em 2022, baixo crescimento e juros acima de dois dígitos.
O que a gambiarra no teto de gastos significa para a economia brasileira?
A percepção dos investidores é que o governo abandonou o regime fiscal. Estão usando um casuísmo, que é a mudança no indexador, para elevar o teto de gastos mais a questão de deixar de pagar os precatórios. Tudo isso para expandir um programa social sem ser obrigado a cortar gastos públicos, como fundo eleitoral, emendas de relator que beneficiam a base parlamentar do presidente. Em última análise, o que estão fazendo é caridade com o chapéu alheio. A repercussão foi péssima. O entendimento é que a máscara caiu.
O governo e a equipe econômica perderam a pouca credibilidade que tinham na gestão das contas públicas?
Já não tinham muita credibilidade. No ano passado e nesse, a criação e a renovação do auxílio emergencial eram compreensíveis. Agora, os ditames da política fiscal estão submetidos à questão eleitoral.
O que acontece com a economia, a partir dessa nova realidade fiscal?
A gente já está vendo os impactos dessa mudança. O dólar está na casa dos R$ 5,70. Há poucas semanas a moeda custava R$ 5,40. Isso tem um impacto sobre a inflação, via preços de combustíveis e preços de importados. Isso acaba levando a um aumento da taxa de juros pelo Banco Central, além do que era planejado. Também tem impacto na atividade econômica. Há uma percepção de risco maior que se traduz em juros maiores. Tudo isso colabora para que o país cresça menor. Tudo que foi feito a partir de 2016 está sendo desfeito.
Os juros em dois dígitos são uma realidade em 2022?
Isso ainda não está claro, mas o risco certamente aumentou. Eu trabalhava com a estimativa de o Banco Central encerrar o ciclo de aperto monetário com a taxa de 9,5% ao ano. Minha projeção está um pouco acima do consenso de mercado, de 9% ao ano. Mas está perto dos dois dígitos. Agora há um risco bastante concreto.
O que os juros mais altos significam para a economia? Teremos estagflação em 2022?
O ritmo de alta da inflação vai cair em 2022. Não teremos exatamente estagflação. Não quer dizer que inflação estará na meta no próximo ano. Não deve ser uma taxa tão alta quanto a de 2021. O IPCA na casa de 4,5% e 5%, comparado com os 8,5%, 9%. Ela cai, mas permanece acima da meta.
O processo de recuperação econômica acabou? Os próximos dois anos serão de baixo crescimento?
Em 2022 teremos baixo crescimento. Mas 2023 ainda está longe. No Brasil é complicado fazer previsões para um horizonte longo. O rumo da política não parece ser o melhor possível. O mais provável hoje é uma eleição polarizada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. E nenhuma das alternativas, do ponto de vista de política econômica, é boa. Se essa polarização se consolidar teremos dificuldade para retomar um ritmo de crescimento sustentável.
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