Explicando a decadência do Oscar
Esquecido pelo público, o Oscar chega à 94ª edição copiando a MTV da era pré-internet. Nesta noite, os cinéfilos pendurados no Twitter poderão eleger um dos melhores filmes do ano, em manifestação que remete ao prêmio "escolha da audiência" do Video Music Awards, o Troféu Imprensa dos videoclipes. Na década de 1990, os espectadores escolhiam entre Madonna e Aerosmith pelo telefone ou, pior, num website lentíssimo, que travava um bocado na conexão dial-up. Hoje, a escolha se dá por hashtag. #Arrasou...
Esquecido pelo público, o Oscar chega à 94ª edição copiando a MTV da era pré-internet. Nesta noite, os cinéfilos pendurados no Twitter poderão eleger um dos melhores filmes do ano, em manifestação que remete ao prêmio “escolha da audiência” do Video Music Awards, o Troféu Imprensa dos videoclipes. Na década de 1990, os espectadores escolhiam entre Madonna e Aerosmith pelo telefone ou, pior, num website lentíssimo, que travava um bocado na conexão dial-up. Hoje, a escolha se dá por hashtag. #Arrasou.
O Oscar de 2021 teve 10,4 milhões de espectadores nos EUA, dos quais 9,85 milhões assistiram à premiação em tempo real. Os 0,55 milhão restantes apelaram ao DVR, um decoder que grava a transmissão linear das redes abertas e pagas. Em 1998, quase 57,25 milhões acompanharam o “rapa” de “Titanic”. Nenhum indicado deste domingo passou perto do sucesso de James Cameron. Na verdade, todos eles comeriam poeira se comparados a títulos menos comerciais, como “Beleza Americana” ou “O Segredo de Brokeback Mountain”. O cinema precisa ser visto. E a desculpa das plataformas de streaming não cola. Amazon e Netflix continuam ganhando mais telas com reprises de “Seinfeld” e “Grey’s Anatomy” do que com os longas indicados.
A TV é outro bom termômetro do distanciamento entre o público, que não se cansa de enriquecer a Marvel e a DC, e o Oscar. Nenhum canal pago ou aberto, seja no Brasil, seja nos EUA, dá grande atenção aos vencedores do prêmio de melhor filme. Antigamente, Telecine e HBO se engalfinhavam para garantir a exibição do vencedor. Na TV aberta, a Globo reservava uma segunda-feira premium para rodar o longa na “Tela Quente”. Hoje, os ganhadores são depositados em sessões alternativas, com horários dignos das piores reprises da RedeTV!, que em comum com o Academy Awards só tem uma coisa: o desespero por melhores índices de audiência.
Os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas têm batido muito na tecla da diversidade para atrair telespectadores. Uma das medidas mais comemoradas foi a ampliação da rede de membros votantes, com foco nos profissionais que residem fora dos EUA. Seria muito melhor usar essa energia estimulando roteiros atraentes. Hoje, os profissionais de Hollywood pensam na pauta antes de esqueletar a história. O resultado é esse mesmo: pilhas de filmes pretensiosos que só agradam escribas de revistas segmentadas. Ninguém mais lê revistas. Especialmente as revistas segmentadas.
O Oscar 2022 não será exibido pela TV Globo. Com o Big Brother Brasil em alta, a última coisa que ela quer é afundar como um Titanic.
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