Empresária se muda para África do Sul para fugir do racismo
A história de Bia Moremi, uma mulher negra que deixou o Brasil em busca de pertencimento e encontrou um novo lar na África do Sul.
Quando o pai da empresária paulistana Bia Moremi sofreu um episódio de racismo no condomínio onde morava, em 2022, ela soube que era hora de deixar o Brasil. A ideia de sair do país já estava em seus planos há muito tempo, mas esse evento foi o gatilho que faltava para tomar a decisão definitiva. Moremi, bacharel em química, estava cansada da violência e da degradação de Santa Cecília, um bairro no centro de São Paulo.
Além do desgaste com o ambiente inseguro, outra preocupação para Moremi era o preconceito racial. “Se quisesse morar em um bairro melhor, necessariamente esbarraria em uma classe média extremamente racista”, comenta. O episódio com seu pai serviu como um lembrete da realidade de discriminação racial que ela também enfrenta como mulher negra.
Redescobrindo a África do Sul: O Novo Lar de Bia Moremi
Escolher um novo lugar para chamar de lar não foi tarefa difícil para Moremi. Desde sua primeira visita à África do Sul em 2019, ela se apaixonou pelo país. Já havia morado brevemente na França e na Alemanha, mas nada foi capaz de encantá-la tanto quanto as cidades de Joanesburgo e Cidade do Cabo.
As paisagens cênicas, o estilo de vida dos sul-africanos e a diversidade linguística — com mais de dez línguas oficiais — foram alguns dos fatores que a cativaram. “É bobagem achar que África do Sul se resume a safari. Tem tanta gente legal, tanta música, tantas festas”, afirma Moremi.
Por Que a África do Sul? Entendendo a Escolha
A decisão de se mudar para a África do Sul foi motivada por vários fatores, entre eles o desejo de sentir um pertencimento racial que nunca experimentou antes no Brasil. Mesmo tendo estudado em escolas de maioria branca e crescido num ambiente com poucos amigos negros, Bia Moremi sempre buscou se reconectar com suas raízes africanas.
- Viagens e turismo afrocentrado: Através de sua agência de turismo, Brafrika, Moremi oferece pacotes que conectam brasileiros à história da população negra.
- Programa de intercâmbio: Em novembro de 2023, ela lançou um programa de intercâmbio em inglês na África do Sul, que fez o faturamento da empresa dobrar.
Como a Pandemia Mudou os Planos de Moremi?
Até o início de 2020, a Brafrika havia realizado dezenas de passeios turísticos e esperava receber um grupo de americanos após o Carnaval. Contudo, a pandemia de Covid-19 trouxe mudanças significativas. Com a suspensão das viagens, a empresa focou em oferecer exames de DNA para descobrir a ancestralidade.
A proposta inicialmente era que as pessoas descobrissem suas origens para, em seguida, viajarem para esses lugares. Durante a pandemia, Moremi adaptou o serviço para incluir pacotes de experiências personalizadas. “Se a ancestralidade indicasse Gana, elas receberiam um jantar típico em casa”, explica.
Além do Turismo: Exames de DNA e Conexão Ancestral
Os exames de DNA para descobrir a ancestralidade foram inspirados pelo desejo da própria empresária de conhecer suas raízes. Diferente de amigos com ascendência europeia, que conheciam bem suas origens, Moremi sentia um vazio ao não saber sobre a história de seus ancestrais.
- DNAfro Standard: O exame padrão custa R$ 550 e permite que os brasileiros descubram suas origens africanas.
Moremi conta que, após se mudar para a África do Sul, finalmente encontrou um lugar onde sente verdadeiro pertencimento. O ambiente multicultural da Cidade do Cabo e o acolhimento que encontrou por lá a ajudaram a se sentir parte de uma comunidade.
O Que Bia Moremi Ganhou Com a Mudança?
Na África do Sul, Bia Moremi encontrou não apenas um novo lar, mas também um novo estilo de vida. A qualidade de vida é um dos pontos altos, com segurança melhor, natureza exuberante e opções de entretenimento diversificadas. “Consigo circular dentro dessa bolha de uma forma aberta, seja entre pessoas de culturas diferentes. Todas me recebem muito bem”, afirma.
O futuro promete ainda mais novidades. Com os pais ainda morando no Brasil, Moremi acredita que eles podem optar por seguir seus passos. “Se minha mãe falar ‘Amei, vamos vender o apartamento em São Paulo e morar aqui’, é bem possível que meu pai aceite”, diz esperançosa.
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