Agamenon: Rock in River
Qual é o sentido da vida ? Esta questão fundamental atormenta os seres humanos desde os tempos mais remotos. Porque existimos? Quem somos? De onde viemos ? Para onde vamos? Pois eu respondo a vocês: o sentido da vida é da esquerda para direita , ou da direita para esquerda , depende do referencial, como […]
Qual é o sentido da vida? Esta questão fundamental atormenta os seres humanos desde os tempos mais remotos. Por que existimos? Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Pois eu respondo a vocês: o sentido da vida é da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda; depende do referencial, como diria Einstein.
Mas, se o sentido for sempre à direita, cada vez mais à direita, vamos acabar num precipício, pendurados na beirola do planeta Terra —que, como todos nós sabemos, é plano.
Podemos também, cada um de nós, ser avatares de um imenso e interminável game galáctico, disputado por várias civilizações extraterrestres, uma espécie de Minecraft cósmico, controlado por seres mais evoluídos que nós —ou seja, qualquer um.
É certo que alguns avatares valem mais que os outros, como o Jeff Bezos, o Elon Musk ou a figurinha dourada do Neymar, que vale 9 mil reais. Tudo isso é muito plausível desde que a Terra seja plana, uma verdade concreta e insofismável.
E o Brasil? Onde é que fica nesta história toda? Bom, o Brasil é uma espécie de game Tabajara, made in China e falsificado no Paraguai, que dá pau toda hora. Mas nem tudo é falcatrua, corrupção e picaretagem em nosso país: existem alguns defeitos também, já que o Brasil, além de plano, é chato.
Desde a sexta-feira está rolando o Rock in Rio, que neste ano acontece no Rio de Janeiro. A Barra da Tijuca se transformou no Planeta do Rock, que, como se pode constatar nas fotos, também é totalmente plano. Aproveito o evento roqueiro para deixar a política de lado e falar daquilo que eu realmente gosto na vida: dinheiro.
O megafestival que começou em 1985 se espalhou por todo o mundo e chegou até mesmo a São Paulo, onde se chama Rock in Rio Tietê. Estive presente na primeira edição do evento e pude chafurdar na lama com outros jovens que hoje em dia, envergados com o passar dos anos, sofrem de impotência, dores nas costas, demência e aposentadoria. Me lembro com saudades de assistir ao show do Queen coberto de lama, feliz como um porco no lixo. E olha que naquela época o Freddie Mercury ainda não tinha ido pro Sepultura. Aliás, durante várias edições, o Rock in Rio serviu como uma espécie de asilo para bandas que só se mantinham vivas com auxílios de aparelhos e amplificadores valvulados. Mesmo assim, os jovens faziam questão de pagar para assistir a shows dos roqueiros idosos que, mesmo caindo aos pedaços, exibiam a sua rebeldia senil contra o sistema, o mingau de papinha e as fraldas geriátricas.
Hoje isso mudou, e o Rock in Rio tem de tudo: dance, hip hop, electro, indie pop, R&B, techno, dubstep, heavy metal, trap e até mesmo rock. Só uma coisa continua a mesma: as exigências dos artistas. Quem acha que os shows acontecem nos vários palcos está redondamente enganado. O verdadeiro espetáculo acontece nos camarins, onde os organizadores fazem de tudo para satisfazer as vontades nababescas dos megastars megalomaníacos. Para isso, mandam vir de avião uma série de acepipes e comidas caríssimas que estão nos contratos dos artistas. Eu mesmo conheci uma lagosta que veio na primeira classe só para participar do bufê do Elton John. Ninguém tocou nela e eu, sempre galanteador, acabei comendo o crustáceo.
Antigamente, os shows aconteciam apenas em um palco, mas hoje existem vários espaços para todas as tribos. Tem até um Espaço Favela, onde o Ciro Gomes vai se apresentar. Sem falar no espaço para games, praça de alimentação, delegacia, supermercado, autoescola, shopping center, cassino clandestino, hospital, tirolesa e até um trepódromo patrocinado pelo John Textor, quer dizer, pela Jontex. Você pode fazer o que quiser lá, até mesmo assistir a um show —coisa que eu não pretendo fazer, para não me influenciar e atrapalhar as minhas críticas isentas e imparciais ao espetáculo de luz e cor.
Neste ano, muitos artistas estarão de volta, como o Justin Bieber, que, quando se apresentou pela primeira vez no Rock in Rio, ainda era “dimenor” e teve que fazer o show acompanhado dos pais.
Para quem gosta de heavy metal pesado, teremos o Iron Maiden, que veio no seu próprio avião trazendo os seus próprios aviões para fornecer drogas aos integrantes da banda. Por falar em drogas, no dia do heavy metal todos o(a)s candidato(a)s à Presidência confirmaram presença. Eles querem aproveitar o som do rock pesado para se debater na frente do palco.
Das atrações internacionais, eu senti falta da sensacional Anitta, que está cada vez mais estourada. Nos dois sentidos, é claro: de fora para dentro e dentro para fora.
Dizem que a “Mandonna” de Honório Gurgel queria apresentar para a massa a sua famosa bunda, a qual, bem no centro, ostenta uma sugestiva tatuagem em torno do seu pavilhão reto-furicular. Para realizar a extravagante performance, Anitta exigiu 100 mil rolos de papel higiênico egípcio no camarim.
Tem uma coisa que não entendo no Rock in Rio: por que só ficou de fora a música sertaneja, já que o agro é pop? Na verdade, o sertanejo é universitário e não se mistura com a gentalha primária do funk , do rock e do rap. O sertanejo é um outro planeta —plano, é claro.
Agamenon Mendes Pedreira é o Roberto Medina pobre.
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