Saiba os destaques da ata da reunião do Banco Central americano
O Banco Central americano (Fed) publicou a ata da sua reunião do dia 16 de março. Como é tradicional, os analistas e participantes do mercado global se debruçaram sobre o documento em busca de pistas do plano do Comitê Federal de Mercado Aberto...
O Banco Central americano (Fed) publicou a ata da sua reunião do dia 16 de março. Como é tradicional, os analistas e participantes do mercado global se debruçaram sobre o documento em busca de pistas do plano do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) para os próximos ajustes de política monetária que estão em andamento.
Depois de meses sendo expansionistas, em uma intensidade nunca vista antes, o time liderado por Jerome Powell mudou sua postura de forma rápida e intensa, indo em direção a menos estímulos e começando, nesta reunião, oficialmente, a alta de juros com o objetivo fundamental de controlar a inflação que roda em patamares não vistos desde o início da década de 80.
De forma geral, o tom foi mais restritivo e preocupado com o cenário futuro, dando a entender que talvez teria começado o ciclo de altas de forma mais agressiva, se não fosse a novidade do conflito na Ucrânia, que tinha acabado de começar e cujas consequências eram bem desconhecidas e que poderiam trazer novos riscos à estabilidade financeira do mundo.
Outra novidade foi o progresso no desenho do plano de como o Fed vai reduzir seu balanço composto por títulos públicos e privados comprados desde a pandemia: deixará o estoque ir vencendo num ritmo máximo de 95 bilhões de dólares por mês, a ser confirmado, possivelmente, a partir das próximas reuniões em 3 e 4 de maio.
A instituição foi surpreendentemente franca com a grandeza de sua surpresa com o quadro inflacionário, que se deteriorou muito nos últimos meses: uma inflação corrente de 7,0% ao ano é algo que algumas gerações nunca testemunharam. Citaram diversas métricas de inflação que vieram acima do esperado e, com isso, provavelmente exigirão uma postura ainda mais agressiva de Powell, levando o mercado como um todo a precificar amplamente uma alta de 50 pontos-base na próxima reunião.
De forma resumida, os fatos são esses. No entanto, achei que valia a pena escrever esse texto pela reação muito incomum do mercado depois dela, algo que normalmente não ocorre depois de reuniões do BC americano. Mesmo com um tom mais altista de juros e preocupado com a inflação, as taxas de juros do mercado americano se comportaram como se não estivessem acreditando nesse discurso. Nos vencimentos mais longos, de 30 anos, as taxas subiram 6 basis points, demonstrando um questionamento na capacidade das medidas anunciadas em conter a expansão econômica e a inflação, isso mesmo depois de realizar subidas agressivas desde a última reunião em um movimento tão forte que nunca havia sido visto na história americana, conforme imagem abaixo:
Taxas de juros norte-americanas com prazo de 30 anos. Fonte: Tradingview.com
Num intervalo de praticamente 4 meses, a taxa de referência para todos os financiamentos imobiliários subiu 100 pontos-base (1%), saindo de 1.67% ao ano para 2.67%. Esse movimento continuou mesmo depois da divulgação da ata e esse tipo de reação, uma vez que o Fed tem um status quase que sagrado dentro da comunidade financeira mundial, é uma anomalia.
Difícil entender exatamente as razões para tal comportamento, mas uma possibilidade é que os erros de diagnóstico do Fed (da natureza do choque inflacionário que chamou de “passageiro”, mudou para “transitório” e depois chamou de “disseminado”) tenham feito com que uma parte da população tenha perdido um pouco sua fé na instituição.
Esse tipo de coisa, nesse caso, não é tão difícil de se reconquistar, uma vez que basta Powell ser mais agressivo e surpreender as pessoas com altas de juros mais fortes, mostrando um compromisso real em conter a alta inflacionária. Mas, sendo sincero, estou no grupo que acredita que ele vai continuar pecando por ser mais expansionista e não vejo essa credibilidade sendo recuperada no curto prazo: ele não vai arriscar provocar uma queda maior na bolsa americana com medidas mais fortes.
Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv, é especialista em câmbio e macroeconomia e tem 25 anos de experiência no mercado financeiro. Passou por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.
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