Não, Randolfe, a Turquia não é exemplo de política monetária
O senador Randolfe Rodrigues (Rede) comparou o Brasil à Turquia para tentar justificar cortes na taxa básica de juros do Banco Central...
O senador Randolfe Rodrigues (Rede) comparou o Brasil à Turquia para tentar justificar cortes na taxa básica de juros do Banco Central.
“Deixa ver se eu entendi, esse comparativo mostra que o Brasil tem uma taxa de juros de 13,75% e inflação em 6,47%, enquanto o segundo colocado, Turquia, com juros de 9% tem inflação de 84,39%, e a turma “do mercado” não querer debater o tema?”, tuitou o senador.
“Qual a lógica disso?”, acrescentou.
Mostremos a lógica então.
A Turquia tem uma taxa básica de juros baixa não por causa da alta inflação, mas apesar dela, que é a segunda maior no G20, atrás apenas da Argentina.
O país modelo de Randolfe também não é uma democracia, e o autocrata Recep Erdogan (foto) aparelhou o Banco Central turco. Entre 2016 e 2020, Erdogan derrubou três presidentes do BC.
No final de 2021, em meio a alta na inflação a 20%, Erdogan assinou a redução da taxa básica de juros em cinco pontos para 14% A inflação então decolou para quase 80% em cerca de seis meses.
Apesar disso, a economia turca manteve-se em alta, com crescimento de 11% do PIB em 2021, como mostra artigo da Economist publicado em julho de 2022.
A revista britânica explica que particularidades da economia turca explicam a manutenção do crescimento.
“[A Turquia] em um grande mercado doméstico de 85 milhões de consumidores, principalmente jovens, e há muito tempo é um ponto de partida para o comércio entre o leste e o oeste”, afirma a Economist.
O consumo na Turquia é especialmente forte, apesar da inflação, o que ajudou a manter a economia em crescimento, e boa parte da riqueza da elite está em moeda estrangeira.
“A população jovem da Turquia tem uma alta propensão a consumir com ganhos de riqueza, diz um economista de Istambul. E os chefes de família abastados têm grande parte de sua riqueza vinculada a depósitos e propriedades em moeda estrangeira, que mantiveram ou aumentaram seu valor”, explica a revista.
Entretanto, a política monetária turca custou 100 bilhões de dólares em reservas internacionais no ano passado e forçou o Banco Central a adotar medidas que dificultam o acesso a crédito.
Investimento estrangeiro caiu e a manutenção do crescimento, que foi de 5% em 2022, se deu de maneira desigual, com o salário real médio na Turquia estando em queda.
Segundo outro artigo da Economist, de janeiro de 2023, “a maioria dos analistas concorda que esse modelo não pode ser sustentado. Algo terá que dar. Swaps de moeda e dinheiro da Rússia podem sustentar a lira até a eleição, mas não por muito mais tempo”.
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