Lula deveria ir para a Irlanda – e não é pela cerveja
País saiu de uma das crises financeiras mais graves da história fortalecido e com um nova mentalidade sobre gastos
Com um superávit de 8,6 bilhões de euros, o equivalente a mais de 50 bilhões de reais, e uma economia que cresceu cinco vezes mais do que o esperado no ano passado, os responsáveis pela elaboração do orçamento da Irlanda se deparam com uma situação inusitada para a maioria das economias: dinheiro sobrando para gastar.
Após a Grande Crise Financeira em 2008, que exigiu a intervenção da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Nacional) com um pacote de 67,5 bilhões de euros, e exigiu uma séria de medidas de austeridade fiscal, o governo se mantém cauteloso, enfatizando a importância de economizar para enfrentar futuros desafios relacionados a pensões, clima e infraestrutura.
A nova cultura fiscal do país, no entanto, só foi incorporada nessa última década e meia. Até cerca de 2010, a Irlanda foi marcada por sucessivos déficits nas contas públicas e políticas expansionistas para impulsionar crescimento a qualquer custo, além de uma excesso de crédito liberado pelos bancos em seguida a adoção do Euro no país no início dos anos 2000.
Passado o socorro internacional, ficou a lição aprendida. Equilíbrio fiscal não é uma questão retórica e os resultados de tratar as contas públicas com responsabilidade estão sendo colhidos agora. O problema para os irlandeses, no momento, é de outra ordem: como alocar a riqueza substancial gerada de modo a beneficiar a população local.
As áreas que necessitam esse investimento, de acordo com especialistas incluem moradia, eletricidade, abastecimento de água, serviços de saúde e transporte público.
O governo, no entanto, tem assumido um tom de cautela, destacando que essas receitas são voláteis e temporárias, com a estimativa de que cerca de 50% delas possam ser “receitas inesperadas”. Mesmo assim, as previsões de superávit para os próximos anos ainda estão na casa 38 bilhões de euros para o período de 2024 a 2027.
Este ano, a Irlanda está a caminho do terceiro superávit consecutivo consecutivo, seguindo os 8,3 bilhões de euros registrados em 2022. O crescimento dos recebimentos de imposto corporativo, impulsionado por empresas globais sediadas na Irlanda nos setores de tecnologia e farmacêutico, é a principal força por trás das finanças governamentais saudáveis. Espera-se que o total de receitas de impostos corporativos alcance 24,5 bilhões de euros neste ano.
A Necessidade de Abordar Problemas Sociais
Com a Irlanda classificada como o país mais solitário da Europa, onde quase um quinto da população se sente solitária na maior parte do tempo, economistas e críticos sugerem que parte do superávit poderia ser direcionada para resolver questões sociais. Cerca de uma em cada sete crianças vive em lares abaixo da linha da pobreza.
O governo está em processo de reformar seu sistema de planejamento para acelerar o desenvolvimento de infraestrutura, enquanto a construção de novas habitações ainda não atende à demanda projetada.
Seja qual for o caminho a ser tomado pela Irlanda, um aprendizado ficou claro para todos. São as decisões de hoje relacionadas à saúde fiscal de um país que lhe renderão as oportunidades ou os desafios futuros.
Há uma ano das eleições gerais de 2025, o governo se encontra em uma posição excelente para gerenciar a riqueza e utilizar os recursos para o bem-estar da população. Talvez essa pudesse ser uma estratégia para o Brasil, mas talvez não haja mais tempo.
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