“Empregadores estão buscando candidatos que não existem”
O empreendedor americano Bob Moesta alerta que, com o uso crescente de inteligência artificial por candidatos, o mercado de trabalho pode se tornar ainda mais fechado

O empreendedor e autor americano Bob Moesta publicou nesta segunda, 18, artigo intitulado “AI May Make it Even Harder to Find a Job” na revista Time. No texto, ele argumenta que o uso crescente de ferramentas de inteligência artificial por candidatos à procura de emprego pode piorar um mercado já marcado por lentidão, desconfiança e dificuldade de acesso.
“Empregadores estão buscando candidatos que não existem”, escreve Moesta. Para ele, a adoção acelerada de aplicativos baseados em IA – que prometem criar currículos otimizados e enviar automaticamente – tende a acirrar a competição online, sem resolver os problemas estruturais do recrutamento.
A inteligência artificial já é amplamente utilizada por empregadores. Mais de 87% das empresas adotam ferramentas automatizadas para triagem de currículos, com o objetivo de economizar tempo e aumentar a precisão nas contratações.
Desde os anos 2010, sistemas de rastreamento avaliam currículos a partir da compatibilidade com palavras-chave extraídas das descrições das vagas. “Se houver coincidência suficiente, o currículo provavelmente passa pelo filtro.” Mas passar pelo filtro não é o mesmo que ser contratado.
“Estima-se que bem mais da metade dos empregos — talvez até 85% — ainda sejam preenchidos por conexões pessoais”, lembra.
Apesar da expansão dos sites de vagas, persiste uma forte dependência de indicações. Isso se deve, em parte, à desconfiança gerada por um processo online cada vez mais automatizado. Segundo Moesta, o sistema atual funciona como uma simulação mútua: descrições de vaga imprecisas enfrentam currículos exagerados e ajustados para algoritmos.
“As descrições online viraram listas vagas e genéricas de qualificações copiadas de outras empresas.” Muitas exigências são desproporcionais: vagas de entrada que pedem dois anos de experiência ou cargos que exigem diploma universitário mesmo quando profissionais já exercem funções semelhantes sem essa formação.
Do outro lado, candidatos aprendem a adaptar ou inflar suas qualificações para superar os filtros automatizados. “Virou prática comum que candidatos se apresentem como super-heróis”, alerta. Isso contribui para uma perda de confiança nos processos digitais e fortalece a busca por indicações pessoais.
A proliferação de ferramentas que automatizam o envio de candidaturas em larga escala aumenta o problema. “Empresas que já recebiam centenas de candidaturas agora recebem milhares.” Com o aumento do volume e a padronização das respostas, a confiança nas aplicações online tende a cair ainda mais.
Moesta aponta que esse ciclo cria um círculo vicioso em que o excesso de tecnologia torna o processo menos confiável, o que leva empresas a se fecharem ainda mais em suas próprias redes de contatos pessoais. “Com ainda menos confiança nos currículos ajustados por IA, as empresas vão depender ainda mais de suas conexões e indicações.”
Diante desse cenário, Moesta sugere que os candidatos reforcem as conexões humanas. Em vez de depender da IA para abrir portas, ele propõe uma abordagem baseada em curiosidade genuína e trocas reais. “A meta é se tornar alguém que entende as próprias qualidades e demonstra real interesse nos outros — alguém que valha a pena recomendar.”
Quem é Bob Moesta
Bob Moesta é um empreendedor e pesquisador americano, cocriador da metodologia Jobs to be Done e coautor de livros como Demand-Side Sales e Choosing College.
Fundador da consultoria The Re-Wired Group, atua como conselheiro de empresas e universidades em projetos voltados à empregabilidade e desenvolvimento de carreira.
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