Campos Neto: “Economistas não estão prevendo alta (da Selic), o mercado, sim”
Presidente do Banco Central apontou que cenário de aumento dos juros básicos não é unânime no Copom e nada está garantido
Em entrevista à colunista de O Globo, Miriam Leitão, o presidente do Banco Central afirmou que ainda há divisões dentro do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre se os riscos de alta de inflação são mais significativos que os de baixa e que o colegiado deve resolver sobre o futuro da Selic na próxima reunião em setembro, com base nos dados econômicos que serão divulgados até lá.
Vale lembrar que em fala em evento público na segunda-feira, 19, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária da autarquia, garantiu que ele é um dos membros do grupo que enxerga o balanço de riscos assimétrico com risco de alta da inflação. “Existem alguns membros que veem o balanço como assimétrico (…) sou um dos que entende que o balanço está assimétrico“, afirmou durante participação no Conexão Empresarial, promovido pela VB Comunicação, em Belo Horizonte.
Galípolo é um dos primeiro indicados por Lula a uma cadeira no Banco Central e visto como favorito para substituir Roberto Campos Neto a frente da autoridade monetária a partir de 2025. A expecativa é que o petista oficialize a indicação nas próximas semanas.
Ainda na entrevista à Miriam Leital, Roberto Campos Neto comentou sobre as expectativas para a taxa básica de juros e como isso pode influenciar a decisão do BC. “A gente sempre disse que se fosse necessário subir os juros, subiria, mas não lembro de ter falado de alta de juros. O mercado já vinha colocando um pouco de expectativa de alta na curva. Mas não depende só do mercado, precisa olhar o cenário daqui para frente. A economia está forte, parte do mercado de trabalho está forte, a inflação em 12 meses bateu 4,5%, mas vai cair um pouco, e os próximos números vão ser melhores“, explicou.
“A gente tem uma tese não comprovada, mas com indícios, de que o mercado de trabalho forte está começando a afetar serviços, mas ainda não está evidente. Por outro lado, sobre a economia americana há agora a percepção de que haverá desaceleração organizada. Os economistas não estão prevendo alta ( de juros) para este ano, mas o mercado sim. É importante ter calma, ter cautela nos momentos de muita volatilidade“, completou Campos Neto.
O presidente da autoridade monetária destacou ainda que a inflação parece ser uma preocupação mais atrelada a um cenário futuro do que com a situação atual da pressão sobre os preços. “ma preocupação muito mais com o futuro do que com os dados correntes. Ainda assim, destacou que no cenário do BC a inflação permanece acima da meta e que o objetivo da autarquia é trazê-la para a meta.
“A parte externa está super bem. Acho que os dados estão muito melhores no Brasil do que os preços refletem. A parte fiscal, com toda dificuldade do governo, está tendo um esforço, bloqueio ali. O arcabouço poderia ser melhor. Mas você vê que o governo está se esforçando. Acho que os números estão melhores do que o que o fundamento diz“, afirmou.
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