Universidades russas expurgam liberais e promovem governistas
Essa transformação, a mais profunda desde os anos 1930, tem isolado a Rússia acadêmica do Ocidente e sufocado a liberdade de pensamento
Na véspera de seu 25º ano como líder supremo da Rússia, Vladimir Putin deu uma declaração surpreendente durante uma coletiva de imprensa no final do ano: “Guerras são vencidas por professores.”
Esse comentário destaca uma faceta menos conhecida de Putin, especialmente crucial durante a guerra com a Ucrânia: a estratégia de impregnar o sistema educacional do país com um sentimento patriótico, expurgar as universidades de influências ocidentais e eliminar qualquer vestígio de dissidência entre professores e alunos, frequentemente ativos politicamente.
Segundo matéria do The Washigton Post publicada nesta terça, 7, Universidade Estadual de São Petersburgo, isso significou o desmantelamento de um renomado programa de humanidades, liderado por Alexei Kudrin, um economista liberal e ex-ministro das finanças. Sob a gestão de Kudrin, o programa oferecia disciplinas abrangentes que iam desde a história dos EUA até pensamento político democrático. Hoje, esses cursos foram todos eliminados.
Em uma mudança radical do sistema educacional da Rússia, os currículos estão sendo reescritos para enfatizar o patriotismo, e os livros didáticos agora diminuem a Ucrânia, glorificam a Rússia e reescrevem o passado soviético totalitário. Desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, líderes universitários adotaram fervorosamente a intolerância do Kremlin a qualquer dissidência.
Professores que se manifestaram contra a guerra foram demitidos, e estudantes que protestaram pacificamente foram expulsos. Ao mesmo tempo, aqueles que se voluntariaram para lutar na Ucrânia são celebrados, prometendo que os heróis de guerra e seus descendentes formarão a nova elite russa, com benefícios sociais aprimorados.
Essa transformação, a mais profunda desde os anos 1930, tem isolado a Rússia acadêmica do Ocidente e sufocado a liberdade de pensamento. Em Moscou, foi criada a Escola Política Superior Ivan Ilyin, dirigida por Alexander Dugin, um ideólogo pró-Putin que defende um retorno aos valores espirituais e morais tradicionais russos.
Estudantes têm protestado contra essas mudanças, mas enfrentam expulsões e retaliações. A situação em outras universidades importantes, como a Universidade Estatal de Moscou, reflete um padrão semelhante, onde nacionalistas têm expulsado liberais.
Ideólogo de Putin amplia influência no Brasil, revela estudo
Ideólogo de Putin amplia influência no Brasil, revela estudo divulgado pela ONG britânica Centre for Information Resilience, que expõe a extensa rede de influência do governo russo no Brasil, liderada por Aleksandr Dugin, o “guru ideológico” de Vladimir Putin.
O documento mapeia as conexões de Dugin no país, abrangendo suas visitas e sua rede acadêmica e de seguidores, enfocando indivíduos em posições-chave no debate ideológico que promoveram ativamente suas ideias radicais.
Segundo o relatório, Dugin possui laços importantes com pelo menos seis grandes universidades brasileiras, incluindo a Universidade de São Paulo (USP), a Escola Superior da Guerra (ESG) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além destas conexões, a Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS sediou eventos financiados por uma fundação russa ligada a Dugin.
O estudo aponta que Dugin foi o palestrante principal em eventos no Brasil e colaborou em publicações com acadêmicos locais, estabelecendo uma rede “privilegiada, prestigiada, bem posicionada e conectada”. Esta rede seria capaz de influenciar tanto esferas de poder quanto a opinião pública.
A pesquisa também critica, segundo a matéria, as redes sociais por falharem na moderação de conteúdos extremistas, especialmente em idiomas que não o inglês, o que beneficia as ideias de Dugin. O ideólogo russo é conhecido por seu livro “Fundamentos da Geopolítica”, que propõe a criação de um império eurasiano e incentiva a desestabilização interna dos Estados Unidos através de separatismos e conflitos.
Dugin, que já viajou ao Brasil em 2012 e 2014, participou da fundação de um centro de estudos em São Paulo e esteve envolvido em eventos e publicações com acadêmicos da ESG. Sua presença também foi mencionada em um evento cancelado em 2022 na UERJ, após pressão pública, e em uma revista da ESG que incluiu um artigo seu em abril de 2023.
Ideólogo de Putin amplia influência no Brasil, revela estudo (oantagonista.com.br)
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)