Tio Barnabé: o brasiliense “odara”
Caetano Veloso gravou “Odara” em 1977.Por alguma razão cósmica, talvez a lenda de Dom Bosco, ou o meridiano ou qualquer coisa que o valha, o brasiliense é “odara”. Como diz uma amiga: voltou de Woodstock a pé.Não deve ser aquele tal Vale do Amanhecer, não. Aquilo não passa de uma piada de mau ghost. Mas o fato é que é. Tenho minhas suspeitas e procuro o culpado contumaz: o excesso de Estado...
Caetano Veloso gravou “Odara” em 1977.
Por alguma razão cósmica, talvez a lenda de Dom Bosco, ou o meridiano ou qualquer coisa que o valha, o brasiliense é “odara”. Como diz uma amiga: voltou de Woodstock a pé.
Não deve ser aquele tal Vale do Amanhecer, não. Aquilo não passa de uma piada de mau ghost.
Mas o fato é que é. Tenho minhas suspeitas e procuro o culpado contumaz: o excesso de Estado.
Em Brasília temos a UnB. A UnB, para quem não conhece, é uma universidade que toma praticamente metade da Asa Norte de Brasília. É uma área gigante, povoada por estudantes que pouco estudam, professores que não ensinam e servidores barnabés que adoram uma greve.
A UnB tem um orçamento daqueles. Mais de 1.200 imóveis alugados. Muitos doutores e pós-doutores. Por isso temos tantos prêmios Nobel e medalha Fields no Brasil. Graças a UnB!
Como “entrar na UnB” é algo muito difícil, pois apesar de tudo tem prestígio e é gratuita, quem “entra” é aquele filho de rico ou de barnabé de altos estipêndios que pagava uma caríssima escola particular para seus filhos. É a bolsa escola da classe média alta, ou o velho rentismo de que falam os economistas.
As criaturas que estudam na UnB costumam degenerar em “odaras”. Aliás, é fácil ficar anos por lá ou trocar de cursos como se troca de roupa, pois ninguém paga nada.
Como o sucesso em Brasília é passar num concurso público prestigioso (Senado, Câmara, TCU, magistratura e MP), por razão óbvia, essas Instituições vão acolher os “odaras” oriundos da UnB e que estudaram direito e engenharia, modo geral.
Os “odaras” brasilienses, até por questões familiares, conhecem muito bem o Rio de Janeiro. Desconhecem absolutamente São Paulo e aí tenho uma outra pista do porquê se acostumaram facilmente com a precariedade: herança carioca.
O “odara” barnabé brasiliense é amante de cachoeira e de incenso. Alguns têm uma paixão inexplicável pela Índia. É dado a programas de silvícolas, que, aparentemente, curtem de verdade. Sou testemunha: já fui convidado para um aniversário de cachorro numa quadra ao lado da minha. Num domingo à tarde, por volta das 17 horas, num daqueles dias de agosto, a grama devastada, um calor marroquino, fui me meter num aniversário de um labrador idoso chamado Marx (isso mesmo). Todos, exceto este que vos fala, compareceram com seus filhos caninos e presentes para o aniversariante. Havia bolo para cachorro, salgadinhos para cachorros.
O brasiliense “odara” cachorreiro é capaz de coisas que surpreendem, como pude verificar. Todos odeiam o Aécio e o PSDB, se consideram de esquerda, amam cachoeira e trilhas neste cerrado digno da caatinga de Vidas Secas, não tomam Coca Cola, juram que não assistem a programas de TV e dizem que “faz tempo que não entram no facebook”. Como se isso os tornassem mais inteligentes e interessantes.
Esses seres telúricos são argumentativos e fatigantes. Como disse Bertrand Russell sobre o chato Wittgenstein, é quase impossível convencê-los, pois eles “wouldn´t admit that it was certain there was not a rhinoceros in the room”.
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