Tio Barnabé: o barnabé jurídico
Com a atratividade dos postos no setor público, especialmente de algumas carreiras, uma profusão de engenheiros bem formados no ITA, Politécnica e IME acabaram em Brasília. Ao invés de labutarem na iniciativa privada, criando algum novo protótipo, ganhando muito dinheiro e desenvolvendo o país, acovardaram-se e optaram pela estabilidade.Tão natural quanto dar um pulinho em Pirinópolis (uma cidadezinha perto da capital que os brasilienses não cansam de elogiar), é um engenheiro fazer curso de direito na UnB...
Com a atratividade dos postos no setor público, especialmente de algumas carreiras, uma profusão de engenheiros bem formados no ITA, Politécnica e IME acabaram em Brasília. Ao invés de labutarem na iniciativa privada, criando algum novo protótipo, ganhando muito dinheiro e desenvolvendo o país, acovardaram-se e optaram pela estabilidade.
Tão natural quanto dar um pulinho em Pirinópolis (uma cidadezinha perto da capital que os brasilienses não cansam de elogiar), é um engenheiro fazer curso de direito na UnB.
O curso de Direito da UnB é famoso, porque tem alguns medalhões de Tribunais Superiores como professores. Poucos sabem que eles praticamente não dão aulas e, quando comparecem, logo se percebe que não têm didática nenhuma e nem sabem de direito mesmo (às vezes só algum direito positivo).
Os cursos de direito no Brasil são lastimáveis. Mas, pior que a graduação que desova no mercado milhares de doutores todos os anos, é o mestrado e doutorado em direito. É uma quantidade imensa de dissertações e teses que praticamente não servem para nada. Desconfio que nem a família e os amigos leem aquelas coisas. A banca examinadora certamente não lê. Já vi de tudo. Queria saber quantas teses já foram escritas sobre Niklas Luhmann e seu sistema autopoiético (não estou brincando) no Brasil.
O sujeito é capaz de sair de uma pós-graduação de Direito sem saber que o judeu austríaco Kelsen (aquele que separou o direito da ética) dava aula em Colônia quando Hitler subiu ao poder. Também pouco sabem de sua querela com o nazista Carl Schimitt e o contexto histórico (e não de direito) em que se propagou. Ninguém nunca vai dizer a esse estudante de direito (para quem o direito positivo acaba sendo tudo, especialmente com as constituições escritas e a codificação de tudo) que Kelsen escreveu na Imago, revista de Freud, em 1922, um artigo que pretendia dialogar com “Totem e Tabu” acerca das massas artificiais (já prenunciando o advento de Hitler).
Acho que aborreço o leitor. O que quero dizer é que no Planalto Central, tal como no Segundo Império e na República Velha, bacharel em direito ainda é o fulano mais importante. Para subir na carreira em Brasília, acontinua valendo aquelas recomendações do pai zeloso e arrivista ao filho bacharel, no conto “A Teoria do Medalhão”: “Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos jurídicos, máximas é de bom aviso trazê-las contigo para os discursos de sobremesa, de felicitação, ou de agradecimento”.
O novo barnabé, agora engenheiro bissexto e bacharel praticante, trocou o cálculo diferencial pela lei de introdução ao código civil.
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