Tio Barnabé a a jararaca
Morrer não é fácil. Problema de expectativas. Contudo, depois de morto, tudo se ajeita. O duro mesmo é continuar tendo acesso a redes sociais e acompanhar, detidamente, as coisas daí. Mas sou leitor atento e ando de olho esgazeado.O caminho foi aquele mesmo da Divina Comédia... Chequei ao Aqueronte, tomei a barca de Caronte e fui para a outra margem. Como pena pela desesperança, fui mandado para o Limbo por engano. Sou batizado. Inconformado, entrei com recurso no Tribunal Celestial, mas por aqui não tem efeito suspensivo como no Brasil.Por meio de um amigo kardecista, consegui um sujeito que me psicografa e, espero, entregue a um dos Antagonistas estas observações conjunturais deste defunto autor...
Morrer não é fácil. Problema de expectativas. Contudo, depois de morto, tudo se ajeita. O duro mesmo é continuar tendo acesso a redes sociais e acompanhar, detidamente, as coisas daí. Mas sou leitor atento e ando de olho esgazeado.
O caminho foi aquele mesmo da Divina Comédia… Chequei ao Aqueronte, tomei a barca de Caronte e fui para a outra margem. Como pena pela desesperança, fui mandado para o Limbo por engano. Sou batizado. Inconformado, entrei com recurso no Tribunal Celestial, mas por aqui não tem efeito suspensivo como no Brasil.
Por meio de um amigo kardecista, consegui um sujeito que me psicografa e, espero, entregue a um dos Antagonistas estas observações conjunturais deste defunto autor.
Inquietei-me com a fala do nosso ex-presidente, autodenominado jararaca, depois da polêmica “condução coercitiva” promovida pela PF, sob determinação do magistrado Sergio Moro. Não entro no tema pois está claro que o ex não tem prerrogativas que o diferenciem do cidadão comum e vejo o grito da oposição apenas coisas da política. Informo que o vídeo da Jandira Feghali ao flagrar o ex numa conversa bem informal com a atual mandatária já entrou para os anais (já aviso que não gosto de trocadilhos) da videoteca do Inferno.
Parece mesmo que o ex falseia quando diz que não é adepto das leituras. De minha parte. o que vi naquela fala, perante jornalistas à tarde e militantes a noite, é a de um profundo conhecedor do “Como vencer um debate sem precisar ter razão”, de Schopenhauer.
Houve de tudo: a técnica da ampliação indevida (exageros a mancheias); a do “pré-silogismo doido” (a história de que só usa propriedade dos amigos pois os inimigos não oferecem); o “uso intencional de premissas falsas” (Um delegado de polícia que quer saber o que aconteceu com a medida provisória não tem que perguntar ao presidente. Ele tem que ir no Congresso Nacional e perguntar a todos os deputados e senadores que votaram favoravelmente); e a mais tresloucada de todas, a famosa “anulação do paradoxo” (Você sabe o que é alguém sair da presidência com 11 contêineres de acervo sem ter onde pôr? Você sabe o que é sair com cadeira, com trono, com papel, com tudo o que vocês possam imaginar. Porque, se somar todos os presidentes da história desse país, desde Floriano Peixoto, eu fui o que mais ganhei presente. Porque viajei mais, porque trabalhei mais, porque viajei o mundo, tenho até trono da África. O que eu faço com isso?).
Para não falar da sensacional “falsa reductio ad absurdum”, isto é, tirar falsas conclusões absurdas dos argumentos do adversário. Vejam que deliciosamente populista: “Ah, estamos preocupados (sic) porque o Lula foi contratado para fazer palestra, sabe, por (sic) as empresas. Essas empresas antes da Petrobras trabalham em muitas outras atividades. Essas empresas não trabalham só para a Petrobras. Essas empresas não estão apenas comprometidas com Lava Jato. Essas empresas chegaram a ter 180 mil trabalhadores, 80 mil trabalhadores, 90 mil trabalhadores e agora qualquer centavo é do pré-sal. Vocês já se deram conta de que o salário de muita gente da Justiça vem dos impostos que essas empresas que trabalham pra Petrobras pagaram? Já se deram conta?”.
Enfim, dava pra fazer uma categorização dos 38 estratagemas do citado filósofo. Mas não canso o leitor, tampouco o sujeito que psicografa.
Por fim, veio a pérola quando nosso ex abriu a sua ostra e concluiu o discurso: “Se quiseram matar a jararaca não bateram na cabeça, acertaram o rabo. E a jararaca está viva como nunca esteve”. Por aqui no Limbo dantesco me sobra tempo e ando lendo que a serpente ronda a montanha do Purgatório. A danada tenta se infiltrar entre as almas que esperam a chance de entrar no Paraíso.
Os corruptos estão, como é consabido, no oitavo círculo, na quinta vala. Os corruptos estão submergidos em um lago de piche fervente. Aqueles que tentam ficar com a cabeça acima da lava são torturados por demônios, que os dilaceram. Em vida, os corruptos tiraram proveito da confiança que a sociedade depositava neles; no Inferno, estão submersos em lava quente e escondidos, pois suas negociações sempre eram realizadas às escondidas.
Para Dante, também, a jararaca está viva.
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