Papa Francisco defende união entre fé e ciência
Pontífice enfatiza que ciência deve servir à humanidade, em memória ao padre Georges Lemaître
Em uma audiência realizada nesta quinta-feira, 20, no Vaticano, papa Francisco ressaltou a importância da união entre fé e ciência durante a II Conferência do Observatório Astronômico Vaticano. O evento, que homenageia o padre e cosmólogo belga Georges Lemaître, reuniu cientistas para discutir temas como buracos negros, ondas gravitacionais e singularidades espaço-temporais.
O Papa Francisco destacou o trabalho inovador de Lemaître, que fundamentou a teoria do Big Bang, e afirmou que “Deus não pode ser um objeto facilmente categorizado pela razão humana”. “A fé e a ciência podem se unir na caridade se a ciência for colocada a serviço dos homens e mulheres de nosso tempo”, declarou o papa, incentivando os cientistas a continuarem debatendo com humildade e a progredirem em seus campos em direção à Verdade, que ele descreveu como uma emanação da Caridade de Deus.
Para o pontífice, “nesses dias, vocês discutem as últimas questões colocadas pela pesquisa científica em cosmologia: os diferentes resultados obtidos na medição da constante de Hubble, a natureza enigmática das singularidades cosmológicas (do Big Bang aos buracos negros) e o tema muito atual das ondas gravitacionais”, recordando que “a Igreja está atenta a essas pesquisas e as promove, porque elas avançam a inteligência dos homens e das mulheres de nosso tempo”.
A Contribuição da Igreja Católica para a Ciência
A visão do Papa Francisco sobre a relação harmoniosa entre fé e ciência tem raízes profundas na história do cristianismo. São Tomás de Aquino, um dos principais teólogos da Igreja, defendia que a fé e a razão são complementares e que a verdade é única. Para Aquino, a razão pode levar à compreensão das verdades divinas, enquanto a fé oferece uma base moral e ética para a busca científica.
O escritor e historiador Thomas Woods Jr., em sua obra “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental”, explora a vasta contribuição da Igreja para o desenvolvimento das universidades e da ciência moderna. Woods destaca que a Igreja foi pioneira na fundação das primeiras universidades europeias, como as de Bolonha e Paris, que se tornaram centros de ensino e pesquisa. Ele argumenta que a visão cristã de um universo ordenado e inteligível foi fundamental para o desenvolvimento do método científico.
Woods Jr. também sublinha que muitos dos principais cientistas ao longo da história foram clérigos, como Nicolau Steno, considerado o pai da geologia, e Athanasius Kircher, pai da egiptologia. O autor ainda destaca que cerca de 35 crateras lunares foram descobertas por cientistas e matemáticos jesuítas, demonstrando a influência duradoura da Igreja na astronomia.
Em sua obra, Woods argumenta que a Igreja Católica não apenas preservou a herança intelectual do mundo antigo durante a Idade Média, mas também promoveu o progresso científico e tecnológico. Ele cita historiadores da ciência como Alistair C. Crombie e Edward Grant, que reconhecem a Revolução Científica como um fruto do ambiente intelectual fomentado pela Igreja.
E o caso Galileu?
O caso de Galileu Galilei é frequentemente citado como um exemplo de conflito entre a Igreja e a ciência. No entanto, essa narrativa popular é muitas vezes exagerada e distorcida. Durante o julgamento de Galileu, muitos clérigos apoiaram suas ideias e ele não foi perseguido como comumente se acredita.
A verdade é que Galileu poderia ter proposto o heliocentrismo como uma teoria sem problemas. Seu conflito com a Igreja surgiu quando ele começou a proclamar o heliocentrismo como uma verdade absoluta, apesar de não ter provas conclusivas na época.
Sua condenação não foi resultado de uma rejeição da ciência pela Igreja, mas sim de uma série de circunstâncias políticas e religiosas complexas da época, incluindo uma interpretação rígida das Escrituras e a recente experiência traumática do cisma protestante.
Historiadores como Rodney Stark têm se esforçado para corrigir essas percepções equivocadas. Eles apontam que Galileu foi tratado de maneira branda para os padrões da época e que sua punição foi mais uma questão de disciplina do que uma rejeição do método científico.
A Igreja Católica, ao longo dos séculos, tem sido uma força propulsora na educação, na ciência e na busca pela verdade, um legado que continua a influenciar e inspirar o mundo moderno.
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