“O Ocidente ficou muito mais tolerante. O resto do mundo, não”
O cientista político americano Brian Klaas discute a crescente divergência de valores globais, onde o Ocidente e o resto do mundo seguem trajetórias distintas em relação à tolerância e inclusão
O cientista político Brian Klaas publicou nesta terça, 10, no The Garden of Forking Paths o artigo intitulado “A Grande Divergência Global de Valores”, no qual explora o resultado de novas pesquisas sobre a convergência – ou não – dos valores globais em direção aos princípios democráticos ocidentais.
A questão central: conforme os países se tornam mais ricos e globalizados, será que também se tornam mais liberais e inclusivos?
Klaas começa relembrando o otimismo que predominou no Ocidente com a queda do Muro de Berlim, quando se acreditava que o mundo caminharia, de forma inevitável, para um alinhamento com os valores democráticos ocidentais.
“A marcha em direção às liberdades políticas universais seria irregular, mas implacável”, escreve ele, citando a famosa tese de Francis Fukuyama sobre o “Fim da História”. O autor também menciona a teoria da modernização, que sugere que sociedades se tornam mais liberais à medida que seus cidadãos ficam mais ricos e educados.
No entanto, conforme os valores no Ocidente evoluíram – tornando-se mais tolerantes e inclusivos – Klaas destaca que em outras regiões do mundo essa mudança não ocorreu no mesmo ritmo. “O Ocidente se tornou muito mais tolerante, enquanto o resto do mundo… não”, afirma.
A pesquisa recente conduzida por Joshua Conrad Jackson e Danila Medvedev revelou que, nas últimas décadas, houve uma “divergência significativa de valores” entre o Ocidente e outras regiões. “Valores que enfatizam a tolerância e a autoexpressão divergiram de forma mais acentuada, especialmente entre os países ocidentais de alta renda e o restante do mundo”, aponta Klaas.
Em vez de uma convergência global de valores, Klaas explica que a pesquisa indica uma convergência dentro de blocos regionais, como o sudeste asiático, mas não em direção a uma uniformidade global. “As sociedades na Ásia e na África se tornaram mais ricas e educadas, mas não alteraram suas perspectivas em questões sociais fundamentais”, conclui o autor.
Quem é Brian Klaas
Brian Klaas é um cientista político americano, professor na University College London, e autor de vários livros sobre democracia e poder, incluindo Corruptible: Who Gets Power and How It Changes Us. Ele é amplamente reconhecido por sua análise crítica das políticas globais e por suas colunas em veículos como The Washington Post.
A expressão “The Garden of Forking Paths” pode ser traduzida como “O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam”. Ela vem de um conto famoso do escritor argentino Jorge Luis Borges, publicado em 1941, que explora temas de tempo, escolhas e realidades alternativas.
No conto, o “jardim dos caminhos que se bifurcam” é uma metáfora para a ideia de múltiplos futuros possíveis, em que cada escolha que fazemos nos leva a um caminho diferente, criando um labirinto infinito de possibilidades. Essa noção de realidades alternativas que coexistem é uma das marcas do estilo literário de Borges, que brinca com a ideia de que o tempo não é linear, mas ramificado.
Quando usada fora do contexto literário, a expressão remete à complexidade das decisões humanas e à multiplicidade de resultados possíveis em nossas vidas e na história. Nesse sentido, é uma metáfora para as diversas direções que o mundo e seus valores podem tomar, dependendo das escolhas e acontecimentos ao longo do tempo.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)