O fenômeno dos jovens portugueses que só leem livros em inglês
Além da diminuição das vendas das edições em português, este fenômeno pode pôr em causa a viabilidade de muitos projetos editoriais e levar a uma desvalorização da língua portuguesa.
O jornal português Público publicou uma curiosa matéria acerca dos jovens portugueses que só leem livros em inglês.
Segundo o jornal, esse fenômeno está crescendo em Portugal e ele tem diferentes causas: primeiro, a maioria dos jovens portugueses domina totalmente a língua inglesa (por vezes quase ao nível de um nativo); impacientes como costumam ser todos os jovens, não querem esperar pelas edições portuguesas, pois sequer sabem se determinada obra do seu agrado será ou não alguma vez traduzida; por fim, simplesmente preferem ler no original. Mas há um último fator decisivo: o preço.
A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros estima que o livro em inglês valha entre 5% e 8% do valor total do mercado português. Em linha com a Europa, esta tendência verifica-se sobretudo na categoria de ficção. Além da diminuição das vendas das edições em português, este fenômeno pode pôr em causa “a viabilidade de muitos projetos editoriais” e levar a uma “desvalorização da língua portuguesa”.
A preocupação com o crescimento desta tendência, principalmente entre os mais jovens, é transversal a todas as editoras. O aparecimento dos e-readers, como o Kobo ou o Kindle (que permitem adquirir e começar a ler determinado livro em menos de cinco minutos) e o acesso facilitado a plataformas que potencializam a compra imediata após a descoberta do livro nas redes sociais só vieram agravar o problema.
Se é verdade que a geração mais jovem, muito dinamizada pelo Instagram e pelo TikTok, tem feito aumentar as vendas de livros, é também verdade que muitos destes leitores leem em inglês, já que acompanham nas páginas internacionais os fenômenos literários, e não esperam pela tradução. Em séries com mais do que um título, mesmo que leiam o primeiro volume em português, acabam por ler os restantes em inglês.
“Uma edição nacional implica custos de aquisição de direitos, capa, tradução, revisão, marketing, o que resulta num preço de venda ao público mais elevado, já que as tiragens médias são muito pequenas. As tiragens em inglês são gigantes, muitas vezes impressas na China, e são uma concorrência absolutamente desleal. Não há outra forma de ver a coisa: cada livro vendido em inglês é menos um livro vendido em português”, desabafa diz Luís Corte Real, da editora Saída de Emergência.
Há jovens que só leem livros em inglês — e isso preocupa as editoras
Se este fenômeno for uma “tendência geracional”, com “potencial para se acentuar nas gerações seguintes”, Teresa Matos, diretora editorial da Clube do Autor, refere que poderemos mesmo estar perante “um declínio imparável da importância da língua portuguesa na literatura.”Ana Gaspar Pinto, da editora Infinito Particular, refere mesmo que, em inúmeras ocasiões, a editora é abordada por jovens para perguntar se determinado livro existe em inglês “enquanto apontam para a edição portuguesa”.
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