Mario Sabino: A norueguesa de Cabul
"A quantidade de idiotices ditas sobre o Afeganistão e o Talibã também contribuiu para a minha indignação", diz Mario Sabino em sua coluna na Crusoé. "Como vacina para a idiotice, resolvi ter uma segunda dose de um livro extraordinário...
“A quantidade de idiotices ditas sobre o Afeganistão e o Talibã também contribuiu para a minha indignação”, diz Mario Sabino em sua coluna na Crusoé.
“Como vacina para a idiotice, resolvi ter uma segunda dose de um livro extraordinário — estou relendo O Livreiro de Cabul, da jornalista norueguesa Åsne Seierstad (pronuncia-se Ósne Zaiershtad).”
“Nos primeiros dias em Cabul, depois da queda do Talibã, a jornalista conheceu um livreiro, Sultan Khan, que lhe foi um oásis. ‘Após semanas entre pólvora e cascalho, ouvindo conversas sobre táticas de guerra e avanços militares, foi renovador folhear livros e conversar sobre literatura e história’, escreveu. Também deve ter sido renovador para Sultan Khan, tanto que o afegão aceitou que Åsne, de uma escandinavidade exemplar, morasse com ele e sua família durante algum tempo. O Livreiro de Cabul é exatamente isto: o relato da jornalista sobre o período em que viveu com a família Khan.”
“O assunto de Åsne não é a pobreza material, e sim a miséria existencial de um povo que, refletido naquele universo doméstico, só conhece o imobilismo secular. Vidas secas aprisionadas numa imensa caixa etiquetada com o nome de Afeganistão — inclusive os homens, eles também prisioneiros no seu papel de eternos dominadores. O Talibã, como já dito, exacerbou essa não-existência que o precedia. Quando a chusma de fanáticos assumiu o poder, em 1996, dezesseis decretos foram transmitidos pela Rádio Sharia.”
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