Livro analisa “viralização negativa” nas redes sociais
O autor Malcolm Gladwell, jornalista e escritor canadense, explora o conceito de "viralidade negativa" em seu novo livro
Malcolm Gladwell, jornalista canadense e autor de vários best-sellers, foi entrevistado nesta quinta, 26, no The New York Times, sobre seu mais recente livro, “Revenge of The Tipping Point”. O livro explora as forças por trás da “viralização negativa” e como ela molda o mundo atual.
Gladwell ficou mundialmente conhecido com o sucesso de “O Ponto da Virada”, publicado em 2000, onde dissecava como pequenas ações, ideias ou comportamentos podem gerar grandes “epidemias sociais”. Ele acredita que esse conceito, que capturava o otimismo dos anos 90, hoje precisa ser adaptado para explicar fenômenos negativos.
Em sua nova obra, Gladwell reverte o otimismo de sua tese original e investiga como “epidemias negativas” — como crimes em série ou crises de opioides — se propagam e afetam a sociedade. Segundo o autor, uma das chaves para entender tais fenômenos é o que ele chama de “superpropagadores“, indivíduos que desencadeiam eventos de grande impacto social, e a “lei do terço mágico”, que sugere que a dinâmica de grupos muda quando vozes minoritárias alcançam um terço do total.
A crítica de Gladwell às suas próprias teorias anteriores, como a popular “teoria das janelas quebradas”, é notável. Ele admite que estava equivocado ao associar a redução da criminalidade ao policiamento de pequenos crimes.
O autor também reconhece os erros de interpretação que surgem ao transformar ideias acadêmicas em políticas públicas. Para ele, os formuladores de políticas muitas vezes pegam apenas parte das conclusões e ignoram nuances importantes. No entanto, ele acredita que o papel de um comunicador não é simplesmente converter o público a uma ideia, mas oferecer um espaço para que os leitores “brinquem” com conceitos e decidam por si mesmos.
Outro ponto levantado por Gladwell é a importância de reconhecer as limitações de seus próprios argumentos, um equilíbrio entre ser um contador de histórias e um tradutor de pesquisas sociais. Para ele, segurar ideias “de forma solta” é essencial, especialmente num mundo em constante mudança.
No contexto atual, dominado por crises como a epidemia de opioides nos Estados Unidos, Gladwell vê a viralização negativa como uma realidade inegável. Ele sugere que comportamentos nocivos não apenas se espalham, mas se amplificam em sociedades desestruturadas. Sua análise sobre o papel dos médicos na crise dos opioides exemplifica isso, ao mostrar como poucos profissionais, incentivados por grandes farmacêuticas, disseminaram o uso irresponsável de medicamentos.
Gladwell se permite, ainda, ser flexível quanto às suas próprias teorias, tanto como escritor quanto como pai. Agora que tem filhos, admite estar menos disposto a dar conselhos sobre educação, reconhecendo a dificuldade de se manter firme em teorias idealistas quando confrontado com a realidade.
A entrevista também aborda o impacto das mídias contemporâneas na disseminação de ideias. Enquanto alguns alegam que vivemos em uma era de “anti-expertises”, Gladwell discorda, apontando o podcast de Joe Rogan como um exemplo de como o público busca especialistas, embora de uma forma menos filtrada. “O público não quer mais a mediação de especialistas, quer ouvir diretamente”, reflete ele, em uma crítica velada ao modelo tradicional de curadoria de informações.
Quem é Malcolm Gladwell
Malcolm Gladwell é um renomado jornalista e escritor canadense, autor de diversos best-sellers, incluindo Outliers e David and Goliath. Conhecido por sua habilidade em traduzir pesquisas sociais complexas em textos acessíveis, Gladwell conquistou fama mundial com O Ponto da Virada. Ele é também o criador do podcast Revisionist History, onde explora histórias esquecidas ou mal compreendidas.
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