Bandidolatria? Luigi Mangione é celebrado e aplaudido em programa humorístico
A polêmica reação no SNL reacende o debate sobre a glorificação do crime
A celebração de Luigi Mangione, assassino do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, durante o programa “Saturday Night Live” (SNL), trouxe à tona um debate sobre a chamada “bandidolatria”, a tendência de transformar criminosos em figuras idolatradas.
Esse fenômeno não é novo e já foi analisado em diversas obras, incluindo Ensaios sobre o Mundo do Crime, do escritor russo Varlam Chalámov.
A bandidolatria ocorre quando criminosos se tornam símbolos de rebeldia, resistência ou, em casos mais extremos, objetos de culto. Esse comportamento pode ser alimentado por insatisfações sociais, como a percepção de injustiça ou a falência de instituições que deveriam proteger os cidadãos.
Mangione, por exemplo, ganhou admiradores em razão de seu alegado carisma e pela insatisfação de muitos com o sistema de saúde americano, que Thompson representava como CEO de uma das maiores seguradoras do país.
A cultura pop frequentemente reforça a bandidolatria, romantizando criminosos em filmes, séries e programas de humor. No caso do SNL, os aplausos e a piada inseriram Mangione em uma narrativa de idolatria cultural, provocando indignação até de autoridades, como a comissária de polícia de Nova York, Jessica Tisch.
As lições de Varlam Chalámov
Varlam Chalámov, em seus Ensaios sobre o Mundo do Crime, traz uma perspectiva profunda e sombria sobre a criminalidade.
O autor, que sobreviveu a anos nos campos de trabalhos forçados na União Soviética, rejeita qualquer romantização do criminoso. Para Chalámov, os bandidos não são heróis ou símbolos de resistência, mas agentes da brutalidade e do caos, profundamente enraizados em um ambiente de violência.
Chalámov argumenta que, longe de representarem justiça ou rebeldia, os criminosos são produtos e perpetuadores de um sistema corrupto. Ele critica a tendência de glorificar figuras que, no fundo, representam a degradação moral e social.
A controvérsia do SNL revela a importância de discutir o papel da mídia na construção de narrativas sobre crime e justiça. Quando programas de grande audiência transformam criminosos em figuras celebradas, reforçam uma cultura que, nas palavras de Chalámov, desumaniza as vítimas e romantiza a violência.
O caso de Mangione é um alerta sobre como o humor e a cultura pop podem, inadvertidamente, alimentar a bandidolatria e desviar o foco de discussões mais profundas sobre os problemas estruturais que levam à criminalidade.
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