Agamenon: O Diário De Um Magro
Foi com grande comichão, quer dizer, emoção que divisamos Gibraltar, a famosa rocha que marca o final do Mediterrâneo. Escalavrados, depois de sermos submetidos aos gulosos caprichos dos marujos turcos, desembarcamos na Espanha e imediatamente embicamos na direção de Sentaemalgo de Churumela, quer dizer, Santiago de Compostela, a cidadela mística da Espanha...O engarrafamento de peregrinos
Foi com grande comichão, quer dizer, emoção que divisamos Gibraltar, a famosa rocha que marca o final do Mediterrâneo. Escalavrados, depois de sermos submetidos aos gulosos caprichos dos marujos turcos, desembarcamos na Espanha e imediatamente embicamos na direção de Sentaemalgo de Churumela, quer dizer, Santiago de Compostela, a cidadela mística da Espanha.
No início da estrada, o engarrafamento de peregrinos era colossal. Ficamos horas atrás de um grupo de socialites brasileiras que procuravam dar um sentido às suas existências vazias e fúteis e resolveram ir a pé do Faubourg Saint-Honoré, em Paris, até a filial da Gucci em Santiago de Compostela. Para aumentar o sofrimento e a expiação da caminhada, as ricaças carregam centenas de sacolas da Prada, Fendi, Versace e Dolce & Gabbana. O Caminho de Santiago é assim, cheio de mistérios. Atravessamos, vales, charnecas, pântanos e desfiladeiros pedregosos. A cada etapa, o peregrino avança em sua viagem interior e começa a se desfazer dos bens materiais, mesmo porque estamos em alta temporada e os preços são escorchantes.
Estava eu perdido nestes pensamentos quando, de repente, surgiu na minha frente uma iluminação feérica. Luzes multicoloridas piscavam intensamente ofuscando a minha visão. A principio, pensei que se tratava de uma visão mística. Uma epifania. Foi então que percebi que era uma filial do McDonalds! E o que é mais incrível: o dono da filial era o escritor Paulo Coelho. Ao me ver naquele estado deplorável, o estado típico daqueles que buscam alcançar a fé, o mago me alimentou espiritualmente com três Big Macs e um milk shake duplo.
Aplacada nossa sede e nossa fome, o Paulo Coelho nos apresentou a conta. Não pagamos porque, desde o inicio de nossa jornada, tomei a decisão dramática de abrir mão de todas as riquezas materiais. Ao longo da peregrinação espiritual, bebíamos apenas as águas dos regatos, fumávamos as ervas do bosque e comíamos os animais silvestres. Mas só os maiores de 18 anos, é claro.
Ao constatar a nossa pobreza franciscana buarque de hollanda, o mago Coelho, irritado com aquele prejuízo inesperado, resolveu nos fazer uma revista aprofundada. Imediatamente, meteu as mãos pelos bolsos da minha calça procurando encontrar “algum”, quando, de repente, seu rosto se iluminou em profundo transe místico. Apesar do meu constrangimento, Coelho revelou a todos os presentes que eu era um espírito superior pois tinha o Terceiro Olho desenvolvido. Tomado pela inveja, Enéas, o meu cunhado esquisitão, abaixou as suas calças para mostrar que também possui poderes acústico-mediúnicos. A Isaura, a minha patroa, não se fez de rogada, e também exibiu a sua olhota mística. Num efeito de histeria coletiva, todos os presentes passaram a exibir, em transe místico, os seus shakras secretos.
Aproveitando aquela exibição generalizada, o Dr. Jacintho Leite Aquino Rêgo aproveitou para fazer uma sessão de psico-proctologia de grupo, que sai muito mais barato. Até aquele momento, eu levava uma vida devassa e irresponsável, atolado no vício e no pecado. Essa devassidão sem fim me levaria direto para o Inferno, sem escalas. Aquela descoberta mística me abriu os olhos para a espiritualidade latente que havia dento de mim. No bom sentido, é claro, de fora para dentro da ânima. Compreendi então que deveria seguir para um mosteiro no Nepal. Lá poderia desenvolver melhor a minha terceira visão. Quando o indivíduo aprende a usar os poderes do seu Terceiro Olho pode obter muitas vantagens: ser promovido no emprego, comprar um carrão importado, namorar louras e, até mesmo, virar jogador de futebol ou pagodeiro.
O engarrafamento de peregrinos
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