Agamenon: Minha Secretaria, Minha Vida
Tirando fora o meu bilau, a vida tem andado muito dura para a minha pessoa. Algumas coisas vão mal, mas em compensação o resto, pelo menos, vai pior. Se tivesse a sorte do Zé Dirceu, que, apesar da crise, garantiu 23 anos e três meses de casa, comida e roupa lavada -- mas continuo vagando pelas ruas em busca de uma côdea de pão para comer e uma gamela de água para beber...Desesperado por um emprego qualquer, tentei uma vaga de Ministro da Cultura, único cargo da administração pública que não exige o ensino básico completo
Tirando fora o meu bilau, a vida tem andado muito dura para a minha pessoa. Algumas coisas vão mal, mas em compensação o resto, pelo menos, vai pior. Se tivesse a sorte do Zé Dirceu, que, apesar da crise, garantiu 23 anos e três meses de casa, comida e roupa lavada — mas continuo vagando pelas ruas em busca de uma côdea de pão para comer e uma gamela de água para beber. Tenho andado tão miserável que só consegui algum qualquer posando para fotos do Sebastião Salgado. O pior é que o consagrado fotógrafo de fama internacional paga uma ninharia. Sebastião me explicou que, se ficar pagando uma grana boa para quem posar para as suas fotos, vão acabar os pobres no mundo e aí ele não vai ter mais quem fotografar. Faz sentido.
Na minha vida, só tenho uma certeza: hoje está bem melhor do que amanhã. Desesperado por um emprego qualquer, tentei uma vaga de ministro da Cultura, único cargo da administração pública que não exige o ensino básico completo. Me dei mal; quando cheguei já tinham fechado o ministério deixando à mingua milhões de cineastas desempregados que na porta faziam uma vaquinha para protestar em Cannes. Na porta, encontrei o Luiz Carlos Barreto, o Barretão. O coronel do cinema brasileiro estava em pranto convulsivo, ao lado da esposa Lucy e do filho Bruno e da filha Cláudia Adão. Eles estão com medo de perder o Bolsa Família.
Agora virou Secretaria – me explicou o zelador do ex-ministério. Na minha situação, qualquer coisa serve – obtemperei ao humilde servidor, já utilizando-me da prosódia Temer.
Mas para conseguir a vaga tinha que ser mulher, negro ou índio. Não sendo mulher do sexo feminino, nem afrodescendente de epiderme escura, não tive a menor dúvida, tirei a roupa e completamente nu, despido e pelado, de tacape na mão, adentrei a repartição determinado a tomar posse no cargo.
Como sempre, cheguei atrasado. A deputada Benedita da Silva tinha chegado na minha frente, reivindicando a vaga. Além de mulher, negra e favelada, a Bené é casada com o avantajado ator Antônio Pitanga e, portanto, conhece em profundidade, extensão e volume toda a problemática da cultura nacional. E eu ali fingindo de índio em nu frontal não era páreo para a Pitanga do Antônio.
Mas o barraco começou de verdade quando o Caetano Veloso, acompanhado de Paulinha e Flora Gil, ocupou o ministério em extinção sentando em cima das verbas. Desisti.
Embiquei na direção do Palácio da Alvorada. A ex-presidenta em exercício ciclístico, Dilma Roskoff, é a única desempregada do Brasil com direito a carro, avião, segurança e assessoria 24 horas. Na porta da mansão ex-presidencial, encontrei o correspondente da imprensa bolivariana, o The New York Times. Junto com ele, os embaixadores do Equador, El Salvador, Venezuela e outras potências internacionais que não consegui entender o nome. No Alvorada, fiquei sabendo que vários ministros dilmistas tinham entrado em quarentena. Vão ficar seis meses isolados recebendo salário integral sem poder entrar em contato com o trabalho, a população e o desemprego. Só pode ser para não espalhar doença, pois, segundo Lenine, o compositor pernambucano, o esquerdismo é a doença infantil do socialismo.
Por outro lado, o governo do Michel Temer vai indo muito bem, obrigado. O líder governista na Câmara é o deputado André Moura do PSC – Partido do Seu Cunha. Moura tem só três processos por corrupção no STF, fora outro, na Justiça comum, por assassinato. Não deixa de ser um avanço.
Veja mais na minha página https://www.facebook.com/agamenonreal/
Agamenon Mendes Pedreira vai ocupar o cofre do Banco do Brasil. Se tiver sobrado alguma coisa.
Desesperado por um emprego qualquer, tentei uma vaga de Ministro da Cultura, único cargo da administração pública que não exige o ensino básico completo
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