Agamenon: A FORÇA DO QUERER
Assim como a Catalunha, resolvi fazer um auto-referendo e, depois de contar o meu voto, decidi me separar do resto do Brasil. Não aguento mais tanta roubalheira e corrupção, para as quais não fui chamado. Estou cansado de carregar o país nas costas, o que tem causado danos irreparáveis à minha coluna (que já foi publicada nos maiores jornais do país e hoje só pode ser lida em blogs obscuros)...
Assim como a Catalunha, resolvi fazer um auto-referendo e, depois de contar o meu voto, decidi me separar do resto do Brasil. Não aguento mais tanta roubalheira e corrupção, para as quais não fui chamado. Estou cansado de carregar o país nas costas, o que tem causado danos irreparáveis à minha coluna (que já foi publicada nos maiores jornais do país e hoje só pode ser lida em blogs obscuros).
Quem sabe, quando me libertar da minha pátria amada, eu consiga sair desse miserê, indigno até de fotos do Sebastião Salgado. Vou entrar para a história por ser o primeiro caso na humanidade de Estado-Pessoa, onde eu, enquanto único cidadão, só terei que prestar contas a mim mesmo. Minha primeira providência será não pagar mais impostos mesmo porque, por também exercer a função de chefe da Receita Federal, farei vista grossa à minha sonegação. Também cometerei uma série de crimes já que, por ser também a polícia, nunca vou me prender mesmo. E se eu for em cana, tudo bem: eu vou ser absolvido no meu personal STF que só terá um juiz togado, no caso, eu mesmo.
Outra providência que vou tomar é arrumar um empréstimo a fundo perdido no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Exclusivo e Solitário) para financiar meus negócios. Como não tenho nenhum negócio e nunca fui um empreendedor nato, usarei essa grana investindo em jogatina, mulheres, champanhe, iates e automóveis caríssimos. Não necessariamente nesta ordem.
Pensando bem, não basta eu me separar do Brasil. O Brasil deveria fazer um plebiscito e separar-se do resto do mundo. É o único jeito. O mundo não entende o Brasil nem os brasileiros se entendem direito. Somos muito complexos, complicados, cheios de manias, neuroses e outros distúrbios psicológicos.
Temos muitas peculiaridades e o mundo morre de inveja de nós, pois somos um país privilegiado. Aqui não tem furacão, não tem terremoto, não tem tsunami, não tem ISIS, não tem Hamas, nem Hezzbolah, não tem atirador maluco, na verdade o problema do Brasil é o tédio. Não tem nada pra se fazer aqui.
O Brasil é muito parecido com a Catalunha: aqui também se fala uma língua muito estranha: a propina. Também temos outras particularidades. Andamos quase pelados na praia, mas, se uma mulher fizer topless, é chamada de piranha. No carnaval é uma fo$%ˆ&*$#delança só, ninguém é de ninguém, mas somos contra a legalização do aborto. Também fumamos maconha, mas somos contra a legalização das drogas. Brasileiro quer fazer regime comendo pizza, organiza parada do Dia de Orgulho Gay, mas não tem vergonha da nossa miséria miserável.
No Brasil, o canudo vem embalado para não conter germes, não pode ter saleiro na mesa para evitar a hipertensão, mas se morre de diarreia porque não tem saneamento básico em 60% das cidades. Na verdade, estou começando a achar que o Brasil não é deste mundo. Devemos ser alienígenas que pertencem a uma outra civilização que não ousa dizer seu nome.
Agamenon Mendes Pedreira fez um plebiscito para separar-se de si mesmo, mas perdeu.
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