A carta do machismo contra Ruy Castro
Ruy Castro foi acusado de machismo pela repórter Marcella Franco. Ele escreveu o seguinte: "Há dias, a colega Marcella Franco confessou-se frustrada por até hoje não ter conseguido biografar Chico Buarque...
Ruy Castro foi acusado de machismo pela repórter Marcella Franco.
Ele escreveu o seguinte:
“Há dias, a colega Marcella Franco confessou-se frustrada por até hoje não ter conseguido biografar Chico Buarque. Especialmente à beira de efemérides, ela disse, escritores batem à porta de seu empresário perguntando: ‘Será que o Chico topa uma biografia?. Falo com propriedade, porque sou uma das muitas que já arriscaram o pedido. A resposta —para mim e para todo mundo— foi sempre a mesma: não. […] Sigamos tentando.
Marcella querida, se você quer tanto biografar Chico Buarque, o que a impede? (…) Entendo a sua vontade de passar semanas com Chico Buarque, ouvindo-o narrar sua fabulosa vida. Mas, supondo que ele topasse recebê-la, isso não a dispensaria de tentar ouvir cerca de outras 200 pessoas a respeito dele. Esse é um número que, em minha opinião, se exige de uma biografia de verdade —um mínimo de 200 fontes. Das quais, para mim, o biografado é apenas uma.”
Hoje, Marcella respondeu:
“Cheguei a Chico Buarque em 2000, quando era repórter da Ilustrada, porque quis escrever um livro sobre sua obra teatral. Entrevistei, como manda a cartilha-Ruy-Castro de literatura, centenas de pessoas envolvidas em suas peças, além do próprio Chico, que ‘topou’ me receber, como você, Ruy, corretamente supôs.
Passamos, portanto, Chico e eu, aquelas tais semanas juntos que você menciona. Mas, sabe, Ruy, acho fundamental pontuar: meu interesse em Chico Buarque nunca foi fútil ou ingênuo como você irresponsavelmente enquadra. Não que eu lhe deva qualquer sorte de satisfação, claro.
Replico, isto, sim, em nome das mulheres que, como eu, são diariamente ridicularizadas por homens como você, que, ao invés de usar de maneira útil o rico espaço público que têm, optam pelo julgamento machista. Ou, se fosse um homem o autor da resenha que tanto lhe incomodou, você também escreveria um bilhete nominal?
Para resumir, Ruy: se eu quero ou quis transar com Chico Buarque, biografá-lo, divulgá-lo ou guardá-lo em uma gaveta, estas são coisas que não lhe dizem respeito. Seu papel é respeitar a mim, ao meu trabalho, e às várias outras escritoras mulheres que já se aventuraram neste gênero literário.”
É a carta do machismo, agora lançada contra Ruy Castro.
Coitado do Ruy.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)