100 anos da morte de Franz Kafka
Quando morreu de tuberculose, no dia 3 de junho de 1924, num sanatório nos arredores de Viena, Franz Kafka, um judeu de Praga, nascido nos derradeiros anos do império Austro-húngaro
Quando morreu de tuberculose, no dia 3 de junho de 1924, num sanatório nos arredores de Viena, Franz Kafka, um judeu de Praga, nascido nos derradeiros anos do império Austro-húngaro, com uma terrível consciência “do horror da vida” deixava publicada uma inquietante novela intitulada A Metamorfose, alguns contos e fragmentos que receberam do público pouco mais que uma fria indiferença.
Por um lado, a qualidade das obras que Kafka publicou em vida —como “O Veredito”, “Na Colônia Penal”, “A Metamorfose”, “Um Médico Rural” e, especialmente, “Um Artista da Fome”— já nos parece mais que suficiente para garantir seu nome na história da literatura. Por outro, sabemos que ele morreu como um ilustre desconhecido: nenhuma dessas obras foi recebida ou celebrada como um trabalho de gênio.
Morto há cem anos, Franz Kafka só se tornou um ícone da literatura mundial porque seu melhor amigo, Max Brod, desrespeitou o pedido do escritor e publicou, após a morte dele, textos inacabados, como “O Castelo” e “O Processo”.
Leitura obrigatória
Por motivos ideológicos e raciais, o regime nacional-socialista da Alemanha baniu e mandou queimar todas as obras do escritor judeu. Assim, ele acabou primeiro ficando mais conhecido no exterior, embora hoje seus livros sejam leitura obrigatória nas escolas alemãs.
Autores como Clarice Lispector e Jorge Luis Borges reconheceram a influência de Kafka, de forma direta ou implícita. O Nobel da Literatura colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) revelou ter sido a leitura de A metamorfose que o inspirou a escrever textos literários.
Kafkiano, kafkaesque, kafkaesk, kafkovský, kafkavari: o termo existe em praticamente todos os idiomas, do português, espanhol, italiano, francês, inglês, alemão ao tcheco, turco, russo, japonês, coreano e outros.
Burocracia
Ainda assim defini-lo precisamente não é tão simples: ele indica algo inexplicavelmente ameaçador, absurdo, bizarro, muitas vezes burocraticamente labiríntico; uma paranoia possivelmente justificada.
Um dos temas centrais do funcionário-escritor Kafka é a burocracia, o confronto com as autoridades e, mais ainda, a sensação de impotência perante elas.
Os sentimentos que Kafka explora poeticamente – de estar perdido, ser só e indefeso num cosmos indiferente – valem tanto para os seres humanos de 100 anos atrás como para os de hoje, independente de contextos culturais ou estruturas políticas. Ele é ao mesmo tempo enigmático e imediatamente compreensível.
Um século após sua morte, Franz Kafka (1883-1924) continua sendo uma fonte inesgotável de fascínio, inspiração e também perplexidade para leitoras e leitores de todo o mundo. Seja pelo aspecto irreal e de pesadelo de seus cenários, pela sensação de ameaça que se percebe em muitas de suas obras, pela presença de formas de humor bastante peculiares em suas histórias ou em função de alguns aspectos de sua vida privada, Kafka, além de ser um “clássico” da literatura, parece ser um de nossos contemporâneos.
No centenário de sua morte, a imagem de Franz Kafka pulula nas redes sociais como meme, assim como uma de suas criações mais icônicas: o inseto em que Gregor Samsa, o protagonista de A metamorfose, acorda uma bela manhã transformado.
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