“Troca de mensagens traz indícios de interferência criminosa na PF”, diz Witzel
Na entrevista a O Antagonista, o governador e ex-juiz Wilson Witzel disse que a expressão “interferência política” não é adequada para descrever o ato em que teria incorrido Jair Bolsonaro, de acordo com os relatos de Sergio Moro ao deixar o governo. “A interferência política...
Na entrevista a O Antagonista, o governador e ex-juiz Wilson Witzel disse que a expressão “interferência política” não é adequada para descrever o ato em que teria incorrido Jair Bolsonaro, de acordo com os relatos de Sergio Moro ao deixar o governo.
“A interferência política pode e deve existir. [Por exemplo:] ‘Qual é a política pública que nós vamos priorizar?’ ‘Nós precisamos que a Polícia Federal priorize a investigação do tráfico de drogas e, para isso, o presidente vai fazer uma interferência política’: ‘Olha, vamos colocar mais meios aqui, vamos colocar mais homens, ou vamos fazer um concurso público, vamos colocar mais orçamento na Polícia Federal’. Então essa é uma interferência política, que faz parte das propostas de governo. O que não pode haver, e o que o ministro Moro relatou, é uma interferência criminosa”, distinguiu.
“Não pode o presidente da República chamar o delegado diretor-geral da PF, para que ele tire um delegado que está numa investigação para colocar outro delegado. Só o fato de fazer isso já atrasa a investigação, porque o delegado que vai começar o trabalho vai começar do zero, ele vai ter que entender tudo que está acontecendo ali, para poder tomar as providências de investigação. Isso é uma interferência criminosa, no mínimo prevaricação, praticar um ato de ofício por interesse pessoal. Isso, no mínimo, é corrupção, sem falar obstrução da Justiça, pode haver também formação de quadrilha… Então todas essas implicações são criminosas”, avaliou Witzel.
“Nisso é que nós precisamos ficar atentos. Eu fiquei preocupado porque o WhatsApp que foi apresentado no Jornal Nacional pelo ministro Moro dizia que uma das razões pelas quais tem que trocar o diretor da PF é porque deputados estariam sendo investigados no inquérito das fake news, então isso é uma intervenção criminosa”, reiterou o governador.
“Eu disse recentemente: não ficou explicado que tipo de interação quer ter o presidente com o delegado da PF quando ele diz que quer relatório de inteligência sobre as ações da PF. Precisa esclarecer isso: que tipo de inteligência é essa que o presidente deseja? Ora, a PF não faz relatório de inteligência. Posso querer saber o seguinte: ‘Quantas investigações sobre tráfico de drogas estão sendo realizadas pela PF?’ ‘Ah, dez.’ ‘Não, era para ter cem.’ ‘Por que não está tendo?’ ‘Ah, porque só tem um delegado.’ ‘Então é preciso ter mais delegado, é preciso integrar mais com as polícias estaduais.’ Isso é administrar, isso é colocar em prática políticas públicas num plano definido de governo”, diferenciou.
“Agora, me preocupa quando o presidente diz que quer ter uma interação com o delegado diretor da PF para saber que tipo de investigação está sendo feita. Ele tem que esclarecer. Por isso que eu disse que não ficou claro. O que ele quer saber? Quem são os investigados? Por que estão sendo investigados? O inquérito é sigiloso. Lá no artigo 20 do Código de Processo Penal se estabelece que todo inquérito deve ter minimamente sigilo na investigação, até para preservar quem está sendo investigado. Porque o inquérito pode ser arquivado e, uma vez arquivado, aquela pessoa que foi investigada, [a polícia] não tem nada contra ela. Por isso o inquérito é e deve ser sigiloso, como está no CPP. Mas isto, infelizmente, não acontece. E o presidente não deixou claro exatamente o que ele quer. Por isso a minha preocupação, por isso aquela troca de mensagens traz indícios de uma interferência que não é política, mas de uma interferência criminosa na atuação da PF”, concluiu o governador.
Assista à íntegra da entrevista: aqui.
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