Todas as vias de Rodrigo Pacheco
Em 2021, Rodrigo Pacheco procurou ser o apaziguador-geral da República. O presidente do Senado buscou contornar as ameaças golpistas do presidente, minimizando suas declarações e afastando sempre qualquer possibilidade de uma medida mais dura contra ele. O perfil o credenciou como um dos possíveis candidatos à Presidência, em 2022...
Em 2021, Rodrigo Pacheco procurou ser o apaziguador-geral da República. O presidente do Senado buscou contornar as ameaças golpistas do presidente, minimizando suas declarações e afastando sempre qualquer possibilidade de uma medida mais dura contra ele.
O perfil o credenciou como um dos possíveis candidatos à Presidência em 2022.
O ano começou para Pacheco em meio à campanha na disputa pelo comando do Senado. O parlamentar que pertencia ao DEM conseguiu obter o apoio de Jair Bolsonaro, do PT e do então presidente da Casa, Davi Alcolumbre.
Pacheco foi eleito para presidência no início de fevereiro, derrotando a candidata do MDB, Simone Tebet. A vitória contou com a ajuda financeira do governo, que liberou mais de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares para turbinar sua candidatura e a de Arthur Lira, na Câmara.
Assim que Pacheco assumiu, o senador Randolfe Rodrigues conseguiu as assinaturas para apresentar um requerimento para a instalação de uma CPI com o objetivo de investigar os crimes do governo federal durante a pandemia.
Na época, os números de casos e mortes subiam diariamente, e o Brasil tinha acabado de assistir ao colapso no sistema de saúde de Manaus, com pessoas morrendo sem oxigênio. Ainda assim, Pacheco defendia que não seria o momento para instalar o colegiado. O presidente do Senado ficou sentado sobre o pedido durante meses.
Em abril, diante da piora constante nos números epidemiológicos, o ministro do STF Luís Roberto Barroso determinou que Pacheco finalmente instalasse o colegiado.
Jair Bolsonaro e seus asseclas passaram a pressionar o Senado para pautar o impeachment de ministros do Supremo. Pacheco descartou a possibilidade.
Em maio, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que vinha dizendo que queria um candidato próprio à Presidência em 2022, começou a sondar Pacheco como alternativa.
Para Kassab, o presidente do Senado seria o nome da terceira via.
Com a aposentadoria do ministro do STF Marco Aurélio Mello, Bolsonaro indicou André Mendonça para ocupar a vaga, em julho. Caberia à CCJ do Senado e, depois, ao plenário da Casa aprovar a escolha.
Davi Alcolumbre, que presidia a comissão, decidiu sentar sobre a indicação por vários meses. Em um primeiro momento, Pacheco garantiu que a CCJ teria independência e prometeu não intervir. Mais tarde, ele viria a ameaçar levar o nome de Mendonça ao plenário, diante da demora. Ao final, Alcolumbre foi vencido e o indicado por Bolsonaro, aprovado tanto na CCJ como no plenário do Senado.
Em paralelo, o governo trabalhava pela expansão do Bolsa Família. A equipe econômica costurou caminhos para custear o benefício, em meio à falta de recursos. Nesse contexto, surgiu a ideia de dar um calote nos precatórios da União para criar espaço fiscal.
Pacheco entrou no jogo para articular uma solução nesse sentido, ao lado de Arthur Lira e de Luiz Fux.
Uma outra ideia do governo seria usar a reforma do Imposto de Renda e a tributação de dividendos para custear o programa. A proposta foi aprovada na Câmara, mas não caminhou no Senado.
Para Pacheco, condicionar a reforma tributária ao Bolsa Família seria uma medida politiqueira.
Depois de um longo namoro, o presidente do Senado se filiou ao PSD, em outubro. Sem mencionar diretamente a disputa eleitoral de 2022, Pacheco defendeu o diálogo contra a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro.
A PEC dos Precatórios foi aprovada na Câmara em novembro, com direito ao pagamento de bilhões em emendas secretas para comprar parlamentares. O Senado chancelou a o prometo de emenda, mas com mudanças no texto.
No final do ano, Pacheco comandou uma votação no Congresso que passou a dar transparência às emendas secretas — mas só daqui para a frente. As emendas que já foram pagas, os critérios usados e os parlamentares que delas se beneficiaram não serão abertos ao melhor detergente que existe: a luz do sol.
Não está descartada a possibilidade de Pacheco vir a ser candidato a vice — aliás, para muitos observadores, a sua candidatura nasceu para isso. Pode ser até na chapa de Lula, veja só. Pacheco é todas as vias.
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