Sul e Sudeste são barreira para aliança entre MDB e Lula
Não foi à toa que o ex-presidente Lula começou pelo Nordeste a caravana em busca de apoios regionais para seu projeto de conquistar um terceiro mandato no Palácio do Planalto. Para viabilizar uma coligação ampla, que lhe garanta mais tempo de televisão, a força da máquina dos municípios e uma fatia maior de recursos do Fundo Eleitoral, Lula precisa do MDB. O partido tem 772 prefeituras e a quinta maior bancada na Câmara. Mas políticos do Sul e Sudeste podem barrar essa aproximação.
Não foi à toa que o ex-presidente Lula começou pelo Nordeste a caravana em busca de apoios regionais para seu projeto de conquistar um terceiro mandato no Palácio do Planalto. Para viabilizar uma coligação ampla, que lhe garanta mais tempo de televisão, a força da máquina dos municípios e uma fatia maior de recursos do Fundo Eleitoral, Lula precisa do MDB. O partido tem 772 prefeituras e a quinta maior bancada na Câmara. Mas políticos do Sul e Sudeste podem barrar essa aproximação.
No último mês, Lula esteve em Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Maranhão. Procurou antigos parceiros, como Roseana Sarney, Garibaldi Alves e Eunício Oliveira e tentou costurar alianças de interesse locais. Mas o MDB não depende de Lula para o sucesso de sua estratégia para 2022. Em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, o ex-presidente enfrentará resistências.
Lula exerce influência política no Nordeste, mas apoiar oficialmente a chapa do petista significa perda de votos em vários estados em que o partido poderá eleger governadores e uma boa bancada no Congresso. Por isso, o MDB hoje aposta na terceira via. O presidente nacional do partido, deputado Baleia Rossi (SP), trabalha com essa perspectiva.
Nomes do próprio MDB, como a senadora Simone Tebet (MS), que encerra o mandato em 2023, estão em destaque. Ela tem se destacado nacionalmente na CPI da Covid, mas em seu estado tem uma adversária considerada forte, a ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina (DEM), que deve concorrer ao Senado. Assim, Tebet pode ser empurrada a uma candidatura ao Planalto, para puxar o partido, ou integrar uma chapa como vice.
Nessa composição, o MDB está aberto a conversas com outros partidos. Líder da resistência a uma aliança com Lula, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diz que o partido precisa construir um projeto que una os interesses regionais em torno de um tema nacional e encontrar um rosto que represente essa bandeira. “Temos duas opções: ou lançamos um candidato que defenda uma causa nacional ou deixamos os estados livres”, diz o ex-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária. O foco, segundo Moreira, são os partidos de centro e uma candidatura moderada. “Não há chance de apoiarmos Lula ou Bolsonaro“, acrescenta.
Nos outros estados do sul, emedebistas não topam também uma aliança com Lula. Em Santa Catarina, o partido está próximo do governador Carlos Moisés (PSL). Ex-bolsonarista, ele é cotado para se filiar ao MDB. No Paraná, a legenda se afastou de Lula desde que o ex-governador Roberto Requião perdeu o comando do MDB para o deputado estadual Antonio Anibelli Neto. Requião saiu reclamando de uma guinada bolsonarista.
São Paulo é o estado de Baleia Rossi e do ex-presidente Michel Temer, um inimigo de petistas que o consideram um dos condutores do impeachment de Dilma Rousseff. No Rio de Janeiro, Lula teve nos dois mandatos um aliado importante, o então governador Sergio Cabral, hoje cumprindo pena por corrupção.
A realidade agora é outra para Lula no estado de Jair Bolsonaro. O partido está sob a presidência do deputado federal Leonardo Picciani. Mas pode ganhar um novo cacique, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, aliado de Baleia Rossi, e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato à Presidência. Também ex-aliado de Lula, o prefeito Eduardo Paes está no PSD, que trabalha pela terceira via na disputa à Presidência.
Em Minas, o MDB está bem distante de Lula. Nos interesses locais, o partido está dividido entre apoiar a reeleição do governador Romeu Zema (Novo), crítico do PT, e a provável candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ao governo. O partido de Kalil, sob o comando de Gilberto Kassab, trabalha para lançar uma terceira via e o nome dos sonhos é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), hoje no DEM.
A história do MDB mostra que, sem um projeto viável nacional, o partido opta pelos interesses regionais. Em 2018, Henrique Meirelles foi o candidato, mas sem apoio de fato nos estados. Obteve 1,2% dos votos. O mesmo ocorreu com Ulysses Guimarães, em 1989. Respeitado no partido e no Congresso, ele terminou a campanha com 4,6% dos votos, mesmo depois de liderar a aprovação da Constituição de 1988. Em 2006, o partido não teve candidato. Entrou na chapa de Dilma em 2010 e 2014, com Temer. Mas PT e MDB se tornaram rivais durante o governo da petista.
Segundo um emedebista, a decisão dependerá do desgaste ou recuperação de Bolsonaro, da evolução da campanha de Lula e dos acordos regionais. “Essa é uma definição para o próximo ano. Depende de muitos fatores“, concorda o presidente do MDB no Rio Grande do Norte, deputado Walter Alves, filho do ex-presidente do Senado Garibaldi Alves, a quem Lula ofereceu uma coligação para a reeleição da governadora do PT, Fátima Bezerra.
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