“Saímos da embaixada do mesmo jeito que entramos”, diz ucraniano em Portugal
O presidente da Associação de Ucranianos de Portugal, Paulo Sadokha, esteve na Embaixada do Brasil em Lisboa nesta sexta, 21, com um grupo de ucranianos para entregar uma carta endereçada ao presidente Lula, que chegou hoje ao país.
O presidente da Associação de Ucranianos de Portugal, Paulo Sadokha, esteve na Embaixada do Brasil em Lisboa nesta sexta, 21, com um grupo de ucranianos para entregar uma carta endereçada ao presidente Lula, que chegou hoje ao país.
Eles foram atendidos pelo secretário-geral da Presidência do Brasil, ministro Márcio Costa Macedo, que se comprometeu a levar o documento a Lula. Os ucranianos, contudo, não ficaram satisfeitos com o que ouviram dos brasileiros.
“O ministro disse que Lula quer dialogar com todos os países que podem intervir neste conflito. Mas, da nossa parte, nós dissemos a ele que infelizmente não acreditamos nessa fórmula. O Vladimir Putin, para nós, é um líder do século passado, e nós lutamos não só pelo nosso país, mas pelo mundo e pelo nosso modo de viver, que é a democracia“, diz Sadokha. “Nós ficamos gratos por eles terem recebido a nossa carta, mas saímos da embaixada do mesmo jeito que entramos.”
Segue um trecho da carta que foi entregue aos ucranianos na Embaixada do Brasil em Lisboa:
“A Federação Russa organizou e está desde o ano de 2014 e mais intensamente a partir de 24 de Fevereiro de 2022, a realizar na Ucrânia um ato contínuo de genocídio contra nação ucraniana e tártaros em todo o território nacional ucraniano com foco no Donbas e na Crimeia, regiões inalienáveis da Ucrânia, além da devastação total e absoluta de todo o nosso território e infraestruturas.”
“Em várias declarações, as lideranças russas, nomeadamente o Presidente Putin, o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill, entre outros, insultaram de nazistas os ucranianos e afirmaram que a Ucrânia, enquanto país, Estado soberano, livre e independente não pode existir.”
“A razão real para Moscou invadir a Ucrânia não é a alegada da defesa dos russófonos que vivem no território ucraniano, pois essa comunidade ucraniana russófona hoje e agora luta dia e noite contra as tropas invasoras russas, lado a lado, integrada nas Forças Armadas Ucranianas e ombro a ombro com representantes de outras nações e etnias ucranianas. O cerne da questão é que Putin não quer ter como vizinhos nenhum país soberano, livre, democrático, independente e não corrupto, porque pode dar ideias e servir de exemplo aos demais povos da Federação Russa para também realizarem mudanças do totalitarismo ou de regime com laivos totalitários para um regime democrático-liberal nos seus próprios países para, finalmente, pertencer ao rol dos países que constituem o mundo livre.”
“Mais do que os outros povos os ucranianos querem a paz justa pois somos nós que pagamos o preço com as nossas próprias vidas, sangue e devastação do nosso país quando nos defendemos das agressões bárbaras de Moscou mas os interesses dos políticos internacionais que optem por negociar com o sanguinário e ditador Vladimir Putin, para eles ganharem vantagens pessoais e sempre à custa do sofrimento dos países invadidos pela Rússia, não é inteligente e não granjeia de todo apoios para que o Brasil consiga conquistar a confiança para um lugar no Conselho de Segurança da ONU além de envergonhar um dos seus países irmãos e com parceria estreita, nomeadamente Portugal.”
“Não queremos ver e ninguém no mundo livre que ver o Brasil manchado como aliado do regime criminoso do Putin, mas as recentes declarações de Vossa Excelência têm-nos preocupado.”
“Sua Excelência o Senhor Presidente sabe muito bem qual o custo da corrupção além das punições que poderão advir daí, assim nas relações internacionais a situação não será muito diferente, há custos e há sanções. Se a intenção de Sua Excelência o Presidente da República é lutar contra a corrupção e pobreza no Brasil, mas negocia com um ditador russo que espalha a corrupção pelo mundo, para não falar da própria Rússia, onde o direito de um cidadão vale zero, qual é a imagem que Vossa Excelência quer transmitir ao seu próprio povo, ou aos seus parceiros estratégicos do mundo livre?”
“Sua Excelência o Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva, que paz justa quer nos propor? A paz dos campos de concentração para o extermínio da nação ucraniana com a solução inodora “Z”? Já passámos por isso e muito mais no século passado quando os nazistas não nos conseguiram exterminar e quando os comunistas organizaram o Holodomor para tentar erradicar o que sobrava de ucranianos. Resistimos e sobrevivemos.”
“Se um dia o Brasil se tornar uma província da China, o Senhor Presidente também falará da importância de paz?”
“Nós, os ucranianos, vamos continuar a lutar pelas nossas vidas, pelas nossas crianças que Putin deporta para a Rússia ao mesmo tempo que executa os seus pais, estamos pois neste momento a enfrentar uma força superior, várias vezes a nossa capacidade e precisamos sim do apoio internacional. Uma questão tornou-se evidente muito clara pois que esta guerra já dividiu o mundo em dois campos, naquele que defende a liberdade, ordem e progresso e naquele que põe os seus interesses ideológicos acima dos interesses da vida humana e do bem comum no mundo e nestas situações não existem neutralidade tal como a brava decisão do Brasil histórico no alinhamento contra o totalitarismo que assolava a Europa ocupada. Os ucranianos não se esquecem dos bravos militares brasileiros que ajudaram a libertar a Europa do jugo totalitário, é pois hora de Vossa Excelência comandar o Brasil na decisão certa alinhada ao mundo livre!”
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